REBELIÃO,

  


                         A LUTA CONTRA A REBELIÃO E A DESAGREGAÇÃO NA IGREJA


A rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti". 1 Sm 15.23
Os princípios de autoridade e submissão ao Todo-Poderoso e aos superiores humanos são os alicerces mais importantes da edificação cristã.
Nm 16.1     Corá, filho de Isar, filho de Coate, filho de Levi, tomou consigo a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben,
Nm 16.2     Levantaram-se perante Moisés com duzentos e cinquenta homens dos filhos de Israel, príncipes da congregação, eleitos por ela, varões de renome,
Nm 16.3     E se ajuntaram contra Moisés e contra Arão e lhes disse­ram: Basta! Pois que toda a con­gregação é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do Senhor?
Nm 16.30  Mas, se o Senhor criar alguma coisa inaudita, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então, conhecereis que estes homens desprezaram o Senhor.

Nm 16.31  E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo deles se fendeu.

Caim, Balaão e Corá

A lição 07 é um alerta para não seguirmos o caminho de Caim, que sentiu ódio contra seu irmão (Gn 4.3-8), nem o exemplo de Balaão, que agiu com ganância, avareza e imoralidade (Nm 22.1-35), nem a rebeldia de Corá, que se insurgiu contra a autoridade de Moisés como seu líder e pastor (Nm 16.1-35). O orgulho (que fez Caim rejeitar a soberania e os planos de Deus), a ganância (que levou ao profeta Balaão se tornar um mercenário), e a rebelião (que levou Corá se tornar um inimigo de Moisés) podem, ainda hoje, destruir muitas pessoas que não se arrependem de males que causam ao reino de Deus.
Caim
O ódio faz o homicida, e nenhum homicida tem parte no Reino de Deus.
"Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do maligno e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas" (1Jo 3.11,12).
Qual a origem da violência no mundo? Que personagem bíblica cometeu o primeiro assassinato da história da humanidade? O que teria motivado tal homicídio? Por mais estranho que pareça, este lastimável episódio foi determinado pelo ódio religioso.
Este fato revela o primeiro conflito entre fé e incredulidade. A raça humana a partir daí dividiu-se, e está dividida até hoje.
Caim não se saíra bem em sua vida espiritual: sua oferta não fora aceita pelo Criador. Ele pouco ou nenhum valor atribuía a forma correta de sacrificar e adorar ao Senhor. O primogênito de Adão não sabia que Deus não se importava tanto com as formalidades e nem com o tipo de oferta, mas considerava principalmente as intenções do coração.
Dominado por súbita explosão de cólera, a despeito das oportunidades que teve de redimir-se e aceitar o caminho da verdadeira adoração, Caim lançou-se covardemente sobre seu próprio irmão e o matou.
Não tem sido essa a atitude do homem decaído em relação a seus semelhantes quando entorpecido de inveja e ódio? Poderiam esses maléficos sentimentos invadir o coração dos membros da família de Deus? "Ai deles !", é a expressão que o apóstolo Judas usou para evidenciar a seriedade do juízo divino contra os que derramam sangue inocente.
O que é mais importante para Deus: as ofertas em si ou as intenções do coração dos ofertantes?
Não são poucos os homens, mulheres, adolescentes e até crianças que, deixando-se contaminar pela inveja e pelo ódio, estão a trilhar o caminho de Caim. Mas, a advertência do apóstolo Judas, não deixa esperar: "Ai deles! Porque entraram pelo caminho de Caim".

O QUE É O CAMINHO DE CAIM

Com o nascimento de seu primogênito, ofereceu Eva um sacrifício de louvor e gratidão a Deus: "Alcancei do Senhor um varão" (Gn 4.1). Ela recebia a criança como prova de que a sua iniqüidade fora perdoada. Talvez até tivesse conjecturado estar ali, em seus braços, aquEle que viria a esmagar a cabeça da serpente.
Como nossa bondosa mãe estava enganada! Aquele bebezinho, cujo nome significava adquirido ou esperado, viria a esmagar não a cabeça da serpente, mas a do próprio irmão.
Tudo começou quando ambos resolveram apresentar as primícias de seu trabalho ao Senhor.
1. A oferta de Caim. Pensam alguns comentaristas que o Senhor rejeitou a oferta de Caim por ter sido esta uma oferenda vegetal e não cruenta como a de Abel. O Senhor, porém, jamais olhou para a espécie de oferta, mas sempre atenta para a qualidade do ofertante (Sl 51.16,17). Além disso, na Festa das Primícias(Celebração israelita, quando eram oferecidos ao Senhor os primeiros grãos colhidos. Reconhecimento público da provisão divina. Comemorada a 16 de nisã (março-abril), mais tarde, passou a ser chamada Pentecostes.), requeria Jeová, dos filhos de Israel, os frutos da terra e não os primogênitos dos animais (Ex 34.22).
Eis o que o Senhor diz a Caim ao ver-lhe descaído o semblante: "Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás" (Gn 4.7). Tivesse Caim subjugado o seu ódio, não somente seria aceita a sua oferta como ele próprio tornar-se-ia aceitável diante de Deus. Mas, agora, ainda que viesse ele a oferecer sacrifícios de sangue, far-se-ia abominável diante do Eterno (Is 66.3).
2. O primeiro homicídio. Já tomado pela inveja e por um ódio incontrolável, Caim matou traiçoeiramente a Abel: "E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou" (Gn 4.8).

O primeiro assassinato teve como cenário o campo que, desde aquela época, vem sendo marcado por violentas e inexplicáveis lutas. Todavia, o motivo para tantas mortes não é propriamente a posse da terra, e sim o ódio que Caim ainda não conseguiu controlar.
Infelizmente, até mesmo por um campo ministerial há obreiros dispostos a matar a seu irmão. Esquecem-se de que a Seara é do Senhor e não deles. Muito cuidado! O sangue de Abel está a clamar aos ouvidos de Deus.
Você odeia a seu irmão? Já não lhe consegue falar benignamente? Dobre os joelhos agora mesmo, a fim de que o Senhor Jesus, através de seu sangue, limpe-lhe o coração de toda a ira. Caso contrário: será marcado para sempre com o estigma do assassino.
3. O caminho de Caim. O caminho de Caim, por conseguinte, é a alternativa gerada pelo desamor, pela incompreensão e pela intolerância. É a inveja que leva ao ódio; é o ódio que induz ao homicídio.


A MARCA DE CAIM

Segundo alguns etimologistas, a palavra assassino provém do vocábulo haxixe. Esta era a erva que os matadores profissionais da antiga China usavam para executar a sua missão. Entorpecidos já pelo estupefaciente, tiravam a vida de seus semelhantes sem ligarem importância alguma aos seus atos.
Assim agiu Caim. Embriagado pelo ódio e tendo por entorpecente a inveja, matou ele a Abel, seu irmão. E, inquirido por Deus, saiu-se com uma evasiva que, ainda hoje, acha-se até mesmos nos lábios de muitos que se dizem servos de Deus.
1. A desculpa de Caim. Foi esta a resposta que Caim deu ao Senhor, quando o Justo Juiz lhe inquiriu acerca de Abel: "Não sei; sou eu guardador do meu irmão?" (Gn 4.9). Em hebraico, a expressão traduzida por guardador - shamer - é bastante significativa; evoca, entre outras coisas, os seguintes substantivos: guarda, protetor, mantenedor e reverenciador. Tudo isso deveria ser Caim em relação a Abel. Mas deste não passava agora de um desalmado algoz.
Você tem protegido a seu irmão? Tem-no ajudado em seus apertos e tribulações? Ou tem-no matado, pouco a pouco, com o seu ódio, inveja e incompreensões? Não se esqueça: você é o guardador de seu irmão. Tal incumbência é pessoal e intransferível.
2. A marca de Caim. De repente, percebe o assassino quão vulnerável tornara-se ao matar a seu irmão. Daquele momento em diante, qualquer pessoa achar-se-ia no direito de vingar o sangue de Abel. A fim de evitar que isso viesse a acontecer, pois a lei do dente por dente e olho por olho não havia sido ainda decretada, o Senhor faz um sinal em Caim para que a sua vida fosse poupada.
Que sinal era este? Não o sabemos. A Bíblia limita-se a descrever: "E pôs o SENHOR um sinal em Caim, para que não o ferisse qualquer que o achasse" (Gn 4.15). Em hebraico, a palavra usada para sinal é oth que, entre outras coisas, denota: marca, indício, estandarte e até milagre. Ali estava a marca do homicida; o indício de que um crime fora praticado; o estandarte do sangue inocente e a mensagem dramática de um Deus que, conquanto vingue os justos, tudo faz por levar o culpado ao arrependimento.
3. O primeiro código penal da história. O sinal que o Senhor Deus imprimiu em Caim funcionou como um admirável e sintético código penal. Todos os que para ele olhassem, conscientizar-se-iam de que nenhum crime haverá de ficar impune diante de Deus.

A CIVILIZAÇÃO DE CAIM

Fugindo da presença do Senhor, imigrou Caim para a região de Node, onde fundou uma cidade a qual deu o nome de seu filho, Enoque. Tinha começo ali, bem ao oriente do Éden, uma civilização que, embora brilhante, seria marcada pela violência e por um materialismo extremado (Gn 4.16-26).
1. Avanço tecnológico. Tubalcaim fez-se notório por dominar a técnica metalúrgica (Gn 4.22). Sem dúvida alguma, foi ele também o primeiro armeiro da história. Logo a seguir, temos o cântico da espada que seria entoado por seu pai, Lameque.
2. O cântico da espada. Certo dia, o bígamo Lameque conclama suas esposas, e recita-lhes um poema que ficaria conhecido como o cântico da espada: "Ada e Zilá, ouvi a minha voz; vós, mulheres de Lameque, escutai o meu dito: porque eu matei um varão, por me ferir, e um jovem, por me pisar. Porque sete vezes Caim será vingado; mas Lameque, setenta vezes sete" (Gn 4.23,24).
Desde Caim o mundo continua o mesmo. A cada assassinato, entoa-se o cântico de Lameque. Haja vista as músicas de rock e funk que incitam os jovens às drogas e à violência. O mandamento divino, porém, é: "Amai-vos uns aos outros".
Só há um caminho para se fugir ao caminho de Caim: Amar ao próximo como a si mesmo. Esta é a Lei e os Profetas. Quem não ama ao semelhante jamais poderá viver como discípulo de Nosso Senhor.
Você ama a seu irmão? Ou está pronto a executá-lo como o fez Caim? Não se deixe levar pela inveja nem pelo ódio. Curve-se diante de Deus, e considere a todos como superiores a si. E você verá como o amor de Deus será derramado em seu coração.
Balaão
"Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça" (2Pe 2.15).
Quem se põe a comercializar as coisas de Deus só terá um prêmio a receber: a maldição eterna no lago de fogo.
Em que consistiu a "iniqüidade de Balaão"? Não era ele um professo adorador de Jeová? Que prêmio seria suficientemente tentador para desviá-lo do Todo-Poderoso e motivá-lo a amaldiçoar os escolhidos de Deus?
Por não poder amaldiçoar a Israel, Balaão tentou corrompê-lo, levando os hebreus a adotarem idéias pagãs, envolverem-se com mulheres moabitas e mergulharem na idolatria e em seus vícios.
Judas em sua epístola advertiu aos crentes a que não caíssem no engodo dos falsos obreiros que, seguindo a doutrina de Balaão, intentavam unir a Igreja de Cristo ao paganismo, conduzindo-a à imoralidade e desonra.
Balaão, o "profeta do erro", legou à posteridade um péssimo exemplo de apostasia, corrupção e mercenarismo. Abdicando da verdade, santidade e justiça, prerrogativas que bem caracterizam os profetas de Deus, cedeu à tentação do sucesso e do lucro material, fazendo Israel envolver-se no culto idólatra dos moabitas e em suas práticas imorais.
Desde então, Balaão passou a ser símbolo dos falsos mestres, que fazem de tudo para desencaminhar e corromper espiritual e moralmente o povo de Deus.
Quem é o apóstata? É aquele que, embora convencido da veracidade das Sagradas Escrituras, não hesita em torcê-la, desde que isso lhe traga ganhos e notoriedade. E como já vendeu a própria alma ao Diabo, não tem nenhum escrúpulo em comerciar com as almas dos santos.
Veremos que prêmio recebeu esse obreiro mercenário, que Judas escolheu para tipificar todos os que desprezam as coisas divinas, e porfiam em buscar as terrenas e perecíveis.
QUEM FOI BALAÃO
Apesar de estrangeiro, possuía Balaão um conhecimento privilegiado de Deus. Era tido inclusive como profeta. Todos lhe procuravam o conselho, pois dominava, e bem, a arte de amaldiçoar (Nm 23.11). Não sabemos se ele sabia abençoar, pois a maldição era a sua ciência predileta. Segundo consta, era originário da Mesopotâmia (Dt 23.4).
Tivera ele buscado a justiça e a piedade, estaria no rol daqueles gentios destacados no Sagrado Livro. Refiro-me a Melquisedeque, a Jó, ao mancebo Eliú e a Jetro. Infelizmente, preferiu ele o prêmio da impiedade. Hoje é lembrado não como profeta de Deus, mas como um mero e cobiçoso adivinho (Js 13.22).

A DOUTRINA DE BALAÃO

O pastor John H. Sailhamer afirmou que Balaão foi à procura de ganhos pessoais não se importando com a destruição da Obra de Deus. Era ele um negociante que não conhecia escrúpulos; não ligava importância quer à ética pessoal, quer à postura ministerial. Era um obreiro que gostava de levar vantagem em tudo.
1. Ele sabia que não se pode amaldiçoar o povo de Deus. Como amaldiçoar a Israel, se Israel era o objeto de todas as bênçãos de Deus? Balaão o sabia muito bem (Nm 24.10). Todavia, preferiu namorar o prêmio de Balaque .
Se tu, obreiro, não queres te corromper como Balaão, foge dos homens corruptos. Se com os corruptos ficares, corrompido tornar-te-ás (2Tm 3.5).

2. Ele sabia que Israel era povo de Deus. Haja vista as profecias que enunciou ao presenciar o arraial hebreu. Leia com atenção o capitulo 24 de Números.
Não são poucos os obreiros e teólogos que, apesar de terem uma clara visão da Igreja como povo de Deus, induzem-na ao mundanismo e à frialdade espiritual, pois somente assim poderão conquistar o prêmio de Balaão. Sabem eles muito bem que jamais poderão corromper uma igreja avivada, por isso lutam por tirar da igreja todo o avivamento. Mas o que eles não sabem é que o Senhor Jesus zela por sua amada, e por sua amada há de batalhar até às últimas consequências.
3. Ele sabia usar a teologia para corromper. Nunca se criou tantas teologias e modismos para se corromper o povo de Deus. É a teologia da prosperidade. É a confissão positiva. É a profissionalização do ministério. É a adoção dos costumes mundanos. É a glorificação da injustiça. E o que mais direi? Sofismando os mais caros enunciados bíblicos e teológicos, os tais obreiros lançam tropeços diante dos filhos de Deus.
Assim agiu Balaão. Como não pudesse amaldiçoar a Israel, tornou Israel objeto da maldição de Deus. O que fez ele? O próprio Cristo discorre sobre as proezas teológicas do profeta mercenário, corrupto e corruptor: "Mas umas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel para que comessem dos sacrifícios da idolatria e se prostituíssem" (Ap 2.14).
Devidamente instruído por ele, Balaque introduziu mulheres pagãs e desavergonhadas no arraial dos israelitas, induzindo-os a comerem comidas sacrificadas aos ídolos e a se prostituírem.
Assim agem os obreiros fraudulentos. Corrompem sutilmente os santos, a fim de lhes roubar os haveres e de lhes arrebatar as almas. O que mais almejam é o prêmio de Balaão.

O PRÊMIO DE BALAÃO

O prêmio de Balaão pode ser definido como o galardão daqueles obreiros que, além de se corromperem, fazem de tudo por corromper a Palavra de Deus e a Igreja de Cristo. Os que assim agem, afirma o comentarista inglês Mattew Henry, em nada diferem dos três mais notáveis criminosos do Antigo Testamento: Caim, Coré e o próprio Balaão.
Acerca destes, brada o apóstolo Judas: "Ai deles! Porque... foram levados pelo engano do prêmio de Balaão" (Jd 11). A expressão engano, no original grego, denota um indivíduo errante e desviado, que jamais conseguirá achar-se. E o substantivo prêmio - misthós - refere-se a uma recompensa, salário ou pagamento. A palavra é usada para descrever o mercenário que, em busca de seu prêmio, torce a Palavra de Deus e deixa-se corromper no ministério cristão.]
É claro que o obreiro é digno de seu salário (Lc 10.7, 2Tm 2.15). Todavia não podemos fazer comércio do povo de Deus (2Pe 2.3), nem agir por torpe ganância (1Tm 3.3). Eis o que recomenda Paulo: "Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade" (Tt 2.7).
A sedução do obreiro começa quando, premido pelas circunstâncias, já não fala o que a igreja precisa ouvir, mas o que determinados grupos querem escutar. Ele já não zela pela sã doutrina; está mais interessado em agradar aos poderosos do que ao Todo-Poderoso.
O obreiro se deixa seduzir quando vende a consciência para angariar os bens que aqui terminam e aqui se acabam. Lembra-te, porém, querido obreiro: não foste chamado para seres um homem do povo, mas um provado e legitimado homem de Deus. Não te deixes corromper pelo ouro de Balaque. Jamais coloques tropeço diante dos santos; os maus obreiros não ficarão impunes. O Deus que agiu no Antigo Testamento continua ativo e vigilante. Ele não tosqueneja.
Como está a nossa consciência? Tentados pelos prêmios deste mundo, respondamos como Daniel diante do oferecimento do corrompido Belsazar: "As tuas dádivas fiquem contigo, e dá os teus presentes a outro" (Dn 4.17).
"Os israelitas, na fase final de sua viagem à Terra Prometida, circundando Moabe, acamparam-se no vale do Jordão, defronte a Jericó. Desse lugar, movimentaram-se rumo ao norte, e conquistaram Seom, rei dos amorreus, em Gileade; e Ogue, rei de Basã. O rei Balaque, de Moabe, ao assistir toda essa movimentação, teve o bom senso para perceber que Israel obtinha suas vitórias não por causa de seus exércitos, mas porque Deus os abençoava, conduzindo-os de triunfo em triunfo. Balaque temia que Moabe fosse a próxima conquista de Israel. Mas os seus temores eram infundados, porque Deus havia instruído a Israel que o deixasse em paz (Dt 2.9). Como Balaque não sabia disso, resolveu lutar contra Israel. Todavia, como vencer o povo de Deus ? Havia somente um jeito. Encontrar alguém que pudesse desviar os favores divinos de Israel. Assim, ordenou que trouxessem do Eufrates a Balaão. Em seguida, exigiu que o profeta amaldiçoasse o arraial hebreu. Através da jumenta, porém, o Senhor advertiu a Balaão que o não fizesse (Nm 22.35).
Embora dissesse ser Yahweh o seu Deus (Nm 22.18), ele demonstrou ser ainda levado por atitudes pagãs. Pois instruiu a Balaque a oferecer vários sacrifícios, em lugares predeterminados, como o faziam os idólatras. O que ele buscava, desde o início, era de fato forçar a Deus a amaldiçoar a Israel. Mas, ao invés de amaldiçoar os israelitas, o Senhor os abençoou ainda mais.
Corá

"Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria" (1Sm 15.23).
De que maneira vocês gostariam de ser lembrados em relação a obra de Deus? Como obreiros diligentes e abençoados ou como tropeços e causadores de dissidências?
Corá, que era levita, não é lembrado por seus préstimos à liturgia do tabernáculo ou ao ensino da lei do Senhor, mas por sua rebeldia contra Moisés e o próprio Deus. Invejoso por Moisés ter sido escolhido por Deus para liderar o povo, Corá pôs-se a criticá-lo e levantou um grupo para apoiar sua revolta, dificultando a liderança do servo de Deus.
Ainda hoje há obreiros que se enveredam pelo caminho de Corá. Eles se esquecem de que Deus não aceita o trabalho de quem é insubmisso aos seus reais representantes.
Corá foi punido por sua rebeldia, e com ele todos os seus seguidores.
O inspirado comentarista norte-americano, Warren Wiersbe, assim discorre acerca da rebelião de Corá, Datã e Abirão: "Os que imitam a Corá estão a desafiar a Palavra de Deus e aos ministros por ele constituído".
Infelizmente, o pecado de Corá não pereceu com Corá. Muitos têm sido os imitadores do rebelado obreiro. Lembra-se de Abimeleque? Do jovem Absalão? E de Alexandre, o latoeiro? Eles todos imitaram a Corá, que era, por seu turno, um perfeito imitador do Diabo.
Vejamos como o apóstolo Judas usa a imagem de Corá a fim de retratar os que se rebelam contra Deus e contra os seus ministros.
QUEM ERA CORÁ
Corá era um obreiro que tinha tudo para dar certo. Pertencia a tribo de Levi; possuía uma subsistência vitalícia e, por todos os seus irmãos, era ele honrado. Além disso, achava-se entre a nobreza de Israel.
Só havia um problema com Corá; não tinha a cabeça no lugar. Assemelhava-se a muitos obreiros que, de ministério em ministério e de convenção em convenção, vivem a causar divisões e cismas na Obra de Deus.
Tivesse ele mais paciência e humildade, receberia certamente uma elevada honra na Casa de Levi. Infelizmente, Corá era um obreiro mui pretensioso; achava que o mundo girava em torno de si.

A CONTRADIÇÃO DE CORÁ

O capitulo 16 de Números revela-nos ter sido Corá um obreiro que era a mesma pretensão. Vejamos até onde chegavam o orgulho, a vaidade e as demandas desse obreiro.

1. Seu orgulho espiritual. Corá era do tipo de obreiro que se orgulhava de ser humilde. Eis o que disse a Moisés: "Demais é já; pois que toda a congregação é santa, todos eles são santos, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do SENHOR?" (Nm 16.3).
Atrás de todo esse vocabulário piedoso, havia um irreprimível espírito de rebeldia. Nas entrelinhas, estava Corá a dizer que, já que toda a congregação era santa, por que precisaria de um pastor?
Lembra-se daqueles crentes de Corinto que, batendo no peito, afirmavam ser apenas de Jesus? São os piores. Pelo menos os que se diziam de Paulo, a Paulo obedeciam; os que diziam ser de Cefas, a Cefas se curvavam. Mas os que afirmavam pertencer apenas a Jesus, implicitamente declaravam que, para eles, não havia pastor, nem presbítero, nem diácono. Não aceitavam nenhum líder. Eles parecem espirituais e até santos, mas os seus frutos mostram que, na verdade, são soberbos, desobediente e rebeldes.
 O inconformismo de Corá. Corá era do tipo de obreiro que jamais se conformou com o cargo que lhe confiara o Senhor. Não lhe bastava o sacerdócio; queria o lugar de Aarão. Aliás, já exigia o posto de Moisés.
Infelizmente, não são poucos os obreiros que vem imitando a Corá. Se diáconos, não se preocupam em servir; cobiçam o presbiterado. Já presbíteros, almejam a cadeira do pastor. Todavia, não servem, nem consolam nem pastoreiam. Buscam uma glória que, definitivamente, de nada lhes aproveita.
Ao pretensioso e inconformado Corá, exorta Moisés: "Porventura, pouco para vós é que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel para vos fazer chegar a si, a administrar o ministério do tabernáculo do SENHOR e estar perante a congregação para ministrar-lhe?" (Nm 16.9).
Do Senhor, querido obreiro, tens recebido as maiores honras e deferências. Por isso, não te deixes levar pelas revoltas. Agradece a Deus pelo ministério que Ele te confiou.

3. A desobediência de Corá. Além de orgulhoso e inconformado, o bando de Corá era desobediente. Quando Moisés convocou a Datã e a Abirão para uma reunião de prestação de contas, responderam eles: "Não subiremos" (Nm 16.13).
Como é difícil lidar com o desobediente! Ele não obedece a ninguém. Prestar contas? Nem pensar. Todavia, o obreiro que tem o hábito de prestar contas à sua convenção, ao seu pastor-presidente, ao seu ministério, à sua igreja e à sua família, jamais cairá em certas contradições e pecados.

4. A contradição de Corá. Diz Judas que Corá pereceu em sua própria contradição. Em grego, antilogía. O vocábulo não significa apenas contradição, mas também controvérsia. Isto significa que Corá vivia para criar controvérsia entre o povo de Deus. E as suas controvérsias acabaram por criar toda uma congregação de rebeldes.

A CONGREGAÇÃO DOS REBELDES

Diz o texto sagrado que Corá e o seu bando congregaram-se contra Moisés (Nm 16.3). Em tudo pareciam uma igreja bem constituída. Achavam-se organizados, possuíam um guia, faziam uso de um vocabulário místico e ostensivamente professavam o nome de Deus. Todavia, não passavam de uma congregação de rebeldes.
Temos de estar bem atentos aos que se congregam para se rebelarem contra a Obra de Deus.

1. O rancho dos profetas. Não são poucos os profetas que se reúnem para jogar a igreja contra o seu pastor e o pastor contra o ministério. Brincando com o nome de Deus e abusando dos dons espirituais, destroem lares e reputações. Parecem ovelhas, mas não passam de lobos; dilapidam o patrimônio dos santos e o tesouro da igreja.
Se você tem algum problema, não saia por aí à cata de profecias. Fale com o seu pastor. Se Deus lhe tem alguma palavra profética, esta certamente virá. Consulte a Bíblia - a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.
Quanto aos que detém o dom profético, que se conscientizem: 1) O dom não lhes pertence, é uma dádiva divina; 2) A direção da igreja não foi confiada aos que receberam os dons espirituais, mas aos que o Senhor confiou os dons ministeriais (Ef 4.8-11); 3) Insurgir-se contra o pastor da igreja e seu ministério significa rebeldia; é um pecado tão grave quanto o de feitiçaria (1Sm 15.23),         Pr. Magel                                                                                                                                                                              

PROFANAÇÃO

                  


               A LUTA CONTRA A PROFANAÇÃO DA CASA DO SENHOR                                               

                                           IGREJA BATISTA NOVOS TEMPOS


"Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal". Ec 5.1  

Verdade Aplicada


A falta de reverência e a mudança de destinação é uma grande profanação da casa do Senhor.



Ez 5.11      Portanto, tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, pois que profanaste o meu santuário com todas as tuas coisas detestá­veis, e com todas as tuas abominações, eu retirarei, sem piedade, os olhos de ti, e não te pouparei.

Sl 89.7       Deus é sobremodo tre­mendo na assembleia dos santos; e temível sobre todos os que o rodeiam.

Sf 3.4         Os seus profetas são le­vianos; homens pérfidos; os seus sacerdotes profanam o santuário e violam a lei.

Jr 7.30       Porque os filhos de Judá fi­zeram o que era mau perante mim, diz o Senhor; puseram os seus ídolos na casa que se chama pelo meu nome.


"Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação" (1 Co 14.26).


Cultuar a Deus é uma obrigação que, em nossa vida, deve traduzir-se em júbilo espiritual.

 Culto: Adoração ou homenagem reverente que se presta a Deus.

 "Quantas lágrimas verti, de profunda comoção, ao mavioso ressoar de teus hinos e cânticos em tua igreja! Aquelas vozes penetravam nos meus ouvidos e destilavam a verdade em meu coração, inflamando-o de doce piedade, enquanto corria meu pranto e eu sentia um grande bem-estar". Estas palavras de Agostinho, o maior teólogo da cristandade ocidental, constrangem-nos a entrar, humilde e amorosamente, nos átrios do culto divino. Já na intimidade do trono da graça, é nos impossível conter as lágrimas ao som dos hinários cristãos. E as intervenções celestes? E a exposição da Palavra? O que vem a ser, todavia, o culto cristão?


O QUE É O CULTO CRISTÃO


Diante do profundo significado da páscoa hebraica, as crianças israelitas indagavam a seus pais: "Que culto é este vosso?" (Êx 12.26). E os pais, adornados com a paciência tão própria dos filhos de Abraão, marravam-lhes os acontecimentos que deram origem à páscoa. Estaremos nós também aparelhados a explicar aos nossos filhos a importância do culto cristão?

1. Definição etimológica. A palavra culto é originária do vocábulo latino "culto", e significa adoração ou homenagem que se presta ao Supremo Ser. No grego, temos duas palavras para culto: "latréia", significando adoração; e: "proskynēo", reverenciar, prestar obediência, render homenagem.


2. Definição teológica. O culto é o momento da adoração que tributamos a Deus; marca o encontro do Supremo Ser com os seus adoradores. Eis porque, durante o seu transcurso, cada membro da congregação deve sentir-se e agir como integrante dessa comunidade de adoração a Igreja de Cristo.



O culto, do grego latréia e proskynēo, é o momento através do qual os filhos de Deus adoram a Deus em espírito e em verdade. Literalmente quer dizer: adorar e reverenciar a Deus.

 OBJETIVOS DO CULTO PUBLICO CRISTÃO



Afirmou o reformador francês João Calvino: "O primeiro fundamento da justiça é, sem dúvida, a adoração a Deus". Justificados pela fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, não podemos fugir à nossa responsabilidade; devemos reunir-nos, periodicamente, a fim de cultuá-Lo, em espírito e verdade.

Vejamos, pois, os objetivos do culto público cristão.

 1. Levar-nos a reconhecer a Deus como o nosso Criador e Mantenedor de tudo quanto existe. Atentemos à convocação do salmista: "Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os moradores da terra. Servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a ele com canto. Sabei que o Senhor é Deus; foi ele, e não nós, que nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto" (Sl 100.1-3).


2. Instigar nos a agradecer a Deus como o nosso Salvador através de Cristo. Assim reconhece o profeta a sua dependência do Redentor: "Eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação" (Hc 3.18).

3. Constranger-nos a nos humilhar diante de Deus como aquEle que, sempre presto, nos perdoa as iniquidades. Deixa-nos o salmista este belo exemplo de ações de graças: "É ele que perdoa todas as tuas iniquidades" (Sl 103.3).


4. Estimular-nos a nos alegrarmos diante de Deus como aquEle que nos cura todas as enfermidades e que nos enche de benignidades. Vejamos como o salmista induz-nos a celebrar o Senhor: "Quem redime a tua vida da perdição e te coroa de benignidade e de misericórdia; quem enche a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a águia" (Sl 103.4,5).

 Os principais objetivos do culto público são: reconhecer a Deus como o Criador e Mantenedor de todas as coisas; instigar à gratidão e à rendição a Deus; proporcionar alegria espiritual.


O CULTO PARTICULAR E DOMÉSTICO A DEUS


Se o culto público é importante, o particular é imprescindível. Se não podemos estar no templo todos os dias, sempre é possível estar ao pé de Cristo, onde quer que estejamos.


1. O que é o culto particular a Deus. É o meio de que dispomos para manter não somente a nossa comunhão com o Salvador, mas para vivermos uma existência repleta de regozijo espiritual. Leia, com muita atenção, a Epístola de Paulo aos Filipenses.

O culto doméstico é, de igual modo, uma devoção particular a Deus.

 2. O culto doméstico. A família que, unida, cultua a Deus, permanecerá unida seja na bonança seja nos temporais que nos ameaçam o frágil barquinho. Não podemos, sob hipótese alguma, desprezar a devoção em família para não fracassarmos como indivíduos. Tem você realizado o culto doméstico com regularidade e constância? Leia, neste momento, o Salmo 128, e veja o retrato de uma família que celebra o nome do Senhor.

Embora não haja uma liturgia prescrita às nossas devoções particulares e domésticas, é conveniente manter os seguintes elementos: oração, jejum, cânticos e leitura da Palavra de Deus com rápidos comentários.


O culto particular a Deus, ou doméstico, é o meio de que o crente dispõe para manter, juntamente com toda a família, comunhão com nosso Senhor Jesus Cristo.


COMPONENTES DO CULTO CRISTÃO



A liturgia da Igreja Primitiva, ao contrário do culto levítico, era simples e pentecostal. Os dons espirituais faziam parte dos serviços, e não se estranhava quando alguém manifestava-se noutras línguas; eram estas interpretadas, exortando, consolando, edificando os fiéis, e descobrindo os corações aos incrédulos.

Em pelo menos três ocasiões, o apóstolo Paulo refere-se aos elementos que acompanhavam o culto da Igreja Primitiva.

1. Aos coríntios. Deixa Paulo bem patente, aos irmãos de Corinto, que os atos litúrgicos devem ser usados para a edificação: "Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação" (1 Co 14.26).



2. Aos colossenses. Já aos colossenses, realça ele os cânticos na adoração cristã: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração" (Cl 3.16 - ARA).

3. Aos efésios. Finalmente aos efésios, mostra o apóstolo que a liturgia é um eficiente meio da graça para enlevar a espiritualidade (Ef 5.18-21).

4. Elementos do culto cristão. Embora não siga necessariamente esta ordem, aqui estão os elementos do culto cristão: doutrina, revelação, línguas estranhas e interpretação, salmos, hinos, cânticos espirituais e ações de graças.

Os elementos que compõem o culto cristão estão expressos em várias passagens do Novo Testamento, entre os quais se destacam: doutrina, revelação, línguas estranhas e interpretação, salmos, hinos, cânticos espirituais e ações de graças.


ATITUDES NO CULTO CRISTÃO

 Com que me apresentarei diante do Senhor? Eis a pergunta que o escritor sacro endereça ao Todo-Poderoso. Vejamos algumas coisas a serem observadas quando entrarmos na Casa de Deus para cultuá-Lo:

 1. Reverência e profundo temor. "Guarda o teu pé, quando entrares na Casa de Deus; e inclina-te mais a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal" (Ec 5.1).

2. Alegria e regozijo. "Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor!" (Sl 122.1).

3. Predisposição e discernimento espirituais. "Acordado, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. E temeu e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus; e esta é a porta dos céus" (Gn 28.16,17).

4. Espírito de oração e súplicas. Aflita, a mãe do profeta Samuel entrou na casa do Senhor e, ali, derramou a sua alma: "Ela [Ana], pois, com amargura de alma, orou ao Senhor e chorou abundantemente" (1 Sm 1.10).

5. Espírito de louvor e cânticos. "Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei lhe o nome" (Sl 100.4).

As principais atitudes do adorador são: reverência e profundo temor, alegria e regozijo, predisposição e discernimento espiritual, espírito de oração, súplicas e de louvor.

CONCLUINDO

 em você cultuado a Deus na beleza de sua santidade, como a Bíblia o requer? Cultuar a Deus não significa, meramente, ir à igreja; significa entrar no santuário divino com ações de graças como o fazia Davi. Não importa onde você esteja; adore a Deus.

"O culto em Três Dimensões Um adjetivo-chave, usado com frequência no Novo Testamento para descrever os atos apropriados de culto é a palavra aceitável. Todo adorador procura ofertar o que seja aceitável. As Escrituras especificam pelo menos três categorias de culto aceitável.

A dimensão externa. Primeiro, a maneira de nos comportarmos com os outros pode refletir o culto. Romanos 14.18 afirma: 'Porque quem nisto serve [latreuo] a Cristo agradável [aceitável] é a Deus'. Qual é a oferta aceitável a Deus? O contexto revela que é ser sensível ao irmão mais fraco (v.13). Tratar companheiros cristãos com a devida sensibilidade é um culto aceitável.

A dimensão interior. Uma segunda categoria de culto envolve comportamento pessoal. Efésios 5.8-10 afirma: 'Andai como filhos da luz (pois o fruto do Espírito está em toda bondade, justiça e verdade), aprovando o que é agradável ao Senhor'. A palavra agradável vem de uma palavra grega que significa 'aceitável'. Nesse contexto, Paulo refere-se à bondade, à justiça e à verdade, dizendo claramente que fazer o bem é um ato aceitável de culto a Deus (1 Tm 2.2,3).

A dimensão superior. O culto afeta todo o relacionamento com Deus. Hebreus 13.15,16 resume maravilhosamente esta dimensão superior [...]".

"Louvor. Em dois mil anos, ainda lutamos pelas palavras certas na oração. Ainda ficamos desajeitados em relação às Escrituras. Não sabemos quando ajoelhar. Não sabemos quando ficar de pé. Não sabemos nem como orar.
O louvor é uma tarefa que intimida.

 Por esta razão, Deus nos deu o livro de Salmos - um livro de louvor para o povo de Deus... Essa coletânea de hinos e orações foi encadeada por um único 'fio' - um coração ansioso por Deus.

Alguns são desafiantes. Outros, reverentes. Alguns deveriam ser cantados. Outros são orações. Alguns são intensamente pessoais. Outros parecem ter sidos escritos como se o mundo inteiro fosse usá-los...


A própria variedade deveria nos lembrar de que o louvor é pessoal. Não existe uma fórmula secreta. Cada um louva de forma diferente.  Pr.Magel

MORNIDÃO ESPIRITUAL


                      A LUTA CONTRA A MORNIDÃO ESPIRITUAL
       
                                                   IGREJA BATISTA NOVOS TEMPOS

 "No zelo, não sejas remissos; sede fervorosos de espírito, ser­vindo ao Senhor". Rm 12.11


 A chama do Evangelho deve ar­der continuamente nos nossos corações, independentemente das situações externas ao nosso redor.


 Ap 3.14      Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:

Ap 3.15      Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!

Ap 3.16      Assim, porque és mor­no, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.

Ap 3.19      Eu repreendo e disci­plino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.

Ap 3.20      Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo.


 A Laodicéia 3:14-22

 A última carta é a mais lamentável, porque a igreja, imediatamente antes do segundo advento de Cristo, estará na fase mais corrompida. Cristo se achará do lado de fora dessa igreja, e não do lado de dentro. Simbolicamente, devemos entender que a igreja que merece somente ser vomitada da boca de Cristo pode ser qualquer igreja, qualquer denominação, qualquer indivíduo que encontrou satisfação em uma coisa que não o Senhor. Por igual modo, a congregação local ou pessoa que apóstata de Cristo, está nessa situação. As pessoas podem seguir o ateísmo ou a heresia nas crenças ou na prática diária. Existem muitos crentes professos que são ateus práticos, porquanto «agem como se Deus não existisse». Em seu credo, afirmam que «Deus existe». Mas em suas vidas asseveram que «Deus não existe». Esses são os filhos espirituais da igreja de Laodicéia. Historicamente, cremos que a igreja em Laodicéia, no fim do século II d.C, provavelmente poupada de qualquer grande perseguição, após ter atingido boa situação financeira, tornou-se uma igreja com o caráter descrito nestes versículos. Profeticamente falando, essa igreja pode representar:

 1. qualquer igreja que, na doutrina ou na prática, não tem a Cristo como Senhor;

 2. mais especificamente ainda, a igreja, como um todo, antes da «parousia» ou segundo advento de Cristo, que será apóstata.

 Cremos que o remanescente fiel de Filadélfia existirá lado a lado com a igreja de Laodicéia. A «sinagoga de Satanás», aludida na carta à igreja de Filadélfia (ver Ap 3:9), pode ser o equivalente à igreja de Laodicéia. Em seu aspecto profético, a igreja laodicense representa mais do que a indiferença ou a frieza espirituais. Representa a apostasia. Nos dias anteriores à volta de Cristo as condições serão péssimas, a tal ponto que, mediante a pessoa do anticristo, a chamada cristandade adorará ao próprio Satanás, o poder espiritual por detrás do anticristo. A verdadeira igreja, porém, composta de crentes de todas as denominações, terá de viver subterraneamente, porquanto haverá a pior perseguição religiosa de todos os tempos. Nós, e certamente os nossos filhos, veremos o cumprimento desses tremendos acontecimentos. Espera-se o cumprimento dessas predições para antes do fim do nosso século XXI.

 A partir da carta à igreja de Tiatira, há elementos nas sete cartas do Apocalipse que falam sobre a natureza da igreja dos últimos dias; mas esta carta à igreja de Laodicéia contém a plena descrição dessa igreja. Profeticamente falando, essa é a principal revelação de que dispomos acerca da natureza da igreja dos tempos do fim. A carta à igreja de Filadélfia descreve a natureza do remanescente daquela igreja, que não se esquecera do seu Senhor, e que recebeu promessas prodigiosas de bem-estar eterno.

«Soren Kierkegaard, que com tanta frequência se mostrou violentamente egoísta, amargo e psicopático, algumas vezes escreveu com singular penetração. Quando ele discutia sobre o fracasso da igreja em tornar real o cristianismo, estava levantando uma questão que os crentes de todos os séculos têm tido de enfrentar. A igreja de Laodicéia perdera o poder de fazer distinções morais e espirituais. Até mesmo quando usava grandes vocábulos, perdera o sentido dos mesmos. E já que ninguém pode gloriar-se com entusiasmo por uma verdade de cuja existência já nem temos mais consciência, os eclesiásticos dessa cidade se achavam na trágica posição de quem tem uma bandeira, mas não um país sobre o qual fazer drapejá-la. Eram, literalmente, cidadãos sem pátria, pois tinham perdido aquela terra do espírito, em que se acha a pátria da alma. O que precisavam era recuperar o lar da alma». (Hough, in loc).

 Cada igreja local de todos os séculos exibe algo de todas as sete igrejas do Apocalipse. Mas a igreja do fim dos tempos, com exceção do remanescente fiel, será dominada pela horrenda condição que havia na igreja de Laodicéia. Não terá coisa alguma do calor espiritual de Êfeso, do destemor de Esmirna, da lealdade ao nome de Cristo e à sua fé de Pérgamo, da fé e das boas obras crescentes de Tiatira, do remanescente imaculado de Sardes e da observância da Palavra e dos labores de Filadélfia.

 «Chegamos agora ao triste e terrível final do testemunho da igreja. O fato de ter sido abandonado o primeiro amor, em Éfeso, resulta agora no abandono do Senhor». (Newell, in loc).

 Podemos estar certos que a igreja de Laodicéia, ao invés de incorporar em si mesma qualquer bem que havia nas demais igrejas, está investida somente de todos os seus males. Não tem amor, pois abandonou seu primeiro amor (maldade em Éfeso). Habita onde está o trono de Satanás, tendo sido apanhada na imoralidade de Balaão (como sucedia em Pérgamo). Tolera e entroniza a Jezabel, por ser abertamente maligna e entregue ao paganismo (como se via em Tiatira). Poderá ter nome de ser uma igreja viva, mas na realidade está morta (como em Sardes). Não compartilha das características do remanescente fiel de Filadélfia, mas antes, na realidade, é a «sinagoga de Satanás», que perseguia aos fiéis crentes filadelfianos. Mostra-se distintamente miserável, pobre, cega e nua. Esqueceu-se da fonte de águas vivas. Haverá algum vencedor nessa igreja?



3:14    Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o principio da criação de Deus:


«...anjo...» Não aponta isso para o pastor humano da igreja, e, sim, ao seu guardião angelical. As «sete estrelas» são os «sete anjos», conforme somos informados em Ap 1:20. O tema dos «anjos» deveria melhorar nossa estimativa sobre o que está envolvido no ministério angelical. Bem provavelmente muitas das manifestações de dons espirituais são angelicamente mediadas. (Ver Hb 1:14 sobre o ministério dos anjos).

«...igreja...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a «igreja», ver Ef 3:10 dando um click aqui).

 «...Laodicéia...» Essa era uma cidade da província romana da Ásia Menor, na parte ocidental da moderna Turquia Asiática. No século III A.C., foi fundada uma cidade no local, por Selêucida Antíoco II, quando então recebeu nome baseado no nome próprio de sua esposa, «Laodice». Nos tempos romanos, sua posição geográfica favorecia seu desenvolvimento e prosperidade. Jazia na importante intersecção de estradas principais da Ásia Menor, que de Laodicéia ia para o ocidente, até aos portos de Mileto e Éfeso, cerca de cento e sessenta quilômetros de distância. Para o oriente, essa mesma estrada conduzia ao planalto central, e, dali, até à Síria. Uma outra estrada, que atravessava Laodicéia, corria para o norte, para a capital principal, Pérgamo, e também para o sul, até às costas de Ataléia. Essas estradas encorajavam o comércio em Laodicéia, que se tornou um centro bancário e comercial. Várias indústrias surgiram ali, como a da lã, a de tabletes medicinais e a de fabrico de roupas. Após os tempos neotestamentários, aumentou mais ainda a prosperidade material de Laodicéia. Até mesmo durante os dias da república, e nos dias dos primeiros imperadores, já era uma das mais importantes e florescentes cidades da Ásia Menor. Laodicéia, na qualidade de cidade-mãe, veio a incorporar uma área onde havia nada menos de vinte e cinco aldeias, de tal modo que era uma autêntica «metrópole», conforme é chamada em inscrições daquele lugar, que sobreviveram até nós.

 A cidade estava sujeita a constantes terremotos, o que, eventualmente, forçou o seu abandono. Atualmente é um lugar desértico, 'mas muitas ruínas testificam sobre sua antiga grandeza. A arqueologia tem conseguido recuperar uma pista de corridas, três teatros (um dos quais tem cento e trinta e seis metros de diâmetro), além de numerosos outros itens.

O trecho de Cl 4:15,16 mostra-nos que, nos tempos de Paulo, Laodicéia já contava com uma comunidade cristã. Poderia ter sido iniciada mediante o trabalho de evangelistas enviados de Éfeso, a capital cristã daquela região, talvez um trabalho patrocinado pela igreja de Colossos. Alguns estudiosos têm pensado que a epístola chamada aos Efésios, na realidade foi a carta mencionada naqueles versículos da epístola aos Colossenses; mas essa teoria não tem muita coisa que a recomende.



Já que Laodice era um comum nome feminino, nos tempos do N.T., seis cidades receberam tal nome, no período helenista. Por essa razão, a Laodicéia de nosso texto era chamada de Laodicéia do Lico, isto é, do rio Lico, conforme assevera Estrabão (578). Ficava localizada na margem sul desse rio, a dez quilômetros ao sul de Hierápolis e a dezesseis quilômetros a oeste de Colossos.

 Existe uma epístola apócrifa de Paulo aos laodicenses, que aparece neste comentário, no fim da exposição sobre a epístola aos Colossenses.

 «...escreve...» A ordem de «escrever», frequente neste livro de Apocalipse (que no grego significa «revelação»), faz deste livro exatamente isso (ver Ap 1:11,18; 2:1,8,12; 3:1,7,12,14; 14,13; 10:9 e 21:5). Seu intuito não era ser um «livro selado», conforme foram vários outros apocalipses. Somente no caso do julgamento dos trovões é que ao autor sagrado foi ordenado «Não escrevas», porquanto aqueles juízos foram selados para uma revelação a ser dada no fim dos tempos. (Ver Ap 10: acerca disso).

 «...estas cousas...», isto é, a carta de Laodicéia, que se segue:

 «...diz o Amém...» Em cada uma das sete cartas do Apocalipse, Cristo recebe um título e descrições diferentes; e, em cada caso, esses elementos se aplicam especialmente à igreja que está sendo endereçada. Assim, no caso da igreja em Éfeso, Cristo é visto a andar entre as igrejas, pois sua presença e poder foram especialmente fortes na era apostólica. No caso da igreja dos mártires, Esmirna, Cristo se caracteriza como aquele que morreu, mas está vivo para sempre. No caso da corrupta igreja de Pérgamo, Cristo mostra-se como aquele que tem a espada aguda de dois gumes, com a qual promete julgamento. No caso da igreja de Filadélfia, aquele com uma «porta aberta de serviço», Cristo é visto a brandir as «chaves de Davi», que ele pode usar com toda a autoridade, para qualquer propósito que queira, especialmente para a admissão no reino de Deus. Assim também no caso presente, da igreja apóstata de Laodicéia, Cristo continua sendo o «Amém». Ele continua a ser a sua própria confirmação, a prova de seu próprio ministério e de sua pessoa, embora os membros da igreja laodicense o tivessem abandonado. Cristo continua sendo uma «testemunha fiel e verdadeira», apesar de terem rejeitado o seu testemunho e de se terem mostrado infiéis à sua causa. Cristo continua sendo o «princípio», a «causa primária», tanto da criação física quanto da criação espiritual, a despeito do fato que os crentes de Laodicéia não reivindicassem à vida eterna, por intermédio dele, não o considerando mais como o Alfa e o Ômega.

 «...Amém...» É possível que isso seja um eco do trecho de Is 65:16, onde Deus é chamado de «...Deus, que dirá amém...». O autor sagrado não hesita, em lugar nenhum do Apocalipse, de dar a Cristo toda a honra atribuída, nas páginas do A.T., a Deus Pai. Isso é prova insofismável de sua divindade. Em todo o N.T., a única ocorrência da palavra Amém, como nome próprio, se verifica aqui. (Ver Jo 1:51, quanto ao seu uso como confirmação ou imperativo). Essa palavra pode ser uma afirmação: «É assim». Ou pode ser um imperativo: «Assim seja!» Desenvolveu-se na prática litúrgica judaica, e era vocábulo usado nos cultos de adoração como afirmação de fé na validade ou veracidade da mensagem que era lida ou proferida. Em face do que se diz neste parágrafo, consideremos os pontos seguintes:

 Ao usar o termo «Amém», Cristo afirmou:

 1. A validade da mensagem cristã, a qual é a Palavra de Deus para os homens. Ele mesmo é o tema central dessa mensagem.

 2. Cristo é a afirmação da boa vontade de Deus para com os homens.

 3. Cristo é o meio divino que confere aos homens as bênçãos motivadas por essa boa vontade; é o mediador entre Deus e o homem, e quem justifica o homem perante Deus.

4. Cristo é o «Amém» na qualidade de verdade de Deus, como aquele que transmite essa verdade aos homens.

5. O «Amém» é a garantia dada por Deus aos homens de que ele se importa com eles; o «Amém» é a expressão divina de amor.

6. O «Amém» confirma a validade do pacto de Deus, sendo o seu promulgador.

7. O «Amém» de Deus faz contraste com a corrupção contra a verdade, por parte de indivíduos como os laodicenses, que tinham esquecido a Palavra de Deus, passando a ter como seus deuses o dinheiro e o próprio «eu». O testemunho de Cristo é sempre veraz e afirmativo, sem importar os desvios dos homens.

«...a testemunha fiel e verdadeira...» A sua mensagem é veraz; o seu serviço é completo, sem quaisquer falhas. Ele não retém coisa alguma, e tudo quanto ele afirma é tanto veraz por si mesmo como concorda com as exigências divinas sobre aquilo que deveria ser dito aos homens. Isso pode ser contrastado com a infidelidade dos homens, com a sua falsidade, conforme se via na igreja de Laodicéia. Jesus, o Cristo, não retém coisa alguma proveitosa, nem poupa palavra de advertência ou consolo, agindo sempre exatamente conforme é exigido pelo momento. Em Cristo é que encontramos tudo de que precisamos, pois aquilo que Deus diz aos homens, di-lo por meio de Cristo.

 O termo grego aqui traduzido por testemunha, também pode significar «mártir», embora seu significado original fosse, realmente, «testemunha». O presente texto não parece indicar a ideia de «mártir». «Testemunha», porém, é palavra que se coaduna com as exigências do contexto. É mister que uma testemunha seja inerentemente veraz e fiel, cumprindo sua missão segundo essas qualidades pessoais. Uma testemunha de nada vale, se não disser a verdade. A igreja de Laodicéia projetou no mundo a imagem da falsidade. Em contraste com ela, figurava a pessoa de Cristo, o verdadeiro. A igreja da apostasia, no fim dos tempos, será uma igreja falsa, que negará ao verdadeiro Cristo. Aceitará o anticristo e dará crédito à mentira. O anticristo será uma «testemunha falsa». Na introdução ao comentário, no artigo intitulado A Tradição Profética e a Nossa Era, é descrito o anticristo, o qual, segundo cremos, surgirá no palco mundial antes do fim do nosso século XXI. Quando a sua falsidade e malignidade forem desmascaradas, então os homens se lembrarão de novo da Testemunha fiel e verdadeira, Cristo.

 Uma testemunha precisa ter as seguintes qualidades: 1. Ser inerentemente veraz, genuína e sincera. 2. Estar segura de sua mensagem: se possível, deve ser testemunha ocular daquilo sobre o que testifica. 3. Deve ser competente para entregar a sua mensagem, convencendo aos ouvintes da realidade daquilo que diz. 4. Estar disposto a entregar sua mensagem, mostrando-se zelosa no cumprimento da sua missão.


«...o princípio da criação de Deus...» Essas palavras podem ser confrontadas com a passagem de Cl 1:18. Naquele versículo, Cristo é chamado de «princípio», como a sua nona superioridade, acima de todos os outros seres, dentre uma lista de doze superioridades. Acerca disso, consideremos ainda os pontos abaixo:

 1. Nessa expressão não há qualquer ideia que Cristo foi o «primeiro» dos seres criados. Isso é contrário a toda a cristologia do N.T. Aquele que é o Criador não pode, sob hipótese nenhuma, fazer parte da criação. Cristo é o Criador (ver Cl 1:16), distinto da sua criação. Cristo é «eterno» (ver Jo 1:1 e Hb 7:3), pelo que não teve «começo» dentro do tempo.

 2. A palavra grega aqui usada, «arche» («princípio»), pode ter a ideia de «originador», ou seja, o «iniciador» da criação divina. Esse é o uso que se acha no evangelho de Nicodemos xviii.12, onde Satanás é chamado de «começo do pecado», o que, sem dúvida, significa o «originador do pecado», ou «iniciador do pecado».

3. Cristo é o «iniciador tanto da criação física como da criação espiritual, da antiga e da nova ordens. Ele é a fonte originária de toda a vida, física e espiritual, e, portanto, é o seu «princípio».

 4. Cristo é igualmente a causa primária, da qual todas as demais causas dependem. A filosofia grega utiliza o termo «arche» com esse sentido. Em Jos. C. Apo. 2,190, Deus é chamado de «arche» ou «primeira causa». A «causa primária» é a «fonte» de toda a criação, de todos os seres, de toda a existência.

 5. Espiritualmente falando, Cristo, na qualidade de Pioneiro do Caminho (além de ser o próprio «Caminho»), foi o primeiro a mostrar como a «vida espiritual» é transmitida aos homens. Isso significa que ele foi o primeiro homem a possuir tal forma de vida, da qual, então, compartilha com seus remidos. (Ver Jo 5:25,26 e 6:57). Isso também envolve um sentido escatológico: na nova criação, Cristo produzirá a nova criação, porquanto ele é o primeiro exemplar daquilo que Deus tenciona fazer com os homens.

 6. Alguns intérpretes fazem conexão do que aqui é dito com o trecho de Ap 1:5 (trecho paralelo a Cl 1:18: «...primogênito dentre os mortos...»); e, nesse caso, Cristo é encarado como o primeiro ser da nova criação, que vem à luz mediante a ressurreição.



7. Dentre esses vários significados possíveis, o de número dois é o mais provável. Entretanto, isso não exclui várias das outras ideias. Cristo é o originador absoluto da criação, do que se conclui que ele também é o originador da «criação espiritual».

A lição ensinada aqui é que Cristo é o Alfa de toda a criação, sua fonte de vida, bondade e bem-estar. Os membros da igreja de Laodicéia ignoravam tudo isso, colocando no lugar dele, como fonte de satisfação, ao dinheiro e ao próprio «eu». O trecho de Cl 1:16 ensina que Cristo é o Alfa e o Ômega da criação, a sua causa «primária» e também final. Isso, de acordo com a linguagem aristotélica, quer dizer a «fonte» e o «alvo» da criação.


Dentro do contexto da epístola aos Colossenses, Cristo aparece como o «arche», em contraste com os «archai», ou seja, em contraste com os mediadores e poderes angelicais. Somente ele pode servir de mediador entre Deus e nós, ainda que outros «poderes» sejam seus servos, recebendo dele uma autoridade delegada.

Outras ideias sobre este décimo quarto versículo:

 1. Este versículo indica a familiaridade do vidente João com a epístola aos Colossenses.

2. Quando os homens perdem de vista a Cristo, como Fonte de tudo, abandonam o manancial de todas as bênçãos espirituais. Algum dia todos os homens terão de reconhecê-lo naquilo que ele é, conforme se sabe no primeiro capitulo da epístola aos Efésios e em Fp 2:8 e ss.; e isso servirá de imenso benefício para todos.

 3. A autoridade suprema de Cristo é evidente neste versículo. (Pode-se comparar isso com Ap 1:18; 2:8; 3:21 e 5:13). Notemos que ele usa essa autoridade em favor do bem, e não em favor do mal, para curar, e não para destruir.

4. O titulo «Amém» mostra Cristo como a «Verdade» de Deus. Cristo é a Verdade personificada.


5. Deus não se deixou ficar sem uma «Testemunha». Na qualidade de testemunha de Deus, Cristo implica no «teísmo» essencial. Em outras palavras, Deus não somente criou mas também se faz «presente» em sua criação, mantendo «interesse» pela mesma, julgando e recompensando, intervindo e guiando. Isso nega o «deísmo», a doutrina oposta, que diz que Deus ou algum outro Poder criou, mas abandonou sua criação, deixando-a entregue às «leis naturais».

6. Todas as coisas, eventualmente, haverão de «centralizar-se» em torno de Cristo, de tal maneira que ele venha a ser «tudo para todos», conforme se aprende no primeiro capítulo da epístola aos Efésios, sobretudo em seus versículos dez e vinte e três. Portanto, ele é o «ômega» da criação. O presente versículo revela-nos que Cristo é o «Alfa» da criação. (Isso pode ser comparado com Ap 1:8, que declara: «Eu sou o Alfa e o ômega, diz o Senhor Deus...» Ver também Ap 22:13).

7. «O Primeiro Progenitor, Produtor e Causa Eficiente de toda criatura; o Autor da antiga criação, que fez tudo do nada, no começo do tempo; e também da nova criação, o Pai eterno de tudo quanto é feito nova criatura; o Pai do mundo vindouro, ou da nova era...» (John Gill, in loc).

8. As palavras de um hino egípcio dizem: «Ele é o primeiro, e existia quando nada ainda existia; qualquer coisa que existe, ele o fez após ele existir. Ele é o Pai dos Começos... Deus é a verdade, ele vive pela Verdade, ele vive na verdade, ele é o rei da verdade».


3:15    Conheço as tuas obras, que nem es frio nem quente, oxalá foras frio ou quente!

«...Conheço as tuas obras...» Em outras palavras: «Conheço tuas condições espirituais em geral».

«...Conheço as tuas obras...» Consideremos aqui os pontos seguintes:

1. É salientada assim a onisciência de Cristo. Essa declaração é reiterada no caso de todas as sete igrejas.

2. O interesse de Cristo por sua igreja é focalizado, porque ele «conhece» as suas condições, a fim de louvar ou de repreender à mesma, tudo o que visa produzir modificações espirituais favoráveis.

3. As «obras» que Jesus «conhece» representam as «condições espirituais em geral» da igreja, e não apenas aquilo que chamamos de «serviço ativo». Portanto, a palavra «obra» neste caso, indica o «caráter geral», a natureza da pessoa que age, mas também aquilo que ela faz. Equivale à expressão vetotestamentária «temor do Senhor», expressão usada a fim de exprimir as condições «espirituais em geral» daquele que professava tentar agradar a Deus, reconhecendo o seu senhorio. O termo geral, «obra» é desdobrado, neste mesmo versículo, para que tenha os seguintes significados:

a. Labor (serviço ativo, prestado sob pressão).

b. Paciência (resistência nesse labor, e sob as perseguições).

c. Ódio e oposição ao mal e aos atos malignos, de homens que pervertem o evangelho e promovem a impiedade em nome de Cristo.

d. Cristo, que é o Senhor, vê através de todos os disfarces e pretensões, apresentando autêntica avaliação da condição de cada indivíduo, bem como a condição geral de cada assembleia local.



Ele não vê o que «esperamos ser», nem o que «temos feito», nem o que «pensamos que podemos fazer», e, sim, as nossas condições reais, o nosso caráter. O seu poder, que «tudo vê e tudo sabe», é, ao mesmo tempo, uma ameaça e um conforto. É uma ameaça aos hipócritas e pretenciosos; é uma ameaça para aqueles que brincam com a fé religiosa. Mas é um conforto aos fiéis, que são perseguidos e desprezados por outros, dentro ou fora da igreja. Isso nos promete uma recompensa justa, bem como a contínua ajuda para a concretização dos ideais espirituais do cristianismo.

«Nossas tristezas, que talvez não possamos relatar, nossas tribulações, que ninguém mais conhece, nossas dificuldades, nossas tribulações, os ais e as dores que jazem ocultas em nossas almas, nossas fraquezas e nossas lutas íntimas, nossos temores e dúvidas ocultos, nossa honestidade quanto a coisas que outros censuram e criticam, nossos verdadeiros motivos e esforços, que os outros não entendem, tudo é conhecido por nosso amoroso Salvador, o qual pode ser tocado com o senso de nossa debilidade, ordenando-nos que tenhamos bom ânimo, porque a sua graça nos será suficiente». (Seiss, in loc).

«...nem és frio nem quente... » Somos informados que Laodicéia não tinha suprimento de água próprio, mas que tinha de ser servida por um aqueduto. Nesse processo, a água chegava morna. Os laodicenses se assemelhavam à sua água. O simbolismo fala sobre a indiferença «religiosa», sobre a superficialidade, sobre a falta de resolução.

Os significados da Mornidão Espiritual:

1. Historicamente, supomos que uma das coisas nisso envolvida era a recusa da igreja de abandonar abertamente o culto ao imperador, em que os imperadores romanos eram adorados como deuses. Adoravam ao imperador, ao mesmo tempo que diziam tratar-se apenas de uma formalidade, não o fazendo de coração. Dessa maneira, pois, evitavam a perseguição e participavam amplamente das riquezas da cidade. Paralelamente a tudo isso, procuravam manter uma «igreja cristã». Não eram quentes e nem frios, mas uma espécie de igreja cristã-pagã.

2. Profeticamente, cremos que a mesma coisa ocorrerá de novo. O anticristo exigirá a lealdade dos homens, e até mesmo a adoração da parte deles. Alguns elementos anuirão às suas exigências, e apesar disso se chamarão cristãos. Uma forma grandemente pervertida de cristianismo emergirá dessa situação; e o próprio Satanás, indiretamente, tornar-se-á o deus da «igreja», onde será adorado. O vidente João queria que não houvesse transigências ante o «culto ao imperador», e nem concessões ao mesmo. Aqueles que tentam uma posição «equidistante», através das pressões e perseguições que passarem, são detestáveis, causadores de náusea, semelhantes à água morna. Tal atitude deve ser totalmente rejeitada, e os que assim agem serão vomitados, por assim dizer, tão forte será a reação da verdadeira piedade e a lealdade cristã, em tal situação.



3. Essa ideia também se aplica a qualquer crente individual ou igreja que realmente não se tenha decidido a ser antipagã em seus costumes. São apenas e tão-somente «meio-crentes», nunca conseguindo qualquer avanço espiritual firme e permanente. Tais cristãos não são «frios» à mensagem cristã, isto é, não a rejeitam total e obviamente. Mas também não são «quentes», pois não agem decisivamente, de acordo com a mensagem cristã. Facilmente são impelidos por um sermão ou lição. Mas nunca aplicam, realmente, a mensagem a si mesmos.

4. A «mornidão» deles se deve ao fato que sua fonte de satisfação e razão de vida está fora de Cristo, embora não se disponham a rejeitar a Cristo aberta, abrupta e decisivamente. De acordo com o sistema deles, Cristo não solucionou todos os problemas de lealdade. A questão sobre a quem ou a que devem consagrar suas vidas e energias, é deixada em aberto.

5. No caso de alguns, a mornidão não significa que não sejam culpados de pecados abertos e grandes, como o caso dos nicolaítas, dos seguidores de Baal, etc, mas também não são conhecidos por uma ação positiva e dedicada, em favor da causa de Cristo. A principal característica deles é a «complacência» com as coisas, conforme elas são. Não veem qualquer razão em Sião para se apressarem e cumprirem uma elevada missão. Estão no mundo e gostam do mesmo. Para esses, a igreja é apenas uma extensão do mundo, e não algo do qual se devam separar.

6. Uma outra característica da mornidão é o não-reconhecimento de um estado espiritual deficiente, a satisfação com aquilo que poderia ser chamado de «espiritualidade falsa». Juntamente com a mornidão vai a cegueira e a insensibilidade espirituais.

7. «Até mesmo o repúdio franco da religião pelo menos é mais promissor, do ponto de vista ético (ver Arist. Mc. Eth. vii. 2-10), do que lealdade morna, do que a complacência a qualquer falha. Quem está de fora (por ser incrédulo) pode ser convencido e conquistado; há esperança para ele, pois não está sob ilusão acerca de sua real relação para com a fé. Porém, que se pode fazer com pessoas que são cristãos nominais, incapazes de reconhecer que precisam de arrependimento, e que Jesus, na realidade, está fora das vidas deles (ver o vigésimo versículo)». (Moffatt, in loc).

8. O espírito deste versículo é similar ao do vigésimo terceiro capítulo do

evangelho de Mateus, onde Jesus denunciou os líderes religiosos de sua época, taxando-os de «hipócritas», porquanto se preocupavam somente com questões externas e diminutas infrações da lei, ao mesmo tempo que viviam atolados em grandes males e na insensibilidade espiritual.

9. O entusiasmo espiritual (estado de quem está «quente») não é o único elemento necessário na fé religiosa; pode até mesmo ser perigoso, se não existir paralelamente à fé e à dedicação. Mas, aliado a estes, é ideal e poderoso em suas operações e resultados.



10. Precisamos ser «sensíveis» para com os nossos «defeitos» e para o que fica «irrealizado» em nossas vidas, não dando atenção somente àquilo que já possuímos, aos progressos já feitos. A mornidão espiritual impede isso.

«...Quem dera fosses frio, ou quente!....» «O termo grego «ophelon» é usado no indicativo passado, no grego posterior, a fim de apresentar um desejo impraticável; mas, quando usado no futuro do indicativo (ver Gl 5:12; por exemplo), para expressar um desejo praticável. Mas aqui, tal como em II Co 9:1; temos «ophelon» usado no passado do indicativo, expressando uma possibilidade, embora, no presente, ainda não se tivesse realizado». (Charles, in loc). O grego helenista não observava a exatidão minuciosa do grego clássico, e nem se mostrava consistente em seus usos.

Para o bem e o mal, em igual inclinação, Sou tanto um demônio como sou um homem. (Erskine)

 Adam Clarke (in loc.) supõe que eram eles «bons demais para irem para o inferno e maus demais para irem para o céu. Era similar ao caso de Efraim e Judá, em Os 6:4: 'Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? porque o vosso amor é como a nuvem da manhã, e como o orvalho da madrugada, que cedo passa'. Tinham boas disposições, que eram cativadas por más inclinações; e tinham más disposições que, por sua vez, cediam a boas inclinações. E a justiça divina e a misericórdia pareciam perplexas em saber o que fazer com eles ou contra eles. Esse era o estado da igreja de Laodicéia, e nosso Senhor expressa aqui, nesse desejo aparente, a mesma coisa que foi expresso por Epicteto, Ench., cap. 36: 'Tu deves ser um tipo de homem, ou homem bom ou homem mau'».

Outras ideias sobre o décimo quinto versículo:

 1. Não se deixavam conduzir totalmente pelas doutrinas falsas, mas também não se dedicavam totalmente à verdade. Não eram tão maus quanto alguns de seus compatriotas pagãos, mas também não estavam verdadeira­mente interessados em ser crentes autênticos.

 2. Não eram realmente «frios e mortos», mas também não eram «quentes e vivos». Não correspondiam entusiasticamente a Cristo, mas achavam satisfação e complacência no próprio «eu» (ver o décimo sétimo versículo).

3. Estavam no mundo e pertenciam a ele; mas, ao mesmo tempo, procuravam ensinar a «religião» e o respeito ao nome de Cristo.

4. Professavam estar na carreira cristã, a fim de obterem o prêmio, mas cuidavam para correr sem nunca suar.



5. Tinham considerado o custo de combater na guerra cristã, mas, assustados, mantinham-se no ócio, esperando negociar com o mundo, procurando estabelecer com ele a concórdia.

6. Tinham um pietismo senil, que jamais poderia passar como zelo pela verdade e como piedade.

7. Tinham uma suposta piedade, sem o poder que a presença de Deus, em nossa vida, certamente produz.

8. Na expressão religiosa deles não havia auto sacrifício, não havia cruz.

9. Frio. Total insensibilidade para com Cristo e sua verdade; esse é o estado daqueles que ainda não foram «atingidos» pelo evangelho ou que o rejeitam totalmente. «Quente». Zelo autêntico em favor de Cristo, em que se dá caloroso acolhimento à sua verdade; essa é a atitude que põe em prática o que se sabe ser a verdade, a lealdade a Cristo sob circunstâncias difíceis, o trabalho feito com zelo e devoção.

10. Estão envolvidos o orgulho espiritual e a indiferença. Aqueles crentes diziam: «Não temos necessidade de coisa nenhuma». É que não podiam perceber a verdade com clareza, mas apenas as beiradas externas das restrições que eles impunham a si mesmos.

11. «A igreja em Laodicéia não tinha fervor de espírito no serviço do Senhor; e nem se mostrava zelosa em favor das verdades do evangelho; em favor de suas ordenanças, em favor da casa de Deus e sua disciplina. Nem se opunha ela calorosamente ao pecado e a todo erro e caminho falso». (John Gill, in loc).

12. Alguns estudiosos pensam que Arquipo é o «anjo» ou ministro desta igreja. Fora dito a ele: «Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires» (C3 4:17). Naturalmente, dificilmente essa pode ser a questão em foco. Arquipo era de Colossos, e não de Laodicéia, e dificilmente continuaria vivo, quando foi escrito o livro de Apocalipse. Contudo, o seu caso prove uma excelente lição objetiva, como ilustração deste versículo; e a referência em Colossenses desenvolve a ideia.

13. Aqueles membros da igreja de Laodicéia estavam debaixo da influência do cristianismo, mas não sob o seu poder.

14. Eles tinham boas atitudes, mas sem a piedade.

 15. Talvez fossem rígidos e minuciosos acerca da sã doutrina, mas descuidados e doentios na vida espiritual. Sua preocupação era «com o que criam», mas não tinham o menor interesse acerca de «quem» depositavam sua confiança. Tal crença não os levava a entregar a própria alma aos cuidados de Cristo, embora disso é que consista verdadeiramente a fé cristã.



16. Mui provavelmente, Laodicéia era uma igreja de crença fácil, cujo evangelho era destituído do imperativo moral. Não poderá haver glorificação futura, sem a santificação presente; e a glorificação é o grande alvo na direção do qual prossegue a salvação.

3:16    Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei do minha boca.

O resultado da condição descrita no décimo quinto versículo, a de «mornidão», é que a igreja de Laodicéia agia como um emético. Tal simbolismo visa trazer as nossas mentes as ideias de «novo», «torpeza» e «desgosto». Essas são as atitudes que Cristo assume, em face do «tipo de cristianismo» que era exibido em Laodicéia. A água morna é usada com sucesso, por algumas pessoas, como um emético; e o fato que água morna não causa vômito em todos, e nem é necessariamente repelente para outros, não destrói a intenção do autor sagrado. «Total rejeição», conforme o vidente João nos mostra, é o resultado final da lealdade morna a Cristo. O cristianismo não pode ser vivido sem a cruz. Um cristianismo sem moral, sem cruz, indiferente, terá de fracassar fatalmente, sendo condenado por sua inerente «nulidade». É conforme diz Hough (in loc): «Teria Cristo morrido sobre a cruz e sofrido tão grande paixão, a fim de produzir discípulos assim mornos?... a pergunta responde a si mesmo, nas palavras: '...estou a ponto de vomitar-te da minha boca'».

«...vomitar...» No grego é «emeo», «cuspir» ou «vomitar». Desse termo é que se deriva o vocábulo moderno «emético», um agente que causa vômito. É possível que o simples ato de «cuspir» esteja aqui em foco, com o esvaziamento do conteúdo do estômago. A mesma lição é ensinada, de um modo ou de outro. A pessoa ou a igreja morna é repelente, espiritualmente falando; e tal condição eventualmente provoca uma ação decisiva da parte de Cristo, o Senhor, para punição de tal pessoa ou igreja.

«A linguagem é muito vivida, embora sem ornatos. Os laodicenses não somente foram denunciados, mas foram denunciados com a máxima abominação. Tal denúncia não tem paralelo nas outras cartas (do Apocalipse). Não está em pauta um julgamento especial e imediato, e, sim, o juízo final». (Charles, in loc).

Outras ideias sobre o décimo sexto versículo:

1. Cumpre-nos observar «...o desgosto divino ante a religião morna. Cristo, diz o profeta, enoja aos mornos... A exclusão da vida divina é um dos lados da penalidade, e o desmascaramento humilhante perante os homens é o outro (ver o décimo oitavo versículo)», (Moffatt, in loc).

2. «Rejeitar com desgosto extremo». (Robertson, in loc).


3. «Os médicos usam a água morna para provocar o vômito. Bebidas frias e quentes eram comuns nas festas, mas nunca mornas. Havia fontes frias e quentes perto de Laodicéia». (Fausset, in loc).



4. «O cristão professo morno é aquele que serve a Deus e a Mamom; que capenga entre duas opiniões, que não sabe qual religião é melhor, importando pouco com qualquer delas, embora continue cumprindo seus deveres religiosos, posto que na indiferença... (ele) não se preocupa com a vida e o poder da piedade, e se apega somente às suas formas externas... (isso) era muito repelente para Cristo, o que explica a ameaça: '...eu te cuspirei da minha boca...'» (John Gill, in loc).

5. «Esse símbolo indica a temível maldição, a saber, a total rejeição, por parte de Cristo, como algo que provoca nojo». (Lange, in loc).

6. «Corriam o perigo de trair ao seu Senhor, à semelhança de Judas, com um beijo». (Carpenter, in loc).

7. «Observemos qual grande diferença havia entre o que eles pensavam de si mesmos e o que Cristo pensava sobre eles». (Matthew Henry, in loc).

8. «Caros amigos, essas são verdades soleníssimas, e não devemos pô-las de lado, como se não nos dissessem respeito. Talvez nunca houve tempo como os nossos dias, em que os homens se entregam à religião com meia-lealdade e satisfeitos consigo mesmos». (Seiss, in loc).

 3:17  Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;

A igreja de Laodicéia avaliava a si mesma segundo os padrões de riqueza material, pois estava imersa na mentalidade do mundo. Essa igreja tanto estava no mundo como fazia parte do mesmo. Por essa razão é que era totalmente ignorante da sua verdadeira situação espiritual.

Laodicéia era cidade que ficava no cruzamento de rotas comerciais da Ásia Menor. Tinha várias indústrias ricas e era centro bancário. Cícero trocou ali suas apólices do tesouro por dinheiro (ver Ad Fam. iii.5; Ad. Att., v.15). Nos anos de 60 - 61 D.C., quando a cidade foi pesadamente danificada por um terremoto, não precisou apelar para um fundo federal, a fim de ajudar em sua reconstrução, tão vastas eram as suas riquezas. (Ver Tácito, Anais xiv.27). Os cristãos dali tiveram o cuidado de não provocar a ira das autoridades civis, cooperando com o «culto ao imperador», que exigia que o imperador romano fosse adorado como uma divindade. Isso significa que aqueles cristãos sabiam o que é transigir, tendo podido escapar completamente às perseguições, ao martírio e ao confisco das propriedades, ao passo que, em outros lugares da Ásia Menor, essas perseguições fossem comuns, e geralmente devastadoras para as comunidades cristãs. Obtiveram o que queriam: riquezas materiais. Mas perderam aquilo ao que não davam atenção: espiritualidade real. Tolamente imaginavam que «a piedade é fonte de lucro», como se a prosperidade fosse sinal da aprovação divina às suas vidas.



«...nem sabes... » (Isso pode ser contrastado com o fato que Cristo conhecia perfeitamente bem a condição deles, no décimo quarto versículo). Lembremo-nos que as sete cartas do Apocalipse representam condições que devem existir em qualquer era da igreja. A consciência e o discernimento espirituais são qualidades raras em qualquer época. A tendência sempre será a de «sobrestimarmos» a nós mesmos. Antes de tudo, julgamos as coisas segundo falsos padrões; e, em segundo lugar, conforme as nossas «intenções», e não segundo as realidades espirituais. Mediante a combinação desses dois fatores, terminamos sabendo como nos enganar­mos a nós mesmos, realmente. Portanto, não é de admirar que encontremos aqui a exposição de um grande princípio espiritual—com demasiada frequência não nos damos contas de nosso estado espiritual empobrecido; com demasiada frequência nos elogiamos de realizações espirituais, ao passo que, de conformidade com todo o juízo verdadeiro, essas realizações são deficientes.

«...estou rico...» Materialmente; mas também «espiritualmente», conforme eles entendiam. Porém, a pobreza espiritual daquela igreja era tão aguda que só podiam ser classificados como «miseráveis». Sem dúvida alguma comparavam-se aos que «nada possuem», à palha e aos párias da sociedade; e intimamente agradeciam aos deuses que não eram como «aqueles» outros, a escória da sociedade. A denúncia contra eles, pois, foi tremendamente amarga. Eles é que eram os que «nada têm», a «escória» e os «miseráveis» da sociedade, porque estavam espiritualmente paupérrimos, e nem ao menos percebiam o fato.

«...não preciso de cousa alguma...» De nada que lhes parecesse importante, já que sua mentalidade era carnal. No entanto, espiritualmente falando, faltava-lhes tudo quanto é desejável. «De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento» (I Tm 6:6).

«...infeliz...» Aqueles membros da igreja de Laodicéia supunham que a felicidade é determinada pelo saldo credor na conta bancária, ou pelo acúmulo de prazeres carnais que alguém pode dar-se ao luxo de ter. Eram realmente mundanos, cuja «religião» era apenas um frontispício. A fé deles não requeria a transformação espiritual; não tinham qualquer imperativo moral. Era uma crença fácil, para uma época fácil. Espiritualmente, porém, eram «infelizes», pois não podiam reivindicar as «bênçãos» trazidas pela piedade. Em contraste com isso, os cristãos primitivos consideravam-se «felizes», até mesmo sob as perseguições causadas por sua lealdade a Cristo. Mas os laodicenses sentiam-se felizes por terem transigido com Roma, mostrando-se assim fiéis ao paganismo imperial.

Notemos aqui o uso do artigo definido, no grego, «...o infeliz...», em contraste com os «pobres miseráveis» da sociedade que lamentavam, por não serem estes ricos como aqueles. A raiz do termo grego aqui usado indica «suportar provação», ou seja, estar debaixo de pressões econômicas, ou outras pressões materialistas, físicas. Aqueles laodicenses, entretanto, não sofriam tais pressões e provações, e supunham que não eram os «perseguidos pela provação», ou seja, não eram os «infelizes». Porém, a péssima espiritualidade deles fazia deles os autênticos «pobretões» da sociedade.



«...miserável...» Não precisavam mendigar o pão; seus filhos viviam bem vestidos; contavam com bons cuidados médicos; havia abundância de dinheiro para as diversões, viagens e outros tipos de interesse pessoal. Não faziam parte da classe aldeã, que sofria privações. Na realidade, porém, eram contados entre os «miseráveis», porquanto suas almas morriam à míngua. Tinham «dó» dos párias da sociedade; a avaliação divina, entretanto, condoía-se deles, pois mereciam dó.

Notemos o enfático «...tu...», que acompanha toda essa sentença. Reputavam como miseráveis, pobres, cegos e nus aos «outros». Na realidade, porém, eles é que mereciam pena.

A mornidão espiritual fizera bem o seu trabalho pernicioso; dentre todas as igrejas do Apocalipse, a despeito dos vícios e problemas que tinham, a de Laodicéia é considerada a pior.

«...pobre...» As notas introdutórias ao décimo quarto versículo, bem como aquelas que apresentam o atual versículo, mostram as grandes riquezas materiais da cidade de Laodicéia, uma autêntica metrópole. Os ricaços desprezavam aos poucos esmoleres da cidade, que não compartilhavam dessas riquezas. Mas o olho discernidor de Cristo, o Senhor, via claramente onde estava a verdadeira pobreza. Estava com aqueles que dilapidavam suas oportunidades espirituais, transigindo com um mundo hostil. Esse estado de pobreza acompanha aqueles que se dão excessivo valor pessoal; aqueles que são espiritualmente cegos; aqueles que são autocomplacentes.

«...cego...» Nos países orientais são comuns as enfermidades oculares, e a cegueira ali tem elevada incidência. Temos pena dos cegos, pois essa condição é tremendo empecilho para o aprazimento de uma vida normal. Laodicéia contava com uma famosa escola de medicina, sendo produtora de muitos medicamentos. Contava com os meios de combate à cegueira física. No entanto, faltavam-lhe os meios e até mesmo o interesse para combater a cegueira espiritual. O número das pessoas fisicamente cegas vinha sendo controlado; mas o número de indivíduos espiritualmente cegos ia crescendo cada vez mais, não havendo remédio para essa condição, pois também nenhum remédio era procurado. Tinham olhos para contemplar suas riquezas materiais, buscar seus prazeres e levar a efeito uma vida diária caracterizada pela indiferença e pela carnalidade. Tinham olhos para ver as riquezas pomposas de suas igrejas e templos magnificentes, seus ornamentos, seus móveis ricos. Mas não tinham olhos para perceber a esterilidade do templo de Deus, que era as suas próprias almas.

 «...nu...» Laodicéia era famosa por sua indústria de lanifícios e sua produção de excelentes peças de vestuário. Os crentes laodicenses se vestiam com elegância; espiritualmente falando, entretanto, andavam nus, e a vergonha da carnalidade deles era óbvia para qualquer avaliação discernidora.
Outras ideias sobre o décimo sétimo versículo:



1. Deve-se contrastar o «tu dizes» com o «conheço» (este último proferido por Cristo). Aquilo que dizemos usualmente é diferente daquilo que Cristo sabe acerca de nossa condição espiritual.

2. Não se pode duvidar que os laodicenses, que se tinham enganado a si mesmos, falavam em termos candentes sobre suas riquezas espirituais. O texto sagrado certamente indica isso. Não exibiam apenas seu orgulho, a respeito de suas riquezas materiais. Sua suposta riqueza espiritual, entretanto, tinha relação direta com a possessão de muito dinheiro. Não separavam as duas coisas, em sua mente, e imaginavam, mui totalmente, que uma coisa dependia ou estava diretamente relacionada à outra. A igreja dali «...transportava a soberba das riquezas para a sua vida espiritual» (Swete, in loc).

3. «Aquela igreja local se achava em uma cidade rica, e também era rica em seu orgulho e presunção; mas era pobre na graça e ignorante de sua pobreza espiritual» (Robertson, in loc).

4. «Orgulhando-se não meramente no fato das suas riquezas, mas (conforme fica implícito) também nos meios pelos quais essas riquezas tinham sido obtidas, a saber, mediante a habilidade pessoal, o mérito pessoal, e, finalmente, orgulhando-se na sua confiança independente, assim adquirida um profuso certificado de mérito, auto assinado». (Moffatt, in loc).

5. Notemos a sabedoria de Filo: «Ninguém é enriquecido pelas coisas seculares, embora seja proprietário de todas as minas do mundo; os destituídos de inteligência é que são os paupérrimos». (Fragm., pág. 669, Mang.).

6. «...as próprias riquezas deles levaram-nos a uma espécie de religião quieta e sem agressibilidade... Eram hipócritas, mas não sabiam que eram hipócritas. Julgavam-se bons; e esse auto ludíbrio era o perigo que corriam. Pois, usando as palavras de Profl. Mozley, ‘Por qual motivo um homem haveria de arrepender-se de sua bondade?'» (Carpenter, in loc).

7. «As riquezas dificilmente fazem qualquer bem às igrejas de Cristo. Não o fizeram nos tempos de Constantino; e parece que até mesmo agora, no término do reinado espiritual da igreja (o período Filadélfia) elas terão más consequências, porquanto inaugurarão o estado da igreja de Laodicéia» (John Gill, in loc, com uma nota que é ao mesmo tempo perceptiva e profética, pois escreveu estando a igreja ainda no período representado pela igreja de Sardes).

8. O que havia de pior, em toda essa situação, é que estavam auto enganados.. ,Eles'! se julgavam ricos. Mas ,ele' afirma que eram pobres. ,Eles' frisavam todo o progresso nas coisas que os tornavam felizes. Mas ,ele' diz que estavam em uma condição de miséria, mesmo sem ter tido consciência. ,Eles' estavam satisfeitos e persuadidos de que nada necessitavam Mas ,ele' diz que eram pobres, cegos e nus» (Seiss, in loc).



3:18    aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, paro que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim do ungiras os teus olhos, para que vejas.

«...Aconselho-te...» Apesar de imaginarem que sabiam tudo, e que a sua avaliação sobre si mesmos se alicerçava sobre os fatos. No entanto, precisavam do conselho do discernimento divino. Nunca conseguiremos dispensar essa necessidade.

Por sua ignorância, os laodicenses se tinham reduzido a total penúria espiritual. Precisavam da intervenção divina, que consistiu do próprio convite ao arrependimento e à restauração que Cristo lhes fez. O arrependimento autêntico sempre será uma intervenção divina na vida, pois não se trata de mera resolução de ser melhor ou de agir melhor. Para que seja real, exige a «ajuda divina», o poder transformador do Espírito, que modifica a alma, e não apenas a mente. Mas ninguém obtém a «ajuda divina» sem ceder à mesma, quando sua influência adeja próxima.

«,Aconselho-te...» com certa ironia. Embora ele pudesse ordenar, contudo ele preferiu aconselhar àqueles que, segundo sua própria estimativa, estavam supridos de tudo». (Vincent, in loc).

«...compres ouro refinado pelo fato...» (Essas palavras podem ser confrontadas com o trecho de Is 55:1, que diz: «Ah! todos vós os que tendes sede, vinde às águas; e vós os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite». Ver também Mt 13:44,46 onde se aprende que o reino dos céus é como um grande tesouro ou uma pérola de inestimável valor). O reino de Deus vale qualquer sacrifício. Cristo, o Senhor, acabara de classificar aos crentes de Laodicéia de «esmoleres espirituais». Não tinham coisa alguma com que comprar qualquer coisa. No entanto, Cristo os convida aqui a comprarem riquezas verdadeiras, mediante o arrependimento e o interesse pelas realidades espirituais. Esse é um oferecimento da graça, e a graça é gratuita, embora exija a receptividade humana, a cessão da vontade. (Ver Ef 2:8).

Ouro, refinado a fogo: Consideremos acerca disso os seguintes pontos:

1. Isso aponta para o ouro puro, em contraste com as riquezas poluídas que possuíam.

2. Também é feito o contraste entre as riquezas espirituais e as meras riquezas materiais.

3. Esse ouro é divinamente conferido, não podendo ser adquirido pelos esforços e méritos humanos.

4. Talvez haja aqui um indício do fogo refinador da perseguição, que poderia torná-los espiritualmente ricos. Aquela igreja evitara as perseguições mediante a cooperação com o «culto ao imperador»; e desse modo tinham podido obter riquezas materiais, já que não sofriam perseguições. Mas a escolha fora a pior possível. Antes tivessem tido a mesma decisão, tomada pela igreja de Esmirna, de fazer oposição a esse culto falso, sofrendo por causa disso, porque assim teriam recebido riquezas espirituais verdadeiras, ainda que isso significasse que teriam tido de passar pelo fogo refinador da perseguição.

«...de mim...» Essas palavras, no original grego, são enfáticas. Pois Ômega da existência humana.

«...vestiduras brancas para te vestires...» Laodicéia era um grande centro da indústria de vestuário, na antiguidade. Os crentes dali se vestiam com elegância, mas, espiritualmente falando, andavam nus. Precisavam de «vestiduras brancas», o que aponta para a autêntica santidade de vida, para a elegância da natureza espiritual. Mas essas vestiduras brancas também falam sobre a vestimenta da alma, composta pela imortalidade, conforme já pudemos ver em Ap 3:4,5. Se isso faz parte integrante da interpretação dessas palavras, então equivale à «árvore da vida», que figura na carta à igreja de Éfeso (ver Ap 2:7), e também à «coroa da vida», da carta à igreja de Esmirna (ver Ap 2:10). Cristo promete a «imortalidade» final para todos os vencedores da carreira cristã.

O N.T. jamais se contenta com a mera sobrevivência da alma, ante a morte biológica. Antes, ali a imortalidade consiste da «vestimenta» da alma, e não da mera perda do veículo físico, o corpo humano. O «corpo espiritual» (que não será físico, formado por partículas atômicas) dará à alma remida um meio apropriado de manifestação nos mundos celestiais. Além disso, nossa própria natureza será transformada segundo a essência mesma da natureza do Filho (ver Rm 8:29 e II Co 3:18).

«...a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez...» Essa nudez seria percebida quando sua verdadeira condição fosse «desvendada» (sendo tirada a roupa da pretensão e do auto ludíbrio), e eles aparecessem vergonhosamente nus, espiritualmente falando. As «vestiduras brancas», que são a provisão de santidade e a elegância de natureza espiritual, haveriam de encobrir realmente essa nudez, eliminando-a totalmente. O futuro revestimento da alma, que consistirá do corpo ressurreto, haverá de conferir-lhe glória e elegância próprias dos lugares celestiais, iguais às do próprio Cristo, o Filho de Deus. O emprego da palavra «... vergonha... » neste passo visa a lembrar aqueles crentes sobre sua verdadeira condição espiritual. Estavam inchados de orgulho, e, no entanto, encontravam-se em uma condição «vergonhosa».

Desnudamento e exposição. Esse era um método frequentemente usado para envergonhar publicamente a alguém, nos dias antigos; e tal costume tem persistido até hoje, em alguns países. (Ver II Sm 10:4; Is 20:4; 47:23 e Ez 16:37. Comparar também com Mt 22:11-13 e Cl 3:10-14). Em sonhos, podemo-nos ver «despidos», ou parcialmente despidos. Por meio desse «símbolo», a mente subconsciente nos dá a entender alguma situação embaraçosa, presente ou futura. A exposição espiritual, apesar de embaraçosa, alerta-nos para a necessidade de nos revestirmos espiritual­mente, de nos vestirmos do «novo homem», conforme se vê na passagem acima, da epístola aos Colossenses. Mas a vestimenta espiritual da imortalidade removerá para sempre a vergonha provocada pela queda, e que deixou o homem espiritualmente nu.

«...colírio para ungires os teus olhos...» Laodicéia contava com uma famosa escola de medicina, onde eram produzidos diversos medicamentos, incluindo aqueles para problemas oculares, que são tão comuns no oriente, até hoje. O termo grego aqui traduzido por «...colírio...» é «kollura», um rolo de pão grosseiro. A conexão original dessa palavra com um medicamento para tratamento dos olhos, talvez fosse uma espécie de emplastro, feito de massa de pão, para tratamento de infecções. Ou então a ideia geral de «rolo» pode ter-se desenvolvido do original «rolo de pão»; e então, qualquer material, em forma de rolo, podia ser referido como o material que era usado para o tratamento de infecções. Seja como for, no tocante à situação de Laodicéia, lemos que havia um famoso pó frígio, empregado pela escola de medicina de Laodicéia, para tratamento dos olhos. O Talmude de Jerusalém (Shabb. 1.3; vii.10; viii.11b) parece referir-se a isso. Celso (vi.7) fala acerca de muitas espécies de colírio ou medicamentos para os olhos, utilizados em seus próprios dias.

Símbolo espiritual do colírio: Isso se vê nos três pontos abaixo:

1. Isso retrata a ação iluminadora do Espírito Santo, o que dá ao indivíduo visão e discernimento espirituais. Trata-se de um dom e operação do Espírito.

2. Isso permite que os olhos espirituais se tornem luz da alma, mediante o que chegamos a ser iluminados e participamos da própria natureza luminosa de Cristo. (Ver Jo 1:9 e Ef 1:18 quanto a esses temas).

3. É equívoco terrível alguém preocupar-se somente com o que é físico, mas não ter interesse pelo que é espiritual. Laodicéia tinha uma escola de medicina para tratamento de enfermidades físicas; contava com um famoso pó que aliviava infecções oculares e impedia a cegueira—mas não tinha qualquer provisão para os olhos da alma.

Outras ideias sobre o décimo oitavo versículo:

1. É possível alguém ser famoso por alguma coisa, ao mesmo tempo que merece ser infame por algo bem diferente. Muitas pessoas famosas são infames aos olhos de Jesus.

2. Cristo tem o remédio para todas as mazelas da alma. Ele é o grande Médico, e os substitutos humanos de nada servem.

3. Isso pode ser comparado com as Confissões de Agostinho (vii.7,8), onde se lê: «Por causa de meu próprio inchaço fiquei separado de Ti; sim, meu rosto inchado de orgulho fechou meus olhos... Mas foi agradável diante de ti reformar as minhas deformações; e mediante aguilhões me despertas te, para que eu me desassossegasse até que te manifestasses à minha visão interior. Assim, mediante a mão secreta de teu medicamento, meu inchaço desapareceu, e a visão perturbada e diminuída da minha mente, mediante as unções ardentes de tristezas saudáveis, daquele dia em diante foi curada».

4. Quando o Senhor retornar, encontrará alguns convivas que não estão vestidos das vestes apropriadas. Esses não escaparão ao seu julgamento, conforme se aprende em Mt 22:11 e ss.

5. O presente versículo pode ser comparado ao trecho de I Jo 2:20,27, que é um seu importante paralelo espiritual.

6. O amor do Salvador «aconselha» aos que são espiritualmente pobres: õ mercador, no mercado dos céus, quanto a mercadorias celestes,

O amor é a única espécie de moeda aceitável.

7. A unção aplicada aos olhos enfermos provavelmente os faz arder. Mas um homem pode suportar a dor, produzida por um medicamento, se esse é eficaz. Não é fácil alguém admitir em si mesmo a cegueira espiritual; mas, para aqueles que a admitem, e então buscam o remédio certo, a cura lhes é posta à disposição.

8. «Caros amigos, pertence-nos uma grande e cara oportunidade. Não pensemos que não temos oportunidade de abraçá-la. Não imaginemos que somos ricos e carregados de bens, como se de nada tivéssemos necessidade... A todo o tempo somos cobertos de cegueira, mazelas e insensatez, que somente a graça de Deus pode curar.

9. Valemo-nos de seu oferecimento pelo uso dos meios espirituais de crescimento e iluminação—o estudo de sua Palavra e outros livros espirituais, para o treinamento do intelecto; a oração e a meditação; a busca pelo Espirito e seus dons espirituais; a utilidade para com outros, mediante o exercício de nossas manifestações espirituais e feitos de gentileza e amor. (Ver Ef 1:18, quanto à necessidade que temos de «iluminação espiritual»). Devemos orar decididamente para recebermos a natureza que se faz necessária para a nossa vida espiritual, como crentes que somos.

10. «Os conselhos de Cristo são mandamentos, convites e promessas. Essas advertências não foram feitas no espírito de indignação, e, sim, de misericórdia... Realmente, devemo-nos separar de algo, mas sem qualquer valor, a saber, o pecado e a autossuficiência» (Matthew Henry, in loc). 3:19    Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te. Deus «...repreende a quem ama...» (Pv 3:12). E outro tanto faz o Filho de Deus. Deus ama ao mundo inteiro (ver Jo 3:16). Cristo morreu até mesmo em favor de seus inimigos, mostrando o amor de Deus por eles (ver Rm 5:8). Os próprios «filhos» de Deus terão de esperar castigo, o que comprova que são filhos de Deus genuínos (ver Hb 12:7,8). «O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo o disciplina» (Pv 13:24). Consideremos ainda os pontos abaixo:

1. Historicamente, supõe-se que muitos, se não mesmo a maioria dos membros da comunidade cristã de Laodicéia, eram crentes genuínos, embora de qualidade deficiente.

2. Profeticamente, supõe-se que a maioria dos filhos espirituais de Laodicéia não se qualificariam como filhos autênticos, porque farão parte da grande apostasia, sendo representantes de um cristianismo espúrio. No entanto, o amor de Deus também atinge a esses. A Grande Tribulação haverá de purificar a muitos desses, trazendo-os aos pés de Cristo

3. Simbolicamente, entendemos que as admoestações constantes nesta carta à igreja de Laodicéia se apliquem a crentes verdadeiros, mas deficientes, como também àqueles que brandem a bandeira cristã, mas não são autênticos filhos de Deus.


«...arrepende-te...» Esse é um elemento de quase todas as cartas do Apocalipse, excetuando no caso das igrejas de Esmirna e Filadélfia. Apesar desse termo poder significar apenas «mudança de mente», nas páginas do N.T. seu significado é muito mais elevado do que isso. Significa «mudança de alma», uma nova direção dada ao próprio ser, uma revolução moral, operada mediante o poder transformador do Espírito Santo. O arrependimento e a fé compõem a «conversão», conforme se aprende em At 20:21.

Outras ideias sobre o décimo nono versículo deste capitulo:

1. «Admirabilíssimo amor do Salvador! Amava até aos mortos! Amava até mesmo uma congregação local cujo coração estava afastado dele!» (Newell, in loc).

2. O Salvador teve de repreender e castigar. Na qualidade de Sumo Pastor, ele requer que os subpastores façam a mesma coisa, embora também no mesmo espirito de amor.

3. A severidade da repreensão é igualada à magnitude do amor, o que faz do juízo apenas um dedo da mão amorosa de Deus.

4. «O amor nunca é cruel, mas pode ser severo» (Charles, in loc).

5. O castigo, do ponto de vista profético, se cumprirá na Grande Tribulação. Muitos dessa igreja serão conduzidos aos pés de Cristo, uma vez que percebam o que é, realmente, o mundo ímpio. A tribulação purificará a igreja universal. Nada menos do que isso poderia levar essa igreja a pôr-se de joelhos, em arrependimento, «...uma chama de arrependimento que devorará a indiferença e a incoerência» (Moffatt, in loc).

6. «...o indiferentismo... perverte o amor, reduzindo-o à lassidão, considera a punição como se fora severidade, e separa totalmente as duas coisas». (Lange, in loc).

7. Castigo: «Serias tu uma exceção? Se fores poupado do chicote, serás poupado para não pertenceres ao número dos filhos». (Agostinho).

8. «...castigar... é ensinar e educar por meio da vara, corrigindo com severidade, punindo para cura do erro, corrigindo pelo açoite, como no caso de um pai que trata com seu filho... O diabo pode prometer a prosperidade mundana para os seus filhos, mas Jesus diz que sempre teremos de entrar no reino dos céus, mediante muita tribulação. Onde o seu favor amoroso nos testa, parte da administração desse amor consiste de usar de disciplina corretiva... mui preciosa, por igual modo, é essa disciplina do sofrimento. Muitos erros profundos e ruinosos são assim curados ou prevenidos. Miriã foi ensinada a abandonar sua murmuração rebelde e sua tendência a fomentar dificuldades, ao ser ferida com a lepra. Jonas recebeu de volta o seu bom senso, cumprindo seus deveres proféticos, mediante a dificuldade que encontrou no mar, em meio ao temporal do desprazer divino... Zacarias foi curado de sua incredulidade ao ser ferido com a mudez. Paulo foi impedido de exaltar-se demasiadamente por um espinho vexatório e humilhante na carne» (Seiss, in loc).

9. Zelo: O zelo é «...como as asas de uma ave, como as rodas de uma carruagem, como as velas de um barco, como o fogo de que a máquina depende para produzir vapor e poder; pois é mediante o calor e a energia da alma que um homem se lança naquilo que resolveu realizar. Debaixo da lei, nenhum sacrifício podia ser oferecido sem fogo, como também não pode ser feito qualquer serviço». (Seiss, in loc).

10. O zelo pode ser «ignorante» ou «hipócrita», «turbulento» ou «amargo», «mal orientado» e até mesmo «prejudicial». Mas isso é infinitamente melhor do que no caso do crente individual ou da igreja local que não tem «zelo», como se dava no caso dos laodicenses. Com razão foram conclamados ao «zelo». O zelo pela casa de Deus e seu trabalho deveria consumir-nos.

O arrependimento é um retorno à fé. É a negação da loucura da rebeldia contra Deus.

3:20    Eis que estou à porta, o bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em tua casa e com ele cearei, e ele comigo.

No fim da era da Igreja, Cristo estará do lado de fora da mesma. Isso reflete a grande apostasia, quando a igreja será modificada tão radicalmente que não mais merecerá o título de igreja cristã, segundo qualquer estimativa sóbria das coisas. Em qualquer época, em qualquer vida individual, em qualquer igreja local, isso pode suceder. Portanto, no fim desta época, Cristo estará batendo pelo lado de fora da igreja, através da tribulação daqueles dias, e, finalmente, em sua «parousia» ou segundo advento. Essa é a interpretação escatológica do versículo, interpretação essa que, apesar de legítima, não é a única possível.

«...Eis...» Essa palavra assinala o que há de admirável na situação: Cristo, o Senhor da Igreja, está do lado de fora da mesma. O mesmo Senhor, em paciência e amor, pede admissão e promete comunhão vital com aqueles que lhe derem ouvidos. «Filho meu, dá-me o teu coração».

«O contraste entre a severa reprimenda e a mão estendida e amorosa da amizade, é realmente impressionante. E chega como um clímax no quadro do Senhor de tudo, de pé do lado de fora da vida humana, solicitando admissão. O pecador orgulhoso e teimoso continua podendo ser hospedeiro de Deus.

«...à porta...» Esse é um símbolo de entrada e admissão. É preciso que seja dada permissão àquele que busca entrar. No tocante ao que é espiritual, essa porta aberta indica o exercício da vontade humana, permitindo que o Espírito Santo nos conceda a presença transformadora de Cristo razer-lhe glória eterna, mediante uma vida digna de ser vivida. Eventualmente ele será «tudo para todos» (ver Ef 1:23).

Os crentes de Laodicéia viviam atarefados com seu comércio, com seus banquetes, com suas riquezas materiais. Orgulhavam-se de sua própria espiritualidade, não percebendo sua condição espiritual empobrecida. Nem sabiam que Cristo estava do lado de fora da porta, a bater, de modo que não podiam atendê-lo e dar-lhe admissão.

Esse «bater» diz-nos que nos devemos esvaziar a nós mesmos do próprio «eu», se quisermos desfrutar de comunhão com Cristo, visando à nossa restauração e infinita transformação.

Essa é a voz do Bom Pastor, que conduzirá as ovelhas às pastagens de sua comunhão transformadora. (Ver o décimo capítulo do evangelho de João).

Cristo tanto bate à porta como fala. «Com grande frequência, a voz interpreta e torna inteligível o propósito do bater». Ele nos diz: «Filho meu, dá-me teu coração».

«...abrir a porta... » Em outras palavras, se alguém ceder à insistência da voz e do «bater» de Cristo à porta, permitindo que o poder transformador de Cristo opere sobre a alma, o que conduz ao arrependimento e à santificação, e, finalmente, à glória, na medida em que o crente for sendo transformado segundo a imagem do Filho de Deus. Esse é o exercício da vontade humana, recebendo os benefícios que se derivam de Cristo na vida.


«...cearei com ele e ele comigo...» No Oriente, a participação em uma refeição comum era prova de confiança e afeto. Os leitores originais do livro teriam entendido bem o simbolismo dessa linguagem. A igreja, morna e apóstata, é restaurada à confiança e ao afeto, passando a comungar com o Cristo—bênçãos essas que perdera, por causa de suas lealdades anticristãs.

Outras ideias sobre o vigésimo versículo:

1. A referência escatológica é óbvia em todo este versículo. Cristo está à porta, e sua vinda se dará em breve. (Ver Mc 13:29 — certos sinais antecederão à sua vinda, indicando que sua volta está próxima, às portas).

2. O apelo de Cristo, exibido no vigésimo versículo, faz contraste com as suas severas advertências de juízo. O julgamento divino é uma medida de amor, é o dedo da mão amorosa de Deus. Vem da parte daquele que é manso e humilde de coração; daquele que possui bondade ilimitada, apesar de seu poder ilimitado. Trata-se do apelo feito pelo amor anelante, pela preocupação mais profunda.

«...e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar. Leva-me à sala do banquete, e o seu estandarte sobre mim é o amor. (Cantares de Salomão 2:3,4).

3. Mediante a moderação, a paciência e o entravamento dos apetites carnais, algum dia o homem será participante do banquete divino. Assim também diz Epicteto, Enchri. xv.l «...mas se não tocares em nenhum dos pratos postos à tua frente, e realmente os abominares, não somente beberás juntamente com os deuses, mas também serás um governante junto com eles». Os crentes da igreja de Laodicéia, se chegassem a rejeitar as riquezas terrenas corruptoras, bem como às razões que os prendiam a tais riquezas, poderiam sentar-se no banquete, juntamente com Deus, em seu reino.

4. «O fato de Cristo estar em pé, diante dessa porta, expressa três coisas: a. Cristo não se acha no coração dos crentes mortos; b. Cristo reconhece o direito que a pessoa morna tem de deixá-lo do lado de fora; c. Cristo faz um assalto positivo contra a prisão que faz parte inerente do abuso de liberdade». (Lange, in loc.).



5. «Ordinariamente, o convidado ceia com quem o admite em casa; mas aqui o Convidado divino torna-se também o hospedeiro, pois ele é o Pão da vida, aquele que oferece a festa de casamento. Aqui, uma vez mais, ele alude a Cantares 2:3 e 4:16, onde a Noiva o convida a comer frutos agradáveis', tal como a princípio ele é que preparara um banquete para ela». (Fausset, in loc).

6. Este versículo ensina claramente a realidade do livre-arbítrio humano. O Convidado celeste pode ser rejeitado, sendo-lhe negada a admissão.

7. Há declarações do Senhor Jesus que ilustram a verdade da reciprocidade. Este versículo pode ser confrontado com trechos como Jo 6:56; 10:38; 14:20; 15:4,5 e 17:21,26.

8. A Porta do arrependimento. No Talmude Shir Hashrim Rabba, fol. 25,1, encontramos as seguintes palavras: «Deus disse aos israelitas: Meus filhos, abri para mim a única porta do arrependimento, tanto quanto o fundo de uma agulha, e abrirei para vós portas mediante as quais reses e gado de chifre poderão passar». Em Sohar Levit., fol. 8, col. 32, temos: «Se um homem ocultar o seu pecado, não o abrindo diante do Rei santo, embora peça misericórdia, a porta do arrependimento não lhe será aberta. Mas, se abri-la diante do Deus santo e bendito, Deus o poupará, e a misericórdia prevalecerá sobre a ira; e quando ele lamentar-se, embora todas as portas lhe estivessem fechadas, contudo ser-lhe-ão abertas, e a sua oração será ouvida».

3:21    Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono.

A promessa feita à igreja de Tiatira (ver Ap 2:26) é essencialmente idêntica, embora sem a elaboração que o trono do Pai será compartilhado pelo Filho e pelos filhos de Deus. (Ver também Ap 20:4). Os «mártires» reinarão com Cristo, durante o milênio. Mas essa promessa é tão ampla que significa que todos os crentes fiéis participarão dela em alguma medida, e que também «reinarão na eternidade», pois receberão posições de autoridade muito superiores às dos mais elevados arcanjos, dentro da economia eterna de Deus. Os remidos serão exaltados e transformados em seres muito mais elevados que os arcanjos. O nosso destino é muito mais elevado que o dos anjos, e não apenas igual ao deles, pois tudo quanto Cristo é e tem nos será dado. Essa questão de «reinarmos com ele» é um dos aspectos de nossa glória futura, quer no milênio, quer no estado eterno. O «reino» também será sobre todo o mal, sendo instaurado o bem-estar espiritual, porquanto será o reinado da alma, em harmonia com Deus, livre de toda a hostilidade, e não meramente uma possessão literal e uso de poder. Trata-se de poder no ser, na expressão, sobre tudo quanto é mau e prejudicial.



«...vencedor...» Essa é uma palavra comum em todas as cartas do Apocalipse. Aquele que vencer é aquele que der ouvidos às advertências e promessas dessas cartas, exercendo o poder de sua percepção espiritual (ouvidos que ouvem), agindo de acordo com o que ali é dito. Portanto, na presente carta a Laodicéia, o «vencedor» é aquele que mostrar-se zeloso, arrepender-se e abandonar sua mornidão espiritual, que admitir o Cristo transformador em sua vida, abrindo-lhe a «porta» (ver o versículo anterior).

«...dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono...» O livro de I Enoque conta com certo número de referências similares a esta. O Eleito, o Messias, assentar-se-á em seu trono de glória (ver I Enoque 45:3; 51:3 e 55:4). Isso também pode ser comparado aos trechos de Cl 3:1; Hb 1:8 e Fp 2:9-11 (Cristo está agora entronizado). E nas passagens de Mt 19:28; 25:31 e Lc 22:29 vê-se que Cristo será entronizado por ocasião de sua «parousia» ou segunda vinda. Os crentes reinarão juntamente com Cristo (ver Ap 2:10,26; 3:21 e 20:4). A «coroa» que os crentes esperam é uma «coroa real», e não meramente a do vencedor de uma competição esportiva. No livro Ascensão de Isaias, os santos aparecem recompensados com coroas e tronos. Em I Enoque 108:12, vemos os santos entronizados. Assim é que os doze apóstolos se assentarão em doze tronos, a fim de julgar às doze tribos de Israel. Conforme podemos ver, o conceito é perfeitamente comum. Deve ser aceito literalmente, pelo menos em parte, porquanto os crentes obterão posições reais de autoridade e governo. Mas, acima de tudo, a questão é essencialmente mística. Reinarão em seu próprio ser, tão grande será o seu poder e a sua glória. Tornar-se-ão seres dotados de poder que desafia a imaginação, muito superiores aos anjos; por assim dizer, serão todos reis. Serão reis-sacerdotes. Cristo também é um Rei-Sacerdote (ver Hb 7:1-3). Nós, por compartilharmos de seu destino, também teremos essa característica.

«...com meu Pai no seu trono...» O autor sagrado tem o cuidado de mostrar que todo o poder e toda a autoridade regia repousa, em última análise, em Deus Pai, em quem também se originam. Sim, lembremo-nos que está em foco Deus Pai. Portanto, encontramos aqui o ensino que a autoridade real de Cristo é por ele possuída como Filho, e que a nossa será possuída na qualidade de filhos de Deus. O primeiro capítulo da epístola aos Efésios, mais que qualquer outro capítulo isolado do N.T., demonstra que as bênçãos eternas que são dadas aos homens, procedem da parte de Deus como Pai. Todas as bênçãos celestiais que poderiam ser enumeradas foram dadas pelo Pai ao Filho, e, por intermédio deste, aos filhos. Essa é a relação que tudo permeia, e que sustentamos com Deus.

Aplicações locais e futuras: Os laodicences históricos participaram do culto imperial. Desta maneira, perderam o direito de reinar com Cristo. Aquele que for sábio e forte o bastante espiritualmente, fará oposição ao culto do anticristo. Este reinará com Cristo.

Os laodicences antigos davam seu poder ao trono do imperador, mas não podiam dele compartilhar. Os laodicences futuros darão seu poder ao trono do anticristo, mas não compartilharão do seu trono. Para os que sobrepujarem, um lugar ao lado de Deus em seu trono é prometido. Eis a escolha! a escolha é sempre nossa. Compartilhar do trono de Deus: Esta é a glória eterna. Nenhuma imaginação ou descrição humana pode tocá-lo.

«A promessa de que partilharemos do trono é o clímax de uma série ascendente de gloriosas promessas, que fazem subir o pensamento desde o jardim do Éden (ver Ap 2:7), através do deserto (ver Ap 2:17), do templo (ver Ap 3:12) e daí até o trono. A promessa se reveste de notável semelhança com a linguagem do apóstolo Paulo aos crentes de Éfeso (ver Ef 2:6). Essa promessa coroadora foi feita à mais repelente das igrejas do Apocalipse. Mas é apropriado que o desânimo, que com frequência se verifica após o súbito colapso das imaginações auto satisfeitas, pudesse ser agraciado com tão brilhante possibilidade. Apesar da religiosidade deles ter sido exibida como uma coisa oca, transparece uma esperança que bem pode espantar o desespero. O lugar mais elevado está ao alcance do mais baixo; a mais débil fagulha da graça pode ser transformada na mais poderosa chama do amor divino». (Carpenter, in loc).

Outras ideias sobre o vigésimo primeiro versículo:

1. «À assembleia que, bem há pouco, fora por Cristo ameaçada de ser cuspida de sua boca, agora recebe a promessa de um assento juntamente com ele, em seu trono». (Fausset, in loc).

2. «Na qualidade de Vitorioso é que ele chama a ti e a mim. É também quando um santo compartilha da vitória de Cristo, mediante a fé, que pode tornar-se um vitorioso! É conforme Cristo advertiu no cenáculo: ,No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo' (Jo 3:16). Ele também triunfou sobre Satanás e todas as suas hostes, no Calvário, tendo-nos oferecido o benefício dai derivado (ver Cl 2:14,15; Hb 2:14,15). '...e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé' (I Jo 5:4)» (Newell, in loc.).

3. Essas cartas do Apocalipse exibem muitas ameaças; mas agora tudo culmina na grandiosa promessa da glória futura e do poder espiritual. É para lá que o Espirito Santo deseja guiar a igreja; e é para ai que ela irá, eventualmente. O senhorio de Deus nos garante isso. Se os crentes de Laodicéia podem obter tal vitória, certamente todos poderão obtê-la.

4. Os laodicenses, em sua abundância material, exerciam poder. Mas isso nada significa, realmente, e os poderes celestiais zombam de tal coisa.

5. Os tronos, nos países orientais, eram largos bastante para neles se assentarem mais de uma pessoa. O trono aqui mencionado, entretanto, apesar de ser um só, será ocupado pelo Pai, pelo Filho e pelos filhos de Deus, uma promessa de significação prodigiosa.

6. «Essa é a pior das sete igrejas; no entanto, as mais notáveis promessas são feitas a ela, mostrando que os piores podem arrepender-se e, finalmente, podem tornar-se vitoriosos, atingindo aos mais elevados estados da glória». (Adam Clarke, in loc).



7. «Ficamos perplexos ante a magnificência da proposta» (Seiss, in loc).

8. O texto subentende a «ocupação» que teremos na eternidade: muito haverá para ser feito, muito para ser tentado e realizado; e isso só poderá ser feito por seres de estatura imensa, a saber, aqueles que compartilharão do próprio tipo de natureza e vida de Cristo.

9. Cristo é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, e a sua glória deve operar em mim e manifestar-se por meu intermédio. 3:22    Quem tem ouvidos, ouça o que o Espirito diz às igrejas.

Essa declaração figura em todas as sete cartas do Apocalipse. Os «ouvidos» são a sensibilidade espiritual que dá acolhida às instruções divinas e aplica as mesmas à vida diária.

«...igrejas...» Notemos aqui o plural. Todas as advertências, instruções e promessas, dadas a todas as igrejas, nas sete cartas, também se aplicam às igrejas locais de qualquer século.

Essas declarações:

 1. Visam a todos os membros de igreja.

 2. Mas só podem ser postas em prática pelos que possuem discernimento espiritual, por aqueles que buscam o mesmo, de tal modo que ponham em prática o que é ali recomendado.



3. Procedem elas do «Espírito», porquanto foi ele quem as proferiu; por conseguinte, só podem ser discernidas espiritualmente, por serem imperativos divinos.

4. O significado dessas declarações transcendem ao que é terreno e presente: fornecem-nos um vislumbre da glória futura, quando já estivermos em nossos corpos imortais; e oferecem-nos a participação nas mais tremendas realidades espirituais.

5. Essas mensagens foram dirigidas à «comunidade religiosa», coletivamente; porém, também se aplicam a cada indivíduo.

6. Essas mensagens são de natureza profética; mas cada período da história eclesiástica, ali retratado, repete-se de certo modo em cada século da era cristã.

7. Essas cartas fazem parte do N.T., o maior documento que já foi escrito, mediante a operação, pelo homem e para o homem. Como tais, merecem a nossa atenção.


«Caros amigos, que se passa conosco? Até que ponto essas sagradas cartas de nosso Senhor nos têm servido de 'doutrina, repreensão, correção e instrução na justiça'? Já nos temos demorado demais em anuir a essas solenes comunicações de Jesus às suas igrejas. Temos dado a eles um ouvido reverente e um coração atento? Muitíssimas verdades preciosas, como pérolas descidas dos céus, nos têm encontrado no caminho. Temo-nos valido delas, conforme chegam a nós, apropriando-nos delas, para o enriquecimento de nossas almas         Pr . Magel