A LUTA
CONTRA AS HERESIAS E OS FALSOS MESTRES
Igreja Batista Novos Tempos
"Cuidado
que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a
tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo
Cristo". Cl 2.8
O ensino
falso perverte a fé cristã e produz divisões dolorosas no meio do povo de Deus.
2 Pe
2.1 Assim como, no meio do povo,
surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os
quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de
renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina
destruição.
2 Pe
2.2 E muitos seguirão as suas
práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade;
2 Pe
2.3 Também, movidos por avareza,
farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há
longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.
Heresia (2 Pe 2:1-3)
As
similaridades entre o segundo capítulo desta epistola e a epístola de Judas são
tão grandes e óbvias, que quase todos os eruditos admitem que um deles copiou
do outro. Alguns creem que Judas copiou de 2 Pedro; mas, a maioria afirma que o
presente capitulo foi tomado por empréstimo da epístola de Judas.
"O
livro de Judas era peça literária conveniente como base, porquanto o autor
sagrado desta epístola desejava mostrar que os falsos profetas, referidos no
A.T., podem ser reputados como progenitores espirituais dos hereges gnósticos
da Ásia Menor; o material da epístola de Judas, que também ataca o gnosticismo,
contém muitas declarações que se adaptam bem a esse tema. Posto que na antiga
dispensação havia profetas falsos, não é de surpreender que encontremos, na
igreja moderna, elementos falsos, que procuram introduzir doutrinas perniciosas
no cristianismo. O capítulo segundo desta epístola é uma exposição sobre a
depravação, a falsidade e a natureza destruidora da heresia gnóstica.
2:1: Mas houve também entre o povo falsos
profetas, como entre vós haverá faltos mestres, os quais introduzirão
encobertamente heresias destruidoras, negando até e Senhor que os resgatou,
trazendo sobre si mesmos repentina destruição.
O sistema
gnóstico era a suposta descrição de um meio de salvação. Pintava o homem como
criatura decaída, necessitada de ajuda para retornar a Deus. Mas o caminho de
retorno era, pelos gnósticos, tido como possível por uma sucessão quase
interminável de seres angelicais secundários, todos eles mediadores de alguma
maneira. Os gnósticos esperavam que, mediante o «conhecimento», os homens
pudessem ser salvos. Mas o conhecimento deles vinha mesclado com o ascetismo,
com a licenciosidade, com as artes mágicas e com os ritos secretos de um
misticismo falso. Este versículo e Cl 1:20 e ss. mostram que quase todos os
gnósticos negavam a doutrina da «expiação» de Cristo como algo que tem valor
para o retorno do homem a Deus. Para eles, Cristo não era um Salvador
todo-suficiente. Ele seria apenas um outro dos «aeons», que contribuiria com os
demais para a salvação do homem. Alguns gnósticos viam em Cristo o mais elevado
dos «aeons» e também o Deus criador deste mundo, havendo, naturalmente, muitos
outros mundos, com outros tantos deuses e salvadores. Mas alguns gnósticos nem
ao menos atribuíam tão elevada posição a Cristo. Eis por que passagens como Jo
1:1-3; Cl 1:15 e ss.; e Ef 1:19 e ss. afirmam tão incisivamente que somente Cristo
é o criador de todos os mundos possíveis. E é também por esse motivo que Cl
1:20 e ss. mostra que Cristo é o único Salvador. E é também por isso que 1 Tm
2:5 declara que há «um só Deus» e também «um só mediador» entre Deus e os
homens. Os gnósticos negavam a ambas essas proposições. Todas as passagens
mencionadas rebatem declarações dos mestres gnósticos. Essa heresia assediou a
igreja cristã pôr cerca de cento e cinqüenta anos.
«...falsos
profetas...» O autor sagrado passa agora a mostrar que não nos devemos
surpreender se falsos mestres surgirem no cristianismo. No antigo Israel também
surgiram falsos profetas entre o povo. Isso subentende que, em qualquer era, a
comunidade religiosa contará com elementos radicais e falsos, destruidores da
fé e do bem-estar espiritual. (Ver Dt 13:1-5; 18:20; Jr 5:31; Ez 13:3 e Lc 6:26
quanto a referências a tais indivíduos, que viveram nos tempos
vetotestamentários). Balaão é especificamente mencionado no décimo quinto
versículo deste capítulo, fazendo paralelo com a referência em Jud. 11. Ele é
um exemplo de profeta falso; e o autor sagrado assevera que haverão muitos
iguais a ele nas igreja do N.T.
«...entre
vós falsos mestres...», a saber, como os gnósticos que provocavam dificuldades
nas igrejas da Ásia Menor. Esses eram «filhos espirituais» dos profetas falsos
do A.T., e eram tão depravados e perniciosos como aqueles. Indiretamente, o
autor sagrado vincula as comunidades religiosas da antiga e da nova
dispensação, dando a entender que a nova é a continuação da antiga. Ora, isso
os gnósticos também negavam. Alguns deles admitiam que vários dos profetas do
A.T. seriam homens «psíquicos», isto é, dotados de espiritualidade secundária,
passíveis de um baixo grau de redenção e glória; mas os gnósticos se imaginavam
os «pneumáticos», isto é, homens espirituais em elevado grau, capazes de
receber a mais elevada redenção, a saber, a reabsorção na própria essência, com
a perda da personalidade, em que o ego se tornava então o superego. Os
«psíquicos» seriam remidos através da «fé», ao passo que os «pneumáticos» o
seriam através do «conhecimento», o que, na concepção dos gnósticos, era
superior à fé. E à maioria dos homens os gnósticos classificavam como
«hílicos», isto é, «terrenos», totalmente incapazes de serem remidos, porquanto
estavam assoberbados pela «matéria», o «princípio do mal», nunca podendo
desvencilhar-se dela, pelo que deveriam perecer juntamente com a matéria, em
meio a grande conflagração.
A passagem
de 1 Tm 1:4 contradiz essas ideias gnósticas, mostrando-nos que a vontade de
Deus é que todos os homens sejam salvos. Daí se infere que todos os homens
podem ser remidos. Pelo que se tem dito aqui, pode-se ver que razões há para
chamar os gnósticos da Ásia Menor de «falsos mestres». Além de seus erros
doutrinários, eles se mostravam ascetas ou libertinos, ou seja, negavam o bom
senso da ética cristã. A variedade gnóstica que perturbava as igrejas da Ásia
Menor era a variedade libertina, conforme este capítulo passa a mostrar.
«...dissimuladamente
heresias destruidoras...» Alguns tradutores preferem dizer aqui
«secretamente»; e outros dizem «em particular». Os métodos de ensino dos
gnósticos eram subversivos. Nunca entravam em uma comunidade declarando em que
criam. Mostravam-se astutos, procurando firmar o pé, antes de dizerem sua
posição. O termo grego «pareisago» indica «trazer secretamente», «trazer
maliciosamente». A metáfora tencionada é a de um «espião» ou «traidor», cujo
propósito é o de prejudicar ou destruir, que oculta o seu verdadeiro intento.
(Comparar com o quarto versículo da epístola de Judas—os falsos mestres «...se
introduziram com dissimulação...», isto é, sem serem percebidos ou temidos da
parte de pessoas simples e inocentes, que confiavam demais nos outros).
«...heresias...»
O vocábulo grego «airesis» vem do verbo que significa «escolher», ou seja,
indica, basicamente, «selecionar uma doutrina ou uma atividade». (Ver At 5:17;
15:5 e 26:5). No grego antigo, essa palavra era usada para indicar qualquer
«seita», como a dos fariseus, a dos saduceus, etc., dando-lhe um sentido em
coisa alguma negativo. Gradualmente, porém, o sentido negativo foi sendo
atribuído ao termo. Ficou assim subentendido que tal «escolha» diferia da
escolha normal dos cristãos. O primeiro uso da palavra, no N.T., descreve
homens «facciosos» na igreja, por razão de busca pessoal de poder e egoísmo.
Muitos existem que possuem credos ortodoxos, mas que, de acordo com o ponto de
vista do N.T., são «hereges». Todos quantos causam divisões, criando
denominações e erigindo para si mesmos pequenos reinos, difamando a outros em
suas prédicas e se envolvendo em «lutas de poder» na igreja ou suas
organizações, de acordo com essa definição, são «heréticos». (Ver 1 Co 11:19 e
Gl 5:20).
No presente
versículo, porém, certamente está também em foco um sentido que essa palavra
adquiriu posteriormente. Os gnósticos ver significado em ebdareiabranca ajuda,
causavam divisões, mas também «preferiam» um sistema doutrinário contrário ao
do cristianismo moral, sendo assim «hereges» no exato sentido em que esse
vocábulo tem na atualidade. Defendiam doutrinas não-ortodoxas, criando uma
mensagem que não era a boa mensagem cristã.
«...destruidoras...»
Essencialmente por causa da vil posição a que reduziam a pessoa e a obra de
Cristo. Para os gnósticos, em sentido algum Cristo era «ímpar», como «o Filho
de Deus», pois seria apenas uma, dentre muitas emanações angelicais ou «aeons»,
um, dentre muitos mediadores e salvadores. A obra de Cristo seria significativa,
mas não sem-par. Evidentemente, não viam valor em sua morte como expiação
definitiva pelo pecado. Imaginavam que a destruição do corpo físico é que os
libertaria do pecado, e de que agora a alma é libertada de seus maus resultados
através de ritos mágicos. Quanto à ética, os gnósticos combatidos nesta
epístola se mostravam totalmente licenciosos. Eles «puniam» o corpo com a
depravação, pois imaginavam que tal ação cooperaria com o desígnio do sistema
do mundo, que visaria destruir eventualmente o corpo, a fim de libertar a alma,
permitindo-lhe o seu vôo para a realidade última. Portanto, suas doutrinas
éticas transtornavam a conduta cristã apropriada, levando os homens para longe
de Deus, e não para perto do Senhor, pois «sem a santificação, ninguém verá a
Deus» (Hb 12:14).
«...renegarem
o Soberano Senhor que os resgatou... » Os gnósticos negavam que Cristo é
«soberano» no sentido afirmado pelo cristianismo normal, fazendo dele apenas um
dos «aeons». Para eles, Cristo não era «Senhor» em qualquer sentido veraz,
porque seria apenas um senhor entre muitos. Mas o trecho de Cl l:15 e ss. expõe
vários pontos da superioridade de Cristo, e essa passagem foi escrita
especificamente para definir o «senhorio» de Cristo, em contraste com a posição
secundária que os gnósticos atribuíam a ele. O termo aqui usado no grego é
«despotes», traduzido aqui por «Senhor». E esse era o vocábulo que os gnósticos
davam ao governante absoluto. Dentro do sistema deles, havia muitos senhores
angelicais, as emanações divinas ou «aeons», muitos dos quais tinham áreas
sobre as quais governavam. E os gnósticos não tinham Cristo como o Senhor dos
anjos, conforme se aprende em Ef 1:19 e ss. e Cl 1:16. Esse vocábulo é usado
por dez vezes no N.T.; por cinco vezes com o sentido de «senhor de uma casa», o
governante absoluto de um clã. Ao referir-se a Deus, indicava Deus como o
dirigente absoluto do universo. (Ver Lc 2:29 e At 2:24 quanto a esse vocábulo
usado para indicar «Deus». Comparar com Cl 2:19 quanto ao fato que os gnósticos
não reputavam Cristo como «o Cabeça»).
«...os
resgatou...» O grego diz aqui «agoradzo», «comprar». (Comparar com 1 Pe
1:18,19, onde se vê que é o «sangue de Cristo» que compra, embora ali tenha
sido usado um termo grego diferente do daqui. Assim sendo, a negação feita
pelos gnósticos tinha algo a ver com a rejeição da expiação de Cristo como
elemento de valor no plano de redenção. Eles pensavam que poderiam livrar-se do
pecado abusando do corpo, promovendo a fuga da alma para o campo da realidade
final, mediante ritos mágicos, conhecimento para os iniciados—um falso
misticismo. Tudo isso, segundo a concepção deles, eliminava a necessidade de
expiação pelo pecado, segundo o N.T., ensina. A maioria dos gnósticos tinham o
ponto de vista «docético» sobre Cristo, isto é, que a sua natureza humana seria
ilusória; sua vida como homem seria apenas um «ato» fingido da parte de um
«aeon» qualquer; e os sofrimentos de Cristo não teriam sido reais, o que
eliminava mais ainda qualquer valor em sua expiação. Essa é a idéia de expiação,
subentendida no presente versículo. Cristo torna os homens propriedades suas,
mediante o valor de seu sangue vertido.
Não
precisamos estender a metáfora a ponto de perguntar «para quem» foi pago o
preço. Alguns têm imaginado que o preço foi pago para «Satanás», e outros
pensam que o foi para «Deus», como que para aplacá-lo e tirar-lhe da mente a
idéia de julgar aos homens. A metáfora usada não precisa ser desenvolvida a
esse ponto; e, se assim o fizermos, cairemos em problemas teológicos. (Ver Hb
10:29; onde são mencionados aqueles que pisavam ao Filho de Deus e profanavam o
sangue do pacto, através do qual tinham sido consagrados).
«...repentina
destruição...» O fim de tais heréticos é a perdição, e não a salvação, embora
totalmente imaginassem que seu sistema, por eles mesmos criado, pudesse
levá-los à salvação. (Comparar isso com Judas 4,15,17). A condenação dos
hereges é certa e terrível, sendo pintada como algo que subitamente lhes
sobrevirá. (Ver Cl 3:6). No presente versículo, mui provavelmente, o autor
pensava sobre a «parousia» como aquele acontecimento que trará súbita perdição
para os hereges; e ele esperava tal acontecimento para seu próprio período de
vida terrena, conforme fica demonstrado no terceiro capítulo desta epístola.
Seja como for, conforme Deus computa o tempo (ver 2 Pe 3:8), esse acontecimento
e a subsequente perdição eterna dos heréticos não podem estar mesmo longe.
«Há um
melancólico humor na advertência que todo aquele que introduz heresias
destruidoras na igreja, traz súbita perdição para si mesmo, 'reservados para o
dia do juízo e destruição dos homens ímpios' (2 Pe 3:7). O jogo de palavras com
o termo grego 'apoleia' (perdição) é intencional e eficaz». (Barnett, in loc).
Se este
versículo não ensina outra coisa, pelo menos ensina que Cristo soluciona, em
favor do crente, o problema de lealdade. Ser alguém cristão é ter a Jesus como
seu Senhor; e ninguém tem a Cristo como seu Salvador se também não o tem como
seu Senhor e vive de modo a ser uma comprovação desse fato.
2:2: E muitos
seguirão as suas dissoluções e por causa deles será blasfemado o caminho da
verdade;
É impossível
alguém salientar em demasia o imperativo moral do evangelho. Ele nos ensina que
a verdadeira santidade, produzida pelo processo santificador, é imprescindível
para a salvação. (Ver 2 Ts 2:13, que declara exatamente isso; e ver 1 Ts 4:3
quanto a «santificação»). Na vida do crente, a santidade deve ser algo mais do
que meramente «forense», ou seja, envolve mais do que o decreto divino que nos
declara santos em Cristo. Também deve tornar-se uma realidade vivida
diariamente. O trecho de Rm 3:21 mostra que o crente deve vir a participar da
própria santidade de Deus. E isso não é mero ideal teológico; é mister que se
torne uma realidade na vida do crente. Por essa razão é que o Senhor Jesus
ordenou-nos ser «santos como é santo vosso Pai celestial» (Mt 5:48). De fato,
não pode haver salvação sem essa santidade. (Ver Hb 12:14). A salvação pode ser
comparada a uma corrente com vários elos. Acha o homem em qualquer lamaçal onde
ele se encontra submerso. Desce até qualquer nível de depravação. É nesse ponto
em que o indivíduo pode começar a confiar em Cristo, experimentando a
conversão. Porém, a corrente de ouro da salvação não nos abandona ali e nem
meramente declara que somos santos, se de fato não o somos. Pelo contrário, o
homem sai da masmorra e segura firme o elo da santificação. Por intermédio
disso ele é levado até à «glorificação», ao elo da corrente de ouro que atinge
a realidade final, aos lugares celestiais (Ef 1:3). Sem esse elo da
santificação interrompe-se a corrente e a salvação não pode tornar-se uma
realidade.
Exatamente
nesse ponto é que os gnósticos tanto falhavam. Transformavam a santidade cristã
em licenciosidade. Imaginavam que toda a forma de depravação corporal ajudaria
a destruir o corpo; e eles pensavam que o corpo físico é a sede do pecado, por
participar da matéria, o princípio pecaminoso, segundo eles pensavam. Daí
supunham tolamente que um homem pode abusar de seu corpo mediante várias depravações,
especialmente de natureza sexual, sem que a alma em nada fosse prejudicada.
Portanto, os gnósticos não entendiam que tanto a alma como o corpo são santos,
e que tanto a primeira como este último serão finalmente remidos (ver 1 Co
15:20,35,40). Portanto, o trecho de Rm 12:1,2 retrata a santidade como algo
obtido mediante a apresentação do «corpo» a Deus, como um sacrifício vivo.
O que
sucedia no sistema gnóstico é que a antiga ética paga veio a ser aceita como
prática oficial, através dessa distorção teológica. O vício e o pecado se
tornaram a prática oficial e aceita, mediante o truque sofista que a depravação
ajuda na destruição do corpo, e que isso é recomendável. Os gnósticos, por
conseguinte, haviam desistido da batalha moral, tendo divorciado a santificação
da inquirição espiritual. (Isso pode ser confrontado com o trecho de 2 Tm 3:6,
que afirma: «Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas
casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de
várias paixões»). Os «falsos mestres» incluíam, em suas doutrinas, que a
licenciosidade sexual é benéfica para o progresso espiritual do indivíduo;
sempre conseguiam encontrar certas mulheres, nas igrejas, dispostas a se
submeterem a toda a forma de atos depravados, tendo aceito a posição gnóstica.
«...será
infamado o caminho da verdade...» Os próprios mestres falsos haveriam de
difamar a ética cristã e sua doutrina de santidade. Mas os de fora,
contemplando a igreja conduzir-se como um bordel, e seus «líderes» agindo como
se fossem os gerentes do mesmo, haveriam de «zombar» do «caminho cristão», e
com razão.
Na epístola
de Judas, a lassidão em questões sexuais (perversão focalizada acima de todas,
neste versículo), é tratada como um correlato de heresia. (Ver Jd 4,6,8,13,18 e
23). Notemos que aqui o grego usa uma forma plural da palavra aqui traduzida
por «práticas libertinas», o que provavelmente indica que os falsos mestres se
ocupavam de grande variedade de depravações sexuais, juntamente com outros
hábitos morais duvidosos. Seus atos eram variados e freqüentemente repetidos.
«...caminho...»A
fé cristã veio a ser conhecida como «o Caminho». (Ver At 9:2; 22:4; 24:14 sobre
isso). O «Caminho» seria ridicularizado por estranhos ao virem que tornava os
homens ainda mais paganizados que antes. Tudo isso negaria o poder de Cristo, o
qual é «...o Caminho...», no dizer de João 14:6, transformando-o em agente de
depravação, e não de santidade. (Isso pode ser confrontado com o trecho de Rm
2:24, onde se vê que Paulo acusou os judeus de fazer Deus ser blasfemado entre
os pagãos, devido à sua conduta, em contradição à doutrina judaica. Comparar
também com 2 Co 6:3, onde Paulo exorta os líderes da igreja a terem cuidado com
sua conduta, para não ser «censurado» o ministério). Se fazemos parte da
igreja, e especialmente se ocupamos posição de liderança, o que fazemos afeta a
avaliação de outras pessoas acerca de Cristo e da fé que ele ensinou. Somos os
únicos representantes de Cristo com que algumas pessoas contam. Eles o julgam,
com a sua fé, por nosso intermédio. De nada adianta dizer: «Não deveria ser
assim». Esse é um fato inegável, que não se pode mudar.
«A
semelhança de Pied Pipers, suas palavras suaves engodam os que buscam o novo
ensinamento, conduzindo os inocentes à lenta mas firme desintegração de suas
mentes, afetos e vontades». (Homrighausen, in loa). Os falsos mestres
transmutam «o Caminho» no «caminho de Balaão» (ver 2 Pe 2:15).
«...verdade...»
Temos aqui o evangelho em sua verdade ética, representado nos escritos e na
predica apostólicos. Provavelmente os gnósticos exageravam e pervertiam a
doutrina cristã (especialmente paulina) da «liberdade» acerca de questões
indiferentes, transformando-a em libertinagem. Desse modo é que eles
«deturpavam» o sentido dos escritos paulinos (ver 2 Pe 3:16). Assim também
Ecumênio descreveu os nicolaitas e os gnósticos como «extremamente profanos em
suas doutrinas e em sua conduta». Clemente de Alexandria fala acerca das «vidas
despudoradas» dos falsos mestres, o que trazia «infâmia» contra o bom nome do
cristianismo.
2:3: também,
movidos pela ganância, e com palavras fingidas, eles faraó de vos negócio; a
condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua destruição não
dormita.
Este
versículo é paralelo a Jd 11 e 16. Os falsos mestres abandonam o juízo correto
e o senso espiritual, em troca da «obtenção» do erro de Balaão, tornando-se
lisonjeadores, a fim de obterem vantagens financeiras. Os falsos mestres, se
utilizam da «religião» para obterem vantagens pecuniárias. Aproveitam-se dos
sentimentos religiosos de outros a fim de promoverem seu próprio
enriquecimento. Jesus repreendeu os líderes religiosos do judaísmo, devido ao
seu hábito de «roubarem» as casas das viúvas. Obtinham as propriedades das
viúvas por meios ilegais, ou então encorajavam-nas a doarem as mesmas ao
templo; e daí, o passo era bem curto, até cair tudo nas mãos deles. (Ver Mt
23:14). Quantos líderes das igrejas evangélicas ortodoxas de nossos dias tiram
proveito dos sentimentos de mulheres idosas e as encorajam a «lembrarem da
igreja» em seus testamentos, assim furtando a família dessas viúvas? Outros se
têm enriquecido através de campanhas de evangelização e de curas, que atraem
muitos milhares de pessoas. Mais de um «evangelista» de nossa época se tem feito
um milionário. Portanto, é possível que pessoas «ortodoxas» se envolvam na
«comercialização» da fé cristã.
Os falsos
mestres tiravam bom proveito de suas «atividades religiosas». Eles anelavam por
satisfazer seus desejos físicos; cobiçavam dinheiro. A acusação de avareza é
lançada contra os falsos mestres mediante os termos «...palavras fictícias...»
O evangelho gnóstico, que parecia tão bom e atrativo, uma vez apanhada a
atenção dos símplices, para os falsos mestres se transformava em um meio de
vida, em uma fonte de ganhar dinheiro ilicitamente. O autor sagrado, pois,
contrasta essa corrupta mensagem com a «verdade» (o evangelho pregado pelos
apóstolos, ver o segundo versículo deste capítulo). Assim, também Paulo falou
sobre homens sinceros em contraste com os que «mercadejam» com a Palavra de
Deus (ver 2 Co 2:17; comparar também com Tg 4:13). Os falsos mestres exploravam
o sexo e as aventuras financeiras. Eram exploradores do corpo das mulheres que
de nada suspeitavam, bem como exploradores financeiros dos discípulos que
conseguiam fazer. Não admira que epístolas como as de Colossenses, 1 e 2
Timóteo, Tito, 2 Pedro, Judas e as três epístolas de João tivessem sido
escritas contra tais homens. É triste a situação quando homens supostamente
espirituais se tornam «comerciantes, e não profetas».
«...para
eles, o juízo lavrado há longo tempo não tarda...» Isso concorda com outras
passagens bíblicas que pintam o pecado como algo que Se acumula, envolvendo uma
condenação necessária, até que o cálice encha e transborde, na forma de um
severo e final julgamento. A acumulação de pecado não pode resultar em
julgamento «tardio». Espumeja e ferve, até que resulta em julgamento.
«O juízo é
representado como algo vivo, desperto e expectante. Desde há muito o juízo deu
início à sua carreira, em sua vereda destruidora; e a sorte dos anjos que
caíram, e o dilúvio e a destruição de Sodoma e Gomorra foram apenas ilustrações
incidentais de seu poder; e desde então não se tem mostrado tardio... “Continua
avançando, forte e vigilante como quando a princípio saltou do peito de Deus, e
não deixará de atingir o alvo que lhe foi apontado desde a antiguidade.
(Salmond e
Lillie).
«O juízo foi
proferido desde a antigüidade no caso de muitos pecadores similares; não é
letra morta, e também sobrevirá prontamente a esses homens».
O autor
sagrado tinha em mente o julgamento que será inaugurado pela «parousia», um
fato que ele não via como distante. Então é que o julgamento será levado à sua
plena fruição (ver o nono versículo). O presente versículo ensina, como o N.T.
o faz por toda a parte, que o «julgamento» terá lugar quando da «parousia» ou
segundo advento de Cristo, e não quando da morte física do individuo. embora,
sem dúvida, algumas formas preliminares de julgamento se verifiquem no «mundo
intermediário», tal como sucede até mesmo neste mundo. O que fica implícito em
1 Pe 4:6, em vinculação com 1 Pe 3:18-20, é que, até ao tempo da «parousia», a
redenção é possível, embora sempre por intermédio de Cristo e da fé nele.
«...não
dorme...» Trata-se o julgamento de algo como que vivo, que tem um desígnio e um
propósito inevitáveis. O termo aqui traduzido por «dorme» é o mesmo aplicado às
virgens imprudentes da parábola de Mt 25:5. No dizer de Strachen, in loc, em Is
5:27 essa palavra «...é usada para indicar os instrumentos da ira de Deus,
utilizados contra aqueles que são culpados de abusos sociais». (Este versículo
pode ser comparado com 1 Tm 6:5, onde a obtenção de dinheiro é vinculada à «impiedade»,
como se a profissão religiosa falsa fosse meio de iniquidade).
A justiça é
inevitável. A demora aparente não é prova de que a justiça foi esquecida neste
mundo. Precisamos postular uma justiça eventual, que trará a retribuição ou o
galardão. É óbvio que isso não ocorre plenamente neste mundo. Contudo,
confiamos em Deus, de que ele trará isso eventualmente. De outro modo, este
mundo seria governado caoticamente. Moralmente falando, deve existir Deus,
porquanto somente a «divindade» pode ter inteligência e poder suficientemente
profundos para saber como julgar e galardoar. Por conseguinte, a imortalidade
também deve ser um fato, pois neste mundo isso não se cumpre. Assim, pois, a
concretização da justiça deve esperar o mundo posterior, e os homens deverão
sobreviver à morte física, a fim de poderem ser julgados. Há uma eterna lei da
colheita, segundo a semeadura, a qual se aplica a todos os homens. (Ver Gl 6:7,8).
Até mesmo os crentes receberão aquilo que tiverem praticado «...por meio do
corpo», no dizer de 2 Co 5:10. Bibliografia R. N. Champlin
Pr. Magel
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