MORNIDÃO ESPIRITUAL


                      A LUTA CONTRA A MORNIDÃO ESPIRITUAL
       
                                                   IGREJA BATISTA NOVOS TEMPOS

 "No zelo, não sejas remissos; sede fervorosos de espírito, ser­vindo ao Senhor". Rm 12.11


 A chama do Evangelho deve ar­der continuamente nos nossos corações, independentemente das situações externas ao nosso redor.


 Ap 3.14      Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:

Ap 3.15      Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!

Ap 3.16      Assim, porque és mor­no, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.

Ap 3.19      Eu repreendo e disci­plino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.

Ap 3.20      Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo.


 A Laodicéia 3:14-22

 A última carta é a mais lamentável, porque a igreja, imediatamente antes do segundo advento de Cristo, estará na fase mais corrompida. Cristo se achará do lado de fora dessa igreja, e não do lado de dentro. Simbolicamente, devemos entender que a igreja que merece somente ser vomitada da boca de Cristo pode ser qualquer igreja, qualquer denominação, qualquer indivíduo que encontrou satisfação em uma coisa que não o Senhor. Por igual modo, a congregação local ou pessoa que apóstata de Cristo, está nessa situação. As pessoas podem seguir o ateísmo ou a heresia nas crenças ou na prática diária. Existem muitos crentes professos que são ateus práticos, porquanto «agem como se Deus não existisse». Em seu credo, afirmam que «Deus existe». Mas em suas vidas asseveram que «Deus não existe». Esses são os filhos espirituais da igreja de Laodicéia. Historicamente, cremos que a igreja em Laodicéia, no fim do século II d.C, provavelmente poupada de qualquer grande perseguição, após ter atingido boa situação financeira, tornou-se uma igreja com o caráter descrito nestes versículos. Profeticamente falando, essa igreja pode representar:

 1. qualquer igreja que, na doutrina ou na prática, não tem a Cristo como Senhor;

 2. mais especificamente ainda, a igreja, como um todo, antes da «parousia» ou segundo advento de Cristo, que será apóstata.

 Cremos que o remanescente fiel de Filadélfia existirá lado a lado com a igreja de Laodicéia. A «sinagoga de Satanás», aludida na carta à igreja de Filadélfia (ver Ap 3:9), pode ser o equivalente à igreja de Laodicéia. Em seu aspecto profético, a igreja laodicense representa mais do que a indiferença ou a frieza espirituais. Representa a apostasia. Nos dias anteriores à volta de Cristo as condições serão péssimas, a tal ponto que, mediante a pessoa do anticristo, a chamada cristandade adorará ao próprio Satanás, o poder espiritual por detrás do anticristo. A verdadeira igreja, porém, composta de crentes de todas as denominações, terá de viver subterraneamente, porquanto haverá a pior perseguição religiosa de todos os tempos. Nós, e certamente os nossos filhos, veremos o cumprimento desses tremendos acontecimentos. Espera-se o cumprimento dessas predições para antes do fim do nosso século XXI.

 A partir da carta à igreja de Tiatira, há elementos nas sete cartas do Apocalipse que falam sobre a natureza da igreja dos últimos dias; mas esta carta à igreja de Laodicéia contém a plena descrição dessa igreja. Profeticamente falando, essa é a principal revelação de que dispomos acerca da natureza da igreja dos tempos do fim. A carta à igreja de Filadélfia descreve a natureza do remanescente daquela igreja, que não se esquecera do seu Senhor, e que recebeu promessas prodigiosas de bem-estar eterno.

«Soren Kierkegaard, que com tanta frequência se mostrou violentamente egoísta, amargo e psicopático, algumas vezes escreveu com singular penetração. Quando ele discutia sobre o fracasso da igreja em tornar real o cristianismo, estava levantando uma questão que os crentes de todos os séculos têm tido de enfrentar. A igreja de Laodicéia perdera o poder de fazer distinções morais e espirituais. Até mesmo quando usava grandes vocábulos, perdera o sentido dos mesmos. E já que ninguém pode gloriar-se com entusiasmo por uma verdade de cuja existência já nem temos mais consciência, os eclesiásticos dessa cidade se achavam na trágica posição de quem tem uma bandeira, mas não um país sobre o qual fazer drapejá-la. Eram, literalmente, cidadãos sem pátria, pois tinham perdido aquela terra do espírito, em que se acha a pátria da alma. O que precisavam era recuperar o lar da alma». (Hough, in loc).

 Cada igreja local de todos os séculos exibe algo de todas as sete igrejas do Apocalipse. Mas a igreja do fim dos tempos, com exceção do remanescente fiel, será dominada pela horrenda condição que havia na igreja de Laodicéia. Não terá coisa alguma do calor espiritual de Êfeso, do destemor de Esmirna, da lealdade ao nome de Cristo e à sua fé de Pérgamo, da fé e das boas obras crescentes de Tiatira, do remanescente imaculado de Sardes e da observância da Palavra e dos labores de Filadélfia.

 «Chegamos agora ao triste e terrível final do testemunho da igreja. O fato de ter sido abandonado o primeiro amor, em Éfeso, resulta agora no abandono do Senhor». (Newell, in loc).

 Podemos estar certos que a igreja de Laodicéia, ao invés de incorporar em si mesma qualquer bem que havia nas demais igrejas, está investida somente de todos os seus males. Não tem amor, pois abandonou seu primeiro amor (maldade em Éfeso). Habita onde está o trono de Satanás, tendo sido apanhada na imoralidade de Balaão (como sucedia em Pérgamo). Tolera e entroniza a Jezabel, por ser abertamente maligna e entregue ao paganismo (como se via em Tiatira). Poderá ter nome de ser uma igreja viva, mas na realidade está morta (como em Sardes). Não compartilha das características do remanescente fiel de Filadélfia, mas antes, na realidade, é a «sinagoga de Satanás», que perseguia aos fiéis crentes filadelfianos. Mostra-se distintamente miserável, pobre, cega e nua. Esqueceu-se da fonte de águas vivas. Haverá algum vencedor nessa igreja?



3:14    Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o principio da criação de Deus:


«...anjo...» Não aponta isso para o pastor humano da igreja, e, sim, ao seu guardião angelical. As «sete estrelas» são os «sete anjos», conforme somos informados em Ap 1:20. O tema dos «anjos» deveria melhorar nossa estimativa sobre o que está envolvido no ministério angelical. Bem provavelmente muitas das manifestações de dons espirituais são angelicamente mediadas. (Ver Hb 1:14 sobre o ministério dos anjos).

«...igreja...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a «igreja», ver Ef 3:10 dando um click aqui).

 «...Laodicéia...» Essa era uma cidade da província romana da Ásia Menor, na parte ocidental da moderna Turquia Asiática. No século III A.C., foi fundada uma cidade no local, por Selêucida Antíoco II, quando então recebeu nome baseado no nome próprio de sua esposa, «Laodice». Nos tempos romanos, sua posição geográfica favorecia seu desenvolvimento e prosperidade. Jazia na importante intersecção de estradas principais da Ásia Menor, que de Laodicéia ia para o ocidente, até aos portos de Mileto e Éfeso, cerca de cento e sessenta quilômetros de distância. Para o oriente, essa mesma estrada conduzia ao planalto central, e, dali, até à Síria. Uma outra estrada, que atravessava Laodicéia, corria para o norte, para a capital principal, Pérgamo, e também para o sul, até às costas de Ataléia. Essas estradas encorajavam o comércio em Laodicéia, que se tornou um centro bancário e comercial. Várias indústrias surgiram ali, como a da lã, a de tabletes medicinais e a de fabrico de roupas. Após os tempos neotestamentários, aumentou mais ainda a prosperidade material de Laodicéia. Até mesmo durante os dias da república, e nos dias dos primeiros imperadores, já era uma das mais importantes e florescentes cidades da Ásia Menor. Laodicéia, na qualidade de cidade-mãe, veio a incorporar uma área onde havia nada menos de vinte e cinco aldeias, de tal modo que era uma autêntica «metrópole», conforme é chamada em inscrições daquele lugar, que sobreviveram até nós.

 A cidade estava sujeita a constantes terremotos, o que, eventualmente, forçou o seu abandono. Atualmente é um lugar desértico, 'mas muitas ruínas testificam sobre sua antiga grandeza. A arqueologia tem conseguido recuperar uma pista de corridas, três teatros (um dos quais tem cento e trinta e seis metros de diâmetro), além de numerosos outros itens.

O trecho de Cl 4:15,16 mostra-nos que, nos tempos de Paulo, Laodicéia já contava com uma comunidade cristã. Poderia ter sido iniciada mediante o trabalho de evangelistas enviados de Éfeso, a capital cristã daquela região, talvez um trabalho patrocinado pela igreja de Colossos. Alguns estudiosos têm pensado que a epístola chamada aos Efésios, na realidade foi a carta mencionada naqueles versículos da epístola aos Colossenses; mas essa teoria não tem muita coisa que a recomende.



Já que Laodice era um comum nome feminino, nos tempos do N.T., seis cidades receberam tal nome, no período helenista. Por essa razão, a Laodicéia de nosso texto era chamada de Laodicéia do Lico, isto é, do rio Lico, conforme assevera Estrabão (578). Ficava localizada na margem sul desse rio, a dez quilômetros ao sul de Hierápolis e a dezesseis quilômetros a oeste de Colossos.

 Existe uma epístola apócrifa de Paulo aos laodicenses, que aparece neste comentário, no fim da exposição sobre a epístola aos Colossenses.

 «...escreve...» A ordem de «escrever», frequente neste livro de Apocalipse (que no grego significa «revelação»), faz deste livro exatamente isso (ver Ap 1:11,18; 2:1,8,12; 3:1,7,12,14; 14,13; 10:9 e 21:5). Seu intuito não era ser um «livro selado», conforme foram vários outros apocalipses. Somente no caso do julgamento dos trovões é que ao autor sagrado foi ordenado «Não escrevas», porquanto aqueles juízos foram selados para uma revelação a ser dada no fim dos tempos. (Ver Ap 10: acerca disso).

 «...estas cousas...», isto é, a carta de Laodicéia, que se segue:

 «...diz o Amém...» Em cada uma das sete cartas do Apocalipse, Cristo recebe um título e descrições diferentes; e, em cada caso, esses elementos se aplicam especialmente à igreja que está sendo endereçada. Assim, no caso da igreja em Éfeso, Cristo é visto a andar entre as igrejas, pois sua presença e poder foram especialmente fortes na era apostólica. No caso da igreja dos mártires, Esmirna, Cristo se caracteriza como aquele que morreu, mas está vivo para sempre. No caso da corrupta igreja de Pérgamo, Cristo mostra-se como aquele que tem a espada aguda de dois gumes, com a qual promete julgamento. No caso da igreja de Filadélfia, aquele com uma «porta aberta de serviço», Cristo é visto a brandir as «chaves de Davi», que ele pode usar com toda a autoridade, para qualquer propósito que queira, especialmente para a admissão no reino de Deus. Assim também no caso presente, da igreja apóstata de Laodicéia, Cristo continua sendo o «Amém». Ele continua a ser a sua própria confirmação, a prova de seu próprio ministério e de sua pessoa, embora os membros da igreja laodicense o tivessem abandonado. Cristo continua sendo uma «testemunha fiel e verdadeira», apesar de terem rejeitado o seu testemunho e de se terem mostrado infiéis à sua causa. Cristo continua sendo o «princípio», a «causa primária», tanto da criação física quanto da criação espiritual, a despeito do fato que os crentes de Laodicéia não reivindicassem à vida eterna, por intermédio dele, não o considerando mais como o Alfa e o Ômega.

 «...Amém...» É possível que isso seja um eco do trecho de Is 65:16, onde Deus é chamado de «...Deus, que dirá amém...». O autor sagrado não hesita, em lugar nenhum do Apocalipse, de dar a Cristo toda a honra atribuída, nas páginas do A.T., a Deus Pai. Isso é prova insofismável de sua divindade. Em todo o N.T., a única ocorrência da palavra Amém, como nome próprio, se verifica aqui. (Ver Jo 1:51, quanto ao seu uso como confirmação ou imperativo). Essa palavra pode ser uma afirmação: «É assim». Ou pode ser um imperativo: «Assim seja!» Desenvolveu-se na prática litúrgica judaica, e era vocábulo usado nos cultos de adoração como afirmação de fé na validade ou veracidade da mensagem que era lida ou proferida. Em face do que se diz neste parágrafo, consideremos os pontos seguintes:

 Ao usar o termo «Amém», Cristo afirmou:

 1. A validade da mensagem cristã, a qual é a Palavra de Deus para os homens. Ele mesmo é o tema central dessa mensagem.

 2. Cristo é a afirmação da boa vontade de Deus para com os homens.

 3. Cristo é o meio divino que confere aos homens as bênçãos motivadas por essa boa vontade; é o mediador entre Deus e o homem, e quem justifica o homem perante Deus.

4. Cristo é o «Amém» na qualidade de verdade de Deus, como aquele que transmite essa verdade aos homens.

5. O «Amém» é a garantia dada por Deus aos homens de que ele se importa com eles; o «Amém» é a expressão divina de amor.

6. O «Amém» confirma a validade do pacto de Deus, sendo o seu promulgador.

7. O «Amém» de Deus faz contraste com a corrupção contra a verdade, por parte de indivíduos como os laodicenses, que tinham esquecido a Palavra de Deus, passando a ter como seus deuses o dinheiro e o próprio «eu». O testemunho de Cristo é sempre veraz e afirmativo, sem importar os desvios dos homens.

«...a testemunha fiel e verdadeira...» A sua mensagem é veraz; o seu serviço é completo, sem quaisquer falhas. Ele não retém coisa alguma, e tudo quanto ele afirma é tanto veraz por si mesmo como concorda com as exigências divinas sobre aquilo que deveria ser dito aos homens. Isso pode ser contrastado com a infidelidade dos homens, com a sua falsidade, conforme se via na igreja de Laodicéia. Jesus, o Cristo, não retém coisa alguma proveitosa, nem poupa palavra de advertência ou consolo, agindo sempre exatamente conforme é exigido pelo momento. Em Cristo é que encontramos tudo de que precisamos, pois aquilo que Deus diz aos homens, di-lo por meio de Cristo.

 O termo grego aqui traduzido por testemunha, também pode significar «mártir», embora seu significado original fosse, realmente, «testemunha». O presente texto não parece indicar a ideia de «mártir». «Testemunha», porém, é palavra que se coaduna com as exigências do contexto. É mister que uma testemunha seja inerentemente veraz e fiel, cumprindo sua missão segundo essas qualidades pessoais. Uma testemunha de nada vale, se não disser a verdade. A igreja de Laodicéia projetou no mundo a imagem da falsidade. Em contraste com ela, figurava a pessoa de Cristo, o verdadeiro. A igreja da apostasia, no fim dos tempos, será uma igreja falsa, que negará ao verdadeiro Cristo. Aceitará o anticristo e dará crédito à mentira. O anticristo será uma «testemunha falsa». Na introdução ao comentário, no artigo intitulado A Tradição Profética e a Nossa Era, é descrito o anticristo, o qual, segundo cremos, surgirá no palco mundial antes do fim do nosso século XXI. Quando a sua falsidade e malignidade forem desmascaradas, então os homens se lembrarão de novo da Testemunha fiel e verdadeira, Cristo.

 Uma testemunha precisa ter as seguintes qualidades: 1. Ser inerentemente veraz, genuína e sincera. 2. Estar segura de sua mensagem: se possível, deve ser testemunha ocular daquilo sobre o que testifica. 3. Deve ser competente para entregar a sua mensagem, convencendo aos ouvintes da realidade daquilo que diz. 4. Estar disposto a entregar sua mensagem, mostrando-se zelosa no cumprimento da sua missão.


«...o princípio da criação de Deus...» Essas palavras podem ser confrontadas com a passagem de Cl 1:18. Naquele versículo, Cristo é chamado de «princípio», como a sua nona superioridade, acima de todos os outros seres, dentre uma lista de doze superioridades. Acerca disso, consideremos ainda os pontos abaixo:

 1. Nessa expressão não há qualquer ideia que Cristo foi o «primeiro» dos seres criados. Isso é contrário a toda a cristologia do N.T. Aquele que é o Criador não pode, sob hipótese nenhuma, fazer parte da criação. Cristo é o Criador (ver Cl 1:16), distinto da sua criação. Cristo é «eterno» (ver Jo 1:1 e Hb 7:3), pelo que não teve «começo» dentro do tempo.

 2. A palavra grega aqui usada, «arche» («princípio»), pode ter a ideia de «originador», ou seja, o «iniciador» da criação divina. Esse é o uso que se acha no evangelho de Nicodemos xviii.12, onde Satanás é chamado de «começo do pecado», o que, sem dúvida, significa o «originador do pecado», ou «iniciador do pecado».

3. Cristo é o «iniciador tanto da criação física como da criação espiritual, da antiga e da nova ordens. Ele é a fonte originária de toda a vida, física e espiritual, e, portanto, é o seu «princípio».

 4. Cristo é igualmente a causa primária, da qual todas as demais causas dependem. A filosofia grega utiliza o termo «arche» com esse sentido. Em Jos. C. Apo. 2,190, Deus é chamado de «arche» ou «primeira causa». A «causa primária» é a «fonte» de toda a criação, de todos os seres, de toda a existência.

 5. Espiritualmente falando, Cristo, na qualidade de Pioneiro do Caminho (além de ser o próprio «Caminho»), foi o primeiro a mostrar como a «vida espiritual» é transmitida aos homens. Isso significa que ele foi o primeiro homem a possuir tal forma de vida, da qual, então, compartilha com seus remidos. (Ver Jo 5:25,26 e 6:57). Isso também envolve um sentido escatológico: na nova criação, Cristo produzirá a nova criação, porquanto ele é o primeiro exemplar daquilo que Deus tenciona fazer com os homens.

 6. Alguns intérpretes fazem conexão do que aqui é dito com o trecho de Ap 1:5 (trecho paralelo a Cl 1:18: «...primogênito dentre os mortos...»); e, nesse caso, Cristo é encarado como o primeiro ser da nova criação, que vem à luz mediante a ressurreição.



7. Dentre esses vários significados possíveis, o de número dois é o mais provável. Entretanto, isso não exclui várias das outras ideias. Cristo é o originador absoluto da criação, do que se conclui que ele também é o originador da «criação espiritual».

A lição ensinada aqui é que Cristo é o Alfa de toda a criação, sua fonte de vida, bondade e bem-estar. Os membros da igreja de Laodicéia ignoravam tudo isso, colocando no lugar dele, como fonte de satisfação, ao dinheiro e ao próprio «eu». O trecho de Cl 1:16 ensina que Cristo é o Alfa e o Ômega da criação, a sua causa «primária» e também final. Isso, de acordo com a linguagem aristotélica, quer dizer a «fonte» e o «alvo» da criação.


Dentro do contexto da epístola aos Colossenses, Cristo aparece como o «arche», em contraste com os «archai», ou seja, em contraste com os mediadores e poderes angelicais. Somente ele pode servir de mediador entre Deus e nós, ainda que outros «poderes» sejam seus servos, recebendo dele uma autoridade delegada.

Outras ideias sobre este décimo quarto versículo:

 1. Este versículo indica a familiaridade do vidente João com a epístola aos Colossenses.

2. Quando os homens perdem de vista a Cristo, como Fonte de tudo, abandonam o manancial de todas as bênçãos espirituais. Algum dia todos os homens terão de reconhecê-lo naquilo que ele é, conforme se sabe no primeiro capitulo da epístola aos Efésios e em Fp 2:8 e ss.; e isso servirá de imenso benefício para todos.

 3. A autoridade suprema de Cristo é evidente neste versículo. (Pode-se comparar isso com Ap 1:18; 2:8; 3:21 e 5:13). Notemos que ele usa essa autoridade em favor do bem, e não em favor do mal, para curar, e não para destruir.

4. O titulo «Amém» mostra Cristo como a «Verdade» de Deus. Cristo é a Verdade personificada.


5. Deus não se deixou ficar sem uma «Testemunha». Na qualidade de testemunha de Deus, Cristo implica no «teísmo» essencial. Em outras palavras, Deus não somente criou mas também se faz «presente» em sua criação, mantendo «interesse» pela mesma, julgando e recompensando, intervindo e guiando. Isso nega o «deísmo», a doutrina oposta, que diz que Deus ou algum outro Poder criou, mas abandonou sua criação, deixando-a entregue às «leis naturais».

6. Todas as coisas, eventualmente, haverão de «centralizar-se» em torno de Cristo, de tal maneira que ele venha a ser «tudo para todos», conforme se aprende no primeiro capítulo da epístola aos Efésios, sobretudo em seus versículos dez e vinte e três. Portanto, ele é o «ômega» da criação. O presente versículo revela-nos que Cristo é o «Alfa» da criação. (Isso pode ser comparado com Ap 1:8, que declara: «Eu sou o Alfa e o ômega, diz o Senhor Deus...» Ver também Ap 22:13).

7. «O Primeiro Progenitor, Produtor e Causa Eficiente de toda criatura; o Autor da antiga criação, que fez tudo do nada, no começo do tempo; e também da nova criação, o Pai eterno de tudo quanto é feito nova criatura; o Pai do mundo vindouro, ou da nova era...» (John Gill, in loc).

8. As palavras de um hino egípcio dizem: «Ele é o primeiro, e existia quando nada ainda existia; qualquer coisa que existe, ele o fez após ele existir. Ele é o Pai dos Começos... Deus é a verdade, ele vive pela Verdade, ele vive na verdade, ele é o rei da verdade».


3:15    Conheço as tuas obras, que nem es frio nem quente, oxalá foras frio ou quente!

«...Conheço as tuas obras...» Em outras palavras: «Conheço tuas condições espirituais em geral».

«...Conheço as tuas obras...» Consideremos aqui os pontos seguintes:

1. É salientada assim a onisciência de Cristo. Essa declaração é reiterada no caso de todas as sete igrejas.

2. O interesse de Cristo por sua igreja é focalizado, porque ele «conhece» as suas condições, a fim de louvar ou de repreender à mesma, tudo o que visa produzir modificações espirituais favoráveis.

3. As «obras» que Jesus «conhece» representam as «condições espirituais em geral» da igreja, e não apenas aquilo que chamamos de «serviço ativo». Portanto, a palavra «obra» neste caso, indica o «caráter geral», a natureza da pessoa que age, mas também aquilo que ela faz. Equivale à expressão vetotestamentária «temor do Senhor», expressão usada a fim de exprimir as condições «espirituais em geral» daquele que professava tentar agradar a Deus, reconhecendo o seu senhorio. O termo geral, «obra» é desdobrado, neste mesmo versículo, para que tenha os seguintes significados:

a. Labor (serviço ativo, prestado sob pressão).

b. Paciência (resistência nesse labor, e sob as perseguições).

c. Ódio e oposição ao mal e aos atos malignos, de homens que pervertem o evangelho e promovem a impiedade em nome de Cristo.

d. Cristo, que é o Senhor, vê através de todos os disfarces e pretensões, apresentando autêntica avaliação da condição de cada indivíduo, bem como a condição geral de cada assembleia local.



Ele não vê o que «esperamos ser», nem o que «temos feito», nem o que «pensamos que podemos fazer», e, sim, as nossas condições reais, o nosso caráter. O seu poder, que «tudo vê e tudo sabe», é, ao mesmo tempo, uma ameaça e um conforto. É uma ameaça aos hipócritas e pretenciosos; é uma ameaça para aqueles que brincam com a fé religiosa. Mas é um conforto aos fiéis, que são perseguidos e desprezados por outros, dentro ou fora da igreja. Isso nos promete uma recompensa justa, bem como a contínua ajuda para a concretização dos ideais espirituais do cristianismo.

«Nossas tristezas, que talvez não possamos relatar, nossas tribulações, que ninguém mais conhece, nossas dificuldades, nossas tribulações, os ais e as dores que jazem ocultas em nossas almas, nossas fraquezas e nossas lutas íntimas, nossos temores e dúvidas ocultos, nossa honestidade quanto a coisas que outros censuram e criticam, nossos verdadeiros motivos e esforços, que os outros não entendem, tudo é conhecido por nosso amoroso Salvador, o qual pode ser tocado com o senso de nossa debilidade, ordenando-nos que tenhamos bom ânimo, porque a sua graça nos será suficiente». (Seiss, in loc).

«...nem és frio nem quente... » Somos informados que Laodicéia não tinha suprimento de água próprio, mas que tinha de ser servida por um aqueduto. Nesse processo, a água chegava morna. Os laodicenses se assemelhavam à sua água. O simbolismo fala sobre a indiferença «religiosa», sobre a superficialidade, sobre a falta de resolução.

Os significados da Mornidão Espiritual:

1. Historicamente, supomos que uma das coisas nisso envolvida era a recusa da igreja de abandonar abertamente o culto ao imperador, em que os imperadores romanos eram adorados como deuses. Adoravam ao imperador, ao mesmo tempo que diziam tratar-se apenas de uma formalidade, não o fazendo de coração. Dessa maneira, pois, evitavam a perseguição e participavam amplamente das riquezas da cidade. Paralelamente a tudo isso, procuravam manter uma «igreja cristã». Não eram quentes e nem frios, mas uma espécie de igreja cristã-pagã.

2. Profeticamente, cremos que a mesma coisa ocorrerá de novo. O anticristo exigirá a lealdade dos homens, e até mesmo a adoração da parte deles. Alguns elementos anuirão às suas exigências, e apesar disso se chamarão cristãos. Uma forma grandemente pervertida de cristianismo emergirá dessa situação; e o próprio Satanás, indiretamente, tornar-se-á o deus da «igreja», onde será adorado. O vidente João queria que não houvesse transigências ante o «culto ao imperador», e nem concessões ao mesmo. Aqueles que tentam uma posição «equidistante», através das pressões e perseguições que passarem, são detestáveis, causadores de náusea, semelhantes à água morna. Tal atitude deve ser totalmente rejeitada, e os que assim agem serão vomitados, por assim dizer, tão forte será a reação da verdadeira piedade e a lealdade cristã, em tal situação.



3. Essa ideia também se aplica a qualquer crente individual ou igreja que realmente não se tenha decidido a ser antipagã em seus costumes. São apenas e tão-somente «meio-crentes», nunca conseguindo qualquer avanço espiritual firme e permanente. Tais cristãos não são «frios» à mensagem cristã, isto é, não a rejeitam total e obviamente. Mas também não são «quentes», pois não agem decisivamente, de acordo com a mensagem cristã. Facilmente são impelidos por um sermão ou lição. Mas nunca aplicam, realmente, a mensagem a si mesmos.

4. A «mornidão» deles se deve ao fato que sua fonte de satisfação e razão de vida está fora de Cristo, embora não se disponham a rejeitar a Cristo aberta, abrupta e decisivamente. De acordo com o sistema deles, Cristo não solucionou todos os problemas de lealdade. A questão sobre a quem ou a que devem consagrar suas vidas e energias, é deixada em aberto.

5. No caso de alguns, a mornidão não significa que não sejam culpados de pecados abertos e grandes, como o caso dos nicolaítas, dos seguidores de Baal, etc, mas também não são conhecidos por uma ação positiva e dedicada, em favor da causa de Cristo. A principal característica deles é a «complacência» com as coisas, conforme elas são. Não veem qualquer razão em Sião para se apressarem e cumprirem uma elevada missão. Estão no mundo e gostam do mesmo. Para esses, a igreja é apenas uma extensão do mundo, e não algo do qual se devam separar.

6. Uma outra característica da mornidão é o não-reconhecimento de um estado espiritual deficiente, a satisfação com aquilo que poderia ser chamado de «espiritualidade falsa». Juntamente com a mornidão vai a cegueira e a insensibilidade espirituais.

7. «Até mesmo o repúdio franco da religião pelo menos é mais promissor, do ponto de vista ético (ver Arist. Mc. Eth. vii. 2-10), do que lealdade morna, do que a complacência a qualquer falha. Quem está de fora (por ser incrédulo) pode ser convencido e conquistado; há esperança para ele, pois não está sob ilusão acerca de sua real relação para com a fé. Porém, que se pode fazer com pessoas que são cristãos nominais, incapazes de reconhecer que precisam de arrependimento, e que Jesus, na realidade, está fora das vidas deles (ver o vigésimo versículo)». (Moffatt, in loc).

8. O espírito deste versículo é similar ao do vigésimo terceiro capítulo do

evangelho de Mateus, onde Jesus denunciou os líderes religiosos de sua época, taxando-os de «hipócritas», porquanto se preocupavam somente com questões externas e diminutas infrações da lei, ao mesmo tempo que viviam atolados em grandes males e na insensibilidade espiritual.

9. O entusiasmo espiritual (estado de quem está «quente») não é o único elemento necessário na fé religiosa; pode até mesmo ser perigoso, se não existir paralelamente à fé e à dedicação. Mas, aliado a estes, é ideal e poderoso em suas operações e resultados.



10. Precisamos ser «sensíveis» para com os nossos «defeitos» e para o que fica «irrealizado» em nossas vidas, não dando atenção somente àquilo que já possuímos, aos progressos já feitos. A mornidão espiritual impede isso.

«...Quem dera fosses frio, ou quente!....» «O termo grego «ophelon» é usado no indicativo passado, no grego posterior, a fim de apresentar um desejo impraticável; mas, quando usado no futuro do indicativo (ver Gl 5:12; por exemplo), para expressar um desejo praticável. Mas aqui, tal como em II Co 9:1; temos «ophelon» usado no passado do indicativo, expressando uma possibilidade, embora, no presente, ainda não se tivesse realizado». (Charles, in loc). O grego helenista não observava a exatidão minuciosa do grego clássico, e nem se mostrava consistente em seus usos.

Para o bem e o mal, em igual inclinação, Sou tanto um demônio como sou um homem. (Erskine)

 Adam Clarke (in loc.) supõe que eram eles «bons demais para irem para o inferno e maus demais para irem para o céu. Era similar ao caso de Efraim e Judá, em Os 6:4: 'Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? porque o vosso amor é como a nuvem da manhã, e como o orvalho da madrugada, que cedo passa'. Tinham boas disposições, que eram cativadas por más inclinações; e tinham más disposições que, por sua vez, cediam a boas inclinações. E a justiça divina e a misericórdia pareciam perplexas em saber o que fazer com eles ou contra eles. Esse era o estado da igreja de Laodicéia, e nosso Senhor expressa aqui, nesse desejo aparente, a mesma coisa que foi expresso por Epicteto, Ench., cap. 36: 'Tu deves ser um tipo de homem, ou homem bom ou homem mau'».

Outras ideias sobre o décimo quinto versículo:

 1. Não se deixavam conduzir totalmente pelas doutrinas falsas, mas também não se dedicavam totalmente à verdade. Não eram tão maus quanto alguns de seus compatriotas pagãos, mas também não estavam verdadeira­mente interessados em ser crentes autênticos.

 2. Não eram realmente «frios e mortos», mas também não eram «quentes e vivos». Não correspondiam entusiasticamente a Cristo, mas achavam satisfação e complacência no próprio «eu» (ver o décimo sétimo versículo).

3. Estavam no mundo e pertenciam a ele; mas, ao mesmo tempo, procuravam ensinar a «religião» e o respeito ao nome de Cristo.

4. Professavam estar na carreira cristã, a fim de obterem o prêmio, mas cuidavam para correr sem nunca suar.



5. Tinham considerado o custo de combater na guerra cristã, mas, assustados, mantinham-se no ócio, esperando negociar com o mundo, procurando estabelecer com ele a concórdia.

6. Tinham um pietismo senil, que jamais poderia passar como zelo pela verdade e como piedade.

7. Tinham uma suposta piedade, sem o poder que a presença de Deus, em nossa vida, certamente produz.

8. Na expressão religiosa deles não havia auto sacrifício, não havia cruz.

9. Frio. Total insensibilidade para com Cristo e sua verdade; esse é o estado daqueles que ainda não foram «atingidos» pelo evangelho ou que o rejeitam totalmente. «Quente». Zelo autêntico em favor de Cristo, em que se dá caloroso acolhimento à sua verdade; essa é a atitude que põe em prática o que se sabe ser a verdade, a lealdade a Cristo sob circunstâncias difíceis, o trabalho feito com zelo e devoção.

10. Estão envolvidos o orgulho espiritual e a indiferença. Aqueles crentes diziam: «Não temos necessidade de coisa nenhuma». É que não podiam perceber a verdade com clareza, mas apenas as beiradas externas das restrições que eles impunham a si mesmos.

11. «A igreja em Laodicéia não tinha fervor de espírito no serviço do Senhor; e nem se mostrava zelosa em favor das verdades do evangelho; em favor de suas ordenanças, em favor da casa de Deus e sua disciplina. Nem se opunha ela calorosamente ao pecado e a todo erro e caminho falso». (John Gill, in loc).

12. Alguns estudiosos pensam que Arquipo é o «anjo» ou ministro desta igreja. Fora dito a ele: «Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires» (C3 4:17). Naturalmente, dificilmente essa pode ser a questão em foco. Arquipo era de Colossos, e não de Laodicéia, e dificilmente continuaria vivo, quando foi escrito o livro de Apocalipse. Contudo, o seu caso prove uma excelente lição objetiva, como ilustração deste versículo; e a referência em Colossenses desenvolve a ideia.

13. Aqueles membros da igreja de Laodicéia estavam debaixo da influência do cristianismo, mas não sob o seu poder.

14. Eles tinham boas atitudes, mas sem a piedade.

 15. Talvez fossem rígidos e minuciosos acerca da sã doutrina, mas descuidados e doentios na vida espiritual. Sua preocupação era «com o que criam», mas não tinham o menor interesse acerca de «quem» depositavam sua confiança. Tal crença não os levava a entregar a própria alma aos cuidados de Cristo, embora disso é que consista verdadeiramente a fé cristã.



16. Mui provavelmente, Laodicéia era uma igreja de crença fácil, cujo evangelho era destituído do imperativo moral. Não poderá haver glorificação futura, sem a santificação presente; e a glorificação é o grande alvo na direção do qual prossegue a salvação.

3:16    Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei do minha boca.

O resultado da condição descrita no décimo quinto versículo, a de «mornidão», é que a igreja de Laodicéia agia como um emético. Tal simbolismo visa trazer as nossas mentes as ideias de «novo», «torpeza» e «desgosto». Essas são as atitudes que Cristo assume, em face do «tipo de cristianismo» que era exibido em Laodicéia. A água morna é usada com sucesso, por algumas pessoas, como um emético; e o fato que água morna não causa vômito em todos, e nem é necessariamente repelente para outros, não destrói a intenção do autor sagrado. «Total rejeição», conforme o vidente João nos mostra, é o resultado final da lealdade morna a Cristo. O cristianismo não pode ser vivido sem a cruz. Um cristianismo sem moral, sem cruz, indiferente, terá de fracassar fatalmente, sendo condenado por sua inerente «nulidade». É conforme diz Hough (in loc): «Teria Cristo morrido sobre a cruz e sofrido tão grande paixão, a fim de produzir discípulos assim mornos?... a pergunta responde a si mesmo, nas palavras: '...estou a ponto de vomitar-te da minha boca'».

«...vomitar...» No grego é «emeo», «cuspir» ou «vomitar». Desse termo é que se deriva o vocábulo moderno «emético», um agente que causa vômito. É possível que o simples ato de «cuspir» esteja aqui em foco, com o esvaziamento do conteúdo do estômago. A mesma lição é ensinada, de um modo ou de outro. A pessoa ou a igreja morna é repelente, espiritualmente falando; e tal condição eventualmente provoca uma ação decisiva da parte de Cristo, o Senhor, para punição de tal pessoa ou igreja.

«A linguagem é muito vivida, embora sem ornatos. Os laodicenses não somente foram denunciados, mas foram denunciados com a máxima abominação. Tal denúncia não tem paralelo nas outras cartas (do Apocalipse). Não está em pauta um julgamento especial e imediato, e, sim, o juízo final». (Charles, in loc).

Outras ideias sobre o décimo sexto versículo:

1. Cumpre-nos observar «...o desgosto divino ante a religião morna. Cristo, diz o profeta, enoja aos mornos... A exclusão da vida divina é um dos lados da penalidade, e o desmascaramento humilhante perante os homens é o outro (ver o décimo oitavo versículo)», (Moffatt, in loc).

2. «Rejeitar com desgosto extremo». (Robertson, in loc).


3. «Os médicos usam a água morna para provocar o vômito. Bebidas frias e quentes eram comuns nas festas, mas nunca mornas. Havia fontes frias e quentes perto de Laodicéia». (Fausset, in loc).



4. «O cristão professo morno é aquele que serve a Deus e a Mamom; que capenga entre duas opiniões, que não sabe qual religião é melhor, importando pouco com qualquer delas, embora continue cumprindo seus deveres religiosos, posto que na indiferença... (ele) não se preocupa com a vida e o poder da piedade, e se apega somente às suas formas externas... (isso) era muito repelente para Cristo, o que explica a ameaça: '...eu te cuspirei da minha boca...'» (John Gill, in loc).

5. «Esse símbolo indica a temível maldição, a saber, a total rejeição, por parte de Cristo, como algo que provoca nojo». (Lange, in loc).

6. «Corriam o perigo de trair ao seu Senhor, à semelhança de Judas, com um beijo». (Carpenter, in loc).

7. «Observemos qual grande diferença havia entre o que eles pensavam de si mesmos e o que Cristo pensava sobre eles». (Matthew Henry, in loc).

8. «Caros amigos, essas são verdades soleníssimas, e não devemos pô-las de lado, como se não nos dissessem respeito. Talvez nunca houve tempo como os nossos dias, em que os homens se entregam à religião com meia-lealdade e satisfeitos consigo mesmos». (Seiss, in loc).

 3:17  Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;

A igreja de Laodicéia avaliava a si mesma segundo os padrões de riqueza material, pois estava imersa na mentalidade do mundo. Essa igreja tanto estava no mundo como fazia parte do mesmo. Por essa razão é que era totalmente ignorante da sua verdadeira situação espiritual.

Laodicéia era cidade que ficava no cruzamento de rotas comerciais da Ásia Menor. Tinha várias indústrias ricas e era centro bancário. Cícero trocou ali suas apólices do tesouro por dinheiro (ver Ad Fam. iii.5; Ad. Att., v.15). Nos anos de 60 - 61 D.C., quando a cidade foi pesadamente danificada por um terremoto, não precisou apelar para um fundo federal, a fim de ajudar em sua reconstrução, tão vastas eram as suas riquezas. (Ver Tácito, Anais xiv.27). Os cristãos dali tiveram o cuidado de não provocar a ira das autoridades civis, cooperando com o «culto ao imperador», que exigia que o imperador romano fosse adorado como uma divindade. Isso significa que aqueles cristãos sabiam o que é transigir, tendo podido escapar completamente às perseguições, ao martírio e ao confisco das propriedades, ao passo que, em outros lugares da Ásia Menor, essas perseguições fossem comuns, e geralmente devastadoras para as comunidades cristãs. Obtiveram o que queriam: riquezas materiais. Mas perderam aquilo ao que não davam atenção: espiritualidade real. Tolamente imaginavam que «a piedade é fonte de lucro», como se a prosperidade fosse sinal da aprovação divina às suas vidas.



«...nem sabes... » (Isso pode ser contrastado com o fato que Cristo conhecia perfeitamente bem a condição deles, no décimo quarto versículo). Lembremo-nos que as sete cartas do Apocalipse representam condições que devem existir em qualquer era da igreja. A consciência e o discernimento espirituais são qualidades raras em qualquer época. A tendência sempre será a de «sobrestimarmos» a nós mesmos. Antes de tudo, julgamos as coisas segundo falsos padrões; e, em segundo lugar, conforme as nossas «intenções», e não segundo as realidades espirituais. Mediante a combinação desses dois fatores, terminamos sabendo como nos enganar­mos a nós mesmos, realmente. Portanto, não é de admirar que encontremos aqui a exposição de um grande princípio espiritual—com demasiada frequência não nos damos contas de nosso estado espiritual empobrecido; com demasiada frequência nos elogiamos de realizações espirituais, ao passo que, de conformidade com todo o juízo verdadeiro, essas realizações são deficientes.

«...estou rico...» Materialmente; mas também «espiritualmente», conforme eles entendiam. Porém, a pobreza espiritual daquela igreja era tão aguda que só podiam ser classificados como «miseráveis». Sem dúvida alguma comparavam-se aos que «nada possuem», à palha e aos párias da sociedade; e intimamente agradeciam aos deuses que não eram como «aqueles» outros, a escória da sociedade. A denúncia contra eles, pois, foi tremendamente amarga. Eles é que eram os que «nada têm», a «escória» e os «miseráveis» da sociedade, porque estavam espiritualmente paupérrimos, e nem ao menos percebiam o fato.

«...não preciso de cousa alguma...» De nada que lhes parecesse importante, já que sua mentalidade era carnal. No entanto, espiritualmente falando, faltava-lhes tudo quanto é desejável. «De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento» (I Tm 6:6).

«...infeliz...» Aqueles membros da igreja de Laodicéia supunham que a felicidade é determinada pelo saldo credor na conta bancária, ou pelo acúmulo de prazeres carnais que alguém pode dar-se ao luxo de ter. Eram realmente mundanos, cuja «religião» era apenas um frontispício. A fé deles não requeria a transformação espiritual; não tinham qualquer imperativo moral. Era uma crença fácil, para uma época fácil. Espiritualmente, porém, eram «infelizes», pois não podiam reivindicar as «bênçãos» trazidas pela piedade. Em contraste com isso, os cristãos primitivos consideravam-se «felizes», até mesmo sob as perseguições causadas por sua lealdade a Cristo. Mas os laodicenses sentiam-se felizes por terem transigido com Roma, mostrando-se assim fiéis ao paganismo imperial.

Notemos aqui o uso do artigo definido, no grego, «...o infeliz...», em contraste com os «pobres miseráveis» da sociedade que lamentavam, por não serem estes ricos como aqueles. A raiz do termo grego aqui usado indica «suportar provação», ou seja, estar debaixo de pressões econômicas, ou outras pressões materialistas, físicas. Aqueles laodicenses, entretanto, não sofriam tais pressões e provações, e supunham que não eram os «perseguidos pela provação», ou seja, não eram os «infelizes». Porém, a péssima espiritualidade deles fazia deles os autênticos «pobretões» da sociedade.



«...miserável...» Não precisavam mendigar o pão; seus filhos viviam bem vestidos; contavam com bons cuidados médicos; havia abundância de dinheiro para as diversões, viagens e outros tipos de interesse pessoal. Não faziam parte da classe aldeã, que sofria privações. Na realidade, porém, eram contados entre os «miseráveis», porquanto suas almas morriam à míngua. Tinham «dó» dos párias da sociedade; a avaliação divina, entretanto, condoía-se deles, pois mereciam dó.

Notemos o enfático «...tu...», que acompanha toda essa sentença. Reputavam como miseráveis, pobres, cegos e nus aos «outros». Na realidade, porém, eles é que mereciam pena.

A mornidão espiritual fizera bem o seu trabalho pernicioso; dentre todas as igrejas do Apocalipse, a despeito dos vícios e problemas que tinham, a de Laodicéia é considerada a pior.

«...pobre...» As notas introdutórias ao décimo quarto versículo, bem como aquelas que apresentam o atual versículo, mostram as grandes riquezas materiais da cidade de Laodicéia, uma autêntica metrópole. Os ricaços desprezavam aos poucos esmoleres da cidade, que não compartilhavam dessas riquezas. Mas o olho discernidor de Cristo, o Senhor, via claramente onde estava a verdadeira pobreza. Estava com aqueles que dilapidavam suas oportunidades espirituais, transigindo com um mundo hostil. Esse estado de pobreza acompanha aqueles que se dão excessivo valor pessoal; aqueles que são espiritualmente cegos; aqueles que são autocomplacentes.

«...cego...» Nos países orientais são comuns as enfermidades oculares, e a cegueira ali tem elevada incidência. Temos pena dos cegos, pois essa condição é tremendo empecilho para o aprazimento de uma vida normal. Laodicéia contava com uma famosa escola de medicina, sendo produtora de muitos medicamentos. Contava com os meios de combate à cegueira física. No entanto, faltavam-lhe os meios e até mesmo o interesse para combater a cegueira espiritual. O número das pessoas fisicamente cegas vinha sendo controlado; mas o número de indivíduos espiritualmente cegos ia crescendo cada vez mais, não havendo remédio para essa condição, pois também nenhum remédio era procurado. Tinham olhos para contemplar suas riquezas materiais, buscar seus prazeres e levar a efeito uma vida diária caracterizada pela indiferença e pela carnalidade. Tinham olhos para ver as riquezas pomposas de suas igrejas e templos magnificentes, seus ornamentos, seus móveis ricos. Mas não tinham olhos para perceber a esterilidade do templo de Deus, que era as suas próprias almas.

 «...nu...» Laodicéia era famosa por sua indústria de lanifícios e sua produção de excelentes peças de vestuário. Os crentes laodicenses se vestiam com elegância; espiritualmente falando, entretanto, andavam nus, e a vergonha da carnalidade deles era óbvia para qualquer avaliação discernidora.
Outras ideias sobre o décimo sétimo versículo:



1. Deve-se contrastar o «tu dizes» com o «conheço» (este último proferido por Cristo). Aquilo que dizemos usualmente é diferente daquilo que Cristo sabe acerca de nossa condição espiritual.

2. Não se pode duvidar que os laodicenses, que se tinham enganado a si mesmos, falavam em termos candentes sobre suas riquezas espirituais. O texto sagrado certamente indica isso. Não exibiam apenas seu orgulho, a respeito de suas riquezas materiais. Sua suposta riqueza espiritual, entretanto, tinha relação direta com a possessão de muito dinheiro. Não separavam as duas coisas, em sua mente, e imaginavam, mui totalmente, que uma coisa dependia ou estava diretamente relacionada à outra. A igreja dali «...transportava a soberba das riquezas para a sua vida espiritual» (Swete, in loc).

3. «Aquela igreja local se achava em uma cidade rica, e também era rica em seu orgulho e presunção; mas era pobre na graça e ignorante de sua pobreza espiritual» (Robertson, in loc).

4. «Orgulhando-se não meramente no fato das suas riquezas, mas (conforme fica implícito) também nos meios pelos quais essas riquezas tinham sido obtidas, a saber, mediante a habilidade pessoal, o mérito pessoal, e, finalmente, orgulhando-se na sua confiança independente, assim adquirida um profuso certificado de mérito, auto assinado». (Moffatt, in loc).

5. Notemos a sabedoria de Filo: «Ninguém é enriquecido pelas coisas seculares, embora seja proprietário de todas as minas do mundo; os destituídos de inteligência é que são os paupérrimos». (Fragm., pág. 669, Mang.).

6. «...as próprias riquezas deles levaram-nos a uma espécie de religião quieta e sem agressibilidade... Eram hipócritas, mas não sabiam que eram hipócritas. Julgavam-se bons; e esse auto ludíbrio era o perigo que corriam. Pois, usando as palavras de Profl. Mozley, ‘Por qual motivo um homem haveria de arrepender-se de sua bondade?'» (Carpenter, in loc).

7. «As riquezas dificilmente fazem qualquer bem às igrejas de Cristo. Não o fizeram nos tempos de Constantino; e parece que até mesmo agora, no término do reinado espiritual da igreja (o período Filadélfia) elas terão más consequências, porquanto inaugurarão o estado da igreja de Laodicéia» (John Gill, in loc, com uma nota que é ao mesmo tempo perceptiva e profética, pois escreveu estando a igreja ainda no período representado pela igreja de Sardes).

8. O que havia de pior, em toda essa situação, é que estavam auto enganados.. ,Eles'! se julgavam ricos. Mas ,ele' afirma que eram pobres. ,Eles' frisavam todo o progresso nas coisas que os tornavam felizes. Mas ,ele' diz que estavam em uma condição de miséria, mesmo sem ter tido consciência. ,Eles' estavam satisfeitos e persuadidos de que nada necessitavam Mas ,ele' diz que eram pobres, cegos e nus» (Seiss, in loc).



3:18    aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, paro que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim do ungiras os teus olhos, para que vejas.

«...Aconselho-te...» Apesar de imaginarem que sabiam tudo, e que a sua avaliação sobre si mesmos se alicerçava sobre os fatos. No entanto, precisavam do conselho do discernimento divino. Nunca conseguiremos dispensar essa necessidade.

Por sua ignorância, os laodicenses se tinham reduzido a total penúria espiritual. Precisavam da intervenção divina, que consistiu do próprio convite ao arrependimento e à restauração que Cristo lhes fez. O arrependimento autêntico sempre será uma intervenção divina na vida, pois não se trata de mera resolução de ser melhor ou de agir melhor. Para que seja real, exige a «ajuda divina», o poder transformador do Espírito, que modifica a alma, e não apenas a mente. Mas ninguém obtém a «ajuda divina» sem ceder à mesma, quando sua influência adeja próxima.

«,Aconselho-te...» com certa ironia. Embora ele pudesse ordenar, contudo ele preferiu aconselhar àqueles que, segundo sua própria estimativa, estavam supridos de tudo». (Vincent, in loc).

«...compres ouro refinado pelo fato...» (Essas palavras podem ser confrontadas com o trecho de Is 55:1, que diz: «Ah! todos vós os que tendes sede, vinde às águas; e vós os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite». Ver também Mt 13:44,46 onde se aprende que o reino dos céus é como um grande tesouro ou uma pérola de inestimável valor). O reino de Deus vale qualquer sacrifício. Cristo, o Senhor, acabara de classificar aos crentes de Laodicéia de «esmoleres espirituais». Não tinham coisa alguma com que comprar qualquer coisa. No entanto, Cristo os convida aqui a comprarem riquezas verdadeiras, mediante o arrependimento e o interesse pelas realidades espirituais. Esse é um oferecimento da graça, e a graça é gratuita, embora exija a receptividade humana, a cessão da vontade. (Ver Ef 2:8).

Ouro, refinado a fogo: Consideremos acerca disso os seguintes pontos:

1. Isso aponta para o ouro puro, em contraste com as riquezas poluídas que possuíam.

2. Também é feito o contraste entre as riquezas espirituais e as meras riquezas materiais.

3. Esse ouro é divinamente conferido, não podendo ser adquirido pelos esforços e méritos humanos.

4. Talvez haja aqui um indício do fogo refinador da perseguição, que poderia torná-los espiritualmente ricos. Aquela igreja evitara as perseguições mediante a cooperação com o «culto ao imperador»; e desse modo tinham podido obter riquezas materiais, já que não sofriam perseguições. Mas a escolha fora a pior possível. Antes tivessem tido a mesma decisão, tomada pela igreja de Esmirna, de fazer oposição a esse culto falso, sofrendo por causa disso, porque assim teriam recebido riquezas espirituais verdadeiras, ainda que isso significasse que teriam tido de passar pelo fogo refinador da perseguição.

«...de mim...» Essas palavras, no original grego, são enfáticas. Pois Ômega da existência humana.

«...vestiduras brancas para te vestires...» Laodicéia era um grande centro da indústria de vestuário, na antiguidade. Os crentes dali se vestiam com elegância, mas, espiritualmente falando, andavam nus. Precisavam de «vestiduras brancas», o que aponta para a autêntica santidade de vida, para a elegância da natureza espiritual. Mas essas vestiduras brancas também falam sobre a vestimenta da alma, composta pela imortalidade, conforme já pudemos ver em Ap 3:4,5. Se isso faz parte integrante da interpretação dessas palavras, então equivale à «árvore da vida», que figura na carta à igreja de Éfeso (ver Ap 2:7), e também à «coroa da vida», da carta à igreja de Esmirna (ver Ap 2:10). Cristo promete a «imortalidade» final para todos os vencedores da carreira cristã.

O N.T. jamais se contenta com a mera sobrevivência da alma, ante a morte biológica. Antes, ali a imortalidade consiste da «vestimenta» da alma, e não da mera perda do veículo físico, o corpo humano. O «corpo espiritual» (que não será físico, formado por partículas atômicas) dará à alma remida um meio apropriado de manifestação nos mundos celestiais. Além disso, nossa própria natureza será transformada segundo a essência mesma da natureza do Filho (ver Rm 8:29 e II Co 3:18).

«...a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez...» Essa nudez seria percebida quando sua verdadeira condição fosse «desvendada» (sendo tirada a roupa da pretensão e do auto ludíbrio), e eles aparecessem vergonhosamente nus, espiritualmente falando. As «vestiduras brancas», que são a provisão de santidade e a elegância de natureza espiritual, haveriam de encobrir realmente essa nudez, eliminando-a totalmente. O futuro revestimento da alma, que consistirá do corpo ressurreto, haverá de conferir-lhe glória e elegância próprias dos lugares celestiais, iguais às do próprio Cristo, o Filho de Deus. O emprego da palavra «... vergonha... » neste passo visa a lembrar aqueles crentes sobre sua verdadeira condição espiritual. Estavam inchados de orgulho, e, no entanto, encontravam-se em uma condição «vergonhosa».

Desnudamento e exposição. Esse era um método frequentemente usado para envergonhar publicamente a alguém, nos dias antigos; e tal costume tem persistido até hoje, em alguns países. (Ver II Sm 10:4; Is 20:4; 47:23 e Ez 16:37. Comparar também com Mt 22:11-13 e Cl 3:10-14). Em sonhos, podemo-nos ver «despidos», ou parcialmente despidos. Por meio desse «símbolo», a mente subconsciente nos dá a entender alguma situação embaraçosa, presente ou futura. A exposição espiritual, apesar de embaraçosa, alerta-nos para a necessidade de nos revestirmos espiritual­mente, de nos vestirmos do «novo homem», conforme se vê na passagem acima, da epístola aos Colossenses. Mas a vestimenta espiritual da imortalidade removerá para sempre a vergonha provocada pela queda, e que deixou o homem espiritualmente nu.

«...colírio para ungires os teus olhos...» Laodicéia contava com uma famosa escola de medicina, onde eram produzidos diversos medicamentos, incluindo aqueles para problemas oculares, que são tão comuns no oriente, até hoje. O termo grego aqui traduzido por «...colírio...» é «kollura», um rolo de pão grosseiro. A conexão original dessa palavra com um medicamento para tratamento dos olhos, talvez fosse uma espécie de emplastro, feito de massa de pão, para tratamento de infecções. Ou então a ideia geral de «rolo» pode ter-se desenvolvido do original «rolo de pão»; e então, qualquer material, em forma de rolo, podia ser referido como o material que era usado para o tratamento de infecções. Seja como for, no tocante à situação de Laodicéia, lemos que havia um famoso pó frígio, empregado pela escola de medicina de Laodicéia, para tratamento dos olhos. O Talmude de Jerusalém (Shabb. 1.3; vii.10; viii.11b) parece referir-se a isso. Celso (vi.7) fala acerca de muitas espécies de colírio ou medicamentos para os olhos, utilizados em seus próprios dias.

Símbolo espiritual do colírio: Isso se vê nos três pontos abaixo:

1. Isso retrata a ação iluminadora do Espírito Santo, o que dá ao indivíduo visão e discernimento espirituais. Trata-se de um dom e operação do Espírito.

2. Isso permite que os olhos espirituais se tornem luz da alma, mediante o que chegamos a ser iluminados e participamos da própria natureza luminosa de Cristo. (Ver Jo 1:9 e Ef 1:18 quanto a esses temas).

3. É equívoco terrível alguém preocupar-se somente com o que é físico, mas não ter interesse pelo que é espiritual. Laodicéia tinha uma escola de medicina para tratamento de enfermidades físicas; contava com um famoso pó que aliviava infecções oculares e impedia a cegueira—mas não tinha qualquer provisão para os olhos da alma.

Outras ideias sobre o décimo oitavo versículo:

1. É possível alguém ser famoso por alguma coisa, ao mesmo tempo que merece ser infame por algo bem diferente. Muitas pessoas famosas são infames aos olhos de Jesus.

2. Cristo tem o remédio para todas as mazelas da alma. Ele é o grande Médico, e os substitutos humanos de nada servem.

3. Isso pode ser comparado com as Confissões de Agostinho (vii.7,8), onde se lê: «Por causa de meu próprio inchaço fiquei separado de Ti; sim, meu rosto inchado de orgulho fechou meus olhos... Mas foi agradável diante de ti reformar as minhas deformações; e mediante aguilhões me despertas te, para que eu me desassossegasse até que te manifestasses à minha visão interior. Assim, mediante a mão secreta de teu medicamento, meu inchaço desapareceu, e a visão perturbada e diminuída da minha mente, mediante as unções ardentes de tristezas saudáveis, daquele dia em diante foi curada».

4. Quando o Senhor retornar, encontrará alguns convivas que não estão vestidos das vestes apropriadas. Esses não escaparão ao seu julgamento, conforme se aprende em Mt 22:11 e ss.

5. O presente versículo pode ser comparado ao trecho de I Jo 2:20,27, que é um seu importante paralelo espiritual.

6. O amor do Salvador «aconselha» aos que são espiritualmente pobres: õ mercador, no mercado dos céus, quanto a mercadorias celestes,

O amor é a única espécie de moeda aceitável.

7. A unção aplicada aos olhos enfermos provavelmente os faz arder. Mas um homem pode suportar a dor, produzida por um medicamento, se esse é eficaz. Não é fácil alguém admitir em si mesmo a cegueira espiritual; mas, para aqueles que a admitem, e então buscam o remédio certo, a cura lhes é posta à disposição.

8. «Caros amigos, pertence-nos uma grande e cara oportunidade. Não pensemos que não temos oportunidade de abraçá-la. Não imaginemos que somos ricos e carregados de bens, como se de nada tivéssemos necessidade... A todo o tempo somos cobertos de cegueira, mazelas e insensatez, que somente a graça de Deus pode curar.

9. Valemo-nos de seu oferecimento pelo uso dos meios espirituais de crescimento e iluminação—o estudo de sua Palavra e outros livros espirituais, para o treinamento do intelecto; a oração e a meditação; a busca pelo Espirito e seus dons espirituais; a utilidade para com outros, mediante o exercício de nossas manifestações espirituais e feitos de gentileza e amor. (Ver Ef 1:18, quanto à necessidade que temos de «iluminação espiritual»). Devemos orar decididamente para recebermos a natureza que se faz necessária para a nossa vida espiritual, como crentes que somos.

10. «Os conselhos de Cristo são mandamentos, convites e promessas. Essas advertências não foram feitas no espírito de indignação, e, sim, de misericórdia... Realmente, devemo-nos separar de algo, mas sem qualquer valor, a saber, o pecado e a autossuficiência» (Matthew Henry, in loc). 3:19    Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te. Deus «...repreende a quem ama...» (Pv 3:12). E outro tanto faz o Filho de Deus. Deus ama ao mundo inteiro (ver Jo 3:16). Cristo morreu até mesmo em favor de seus inimigos, mostrando o amor de Deus por eles (ver Rm 5:8). Os próprios «filhos» de Deus terão de esperar castigo, o que comprova que são filhos de Deus genuínos (ver Hb 12:7,8). «O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo o disciplina» (Pv 13:24). Consideremos ainda os pontos abaixo:

1. Historicamente, supõe-se que muitos, se não mesmo a maioria dos membros da comunidade cristã de Laodicéia, eram crentes genuínos, embora de qualidade deficiente.

2. Profeticamente, supõe-se que a maioria dos filhos espirituais de Laodicéia não se qualificariam como filhos autênticos, porque farão parte da grande apostasia, sendo representantes de um cristianismo espúrio. No entanto, o amor de Deus também atinge a esses. A Grande Tribulação haverá de purificar a muitos desses, trazendo-os aos pés de Cristo

3. Simbolicamente, entendemos que as admoestações constantes nesta carta à igreja de Laodicéia se apliquem a crentes verdadeiros, mas deficientes, como também àqueles que brandem a bandeira cristã, mas não são autênticos filhos de Deus.


«...arrepende-te...» Esse é um elemento de quase todas as cartas do Apocalipse, excetuando no caso das igrejas de Esmirna e Filadélfia. Apesar desse termo poder significar apenas «mudança de mente», nas páginas do N.T. seu significado é muito mais elevado do que isso. Significa «mudança de alma», uma nova direção dada ao próprio ser, uma revolução moral, operada mediante o poder transformador do Espírito Santo. O arrependimento e a fé compõem a «conversão», conforme se aprende em At 20:21.

Outras ideias sobre o décimo nono versículo deste capitulo:

1. «Admirabilíssimo amor do Salvador! Amava até aos mortos! Amava até mesmo uma congregação local cujo coração estava afastado dele!» (Newell, in loc).

2. O Salvador teve de repreender e castigar. Na qualidade de Sumo Pastor, ele requer que os subpastores façam a mesma coisa, embora também no mesmo espirito de amor.

3. A severidade da repreensão é igualada à magnitude do amor, o que faz do juízo apenas um dedo da mão amorosa de Deus.

4. «O amor nunca é cruel, mas pode ser severo» (Charles, in loc).

5. O castigo, do ponto de vista profético, se cumprirá na Grande Tribulação. Muitos dessa igreja serão conduzidos aos pés de Cristo, uma vez que percebam o que é, realmente, o mundo ímpio. A tribulação purificará a igreja universal. Nada menos do que isso poderia levar essa igreja a pôr-se de joelhos, em arrependimento, «...uma chama de arrependimento que devorará a indiferença e a incoerência» (Moffatt, in loc).

6. «...o indiferentismo... perverte o amor, reduzindo-o à lassidão, considera a punição como se fora severidade, e separa totalmente as duas coisas». (Lange, in loc).

7. Castigo: «Serias tu uma exceção? Se fores poupado do chicote, serás poupado para não pertenceres ao número dos filhos». (Agostinho).

8. «...castigar... é ensinar e educar por meio da vara, corrigindo com severidade, punindo para cura do erro, corrigindo pelo açoite, como no caso de um pai que trata com seu filho... O diabo pode prometer a prosperidade mundana para os seus filhos, mas Jesus diz que sempre teremos de entrar no reino dos céus, mediante muita tribulação. Onde o seu favor amoroso nos testa, parte da administração desse amor consiste de usar de disciplina corretiva... mui preciosa, por igual modo, é essa disciplina do sofrimento. Muitos erros profundos e ruinosos são assim curados ou prevenidos. Miriã foi ensinada a abandonar sua murmuração rebelde e sua tendência a fomentar dificuldades, ao ser ferida com a lepra. Jonas recebeu de volta o seu bom senso, cumprindo seus deveres proféticos, mediante a dificuldade que encontrou no mar, em meio ao temporal do desprazer divino... Zacarias foi curado de sua incredulidade ao ser ferido com a mudez. Paulo foi impedido de exaltar-se demasiadamente por um espinho vexatório e humilhante na carne» (Seiss, in loc).

9. Zelo: O zelo é «...como as asas de uma ave, como as rodas de uma carruagem, como as velas de um barco, como o fogo de que a máquina depende para produzir vapor e poder; pois é mediante o calor e a energia da alma que um homem se lança naquilo que resolveu realizar. Debaixo da lei, nenhum sacrifício podia ser oferecido sem fogo, como também não pode ser feito qualquer serviço». (Seiss, in loc).

10. O zelo pode ser «ignorante» ou «hipócrita», «turbulento» ou «amargo», «mal orientado» e até mesmo «prejudicial». Mas isso é infinitamente melhor do que no caso do crente individual ou da igreja local que não tem «zelo», como se dava no caso dos laodicenses. Com razão foram conclamados ao «zelo». O zelo pela casa de Deus e seu trabalho deveria consumir-nos.

O arrependimento é um retorno à fé. É a negação da loucura da rebeldia contra Deus.

3:20    Eis que estou à porta, o bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em tua casa e com ele cearei, e ele comigo.

No fim da era da Igreja, Cristo estará do lado de fora da mesma. Isso reflete a grande apostasia, quando a igreja será modificada tão radicalmente que não mais merecerá o título de igreja cristã, segundo qualquer estimativa sóbria das coisas. Em qualquer época, em qualquer vida individual, em qualquer igreja local, isso pode suceder. Portanto, no fim desta época, Cristo estará batendo pelo lado de fora da igreja, através da tribulação daqueles dias, e, finalmente, em sua «parousia» ou segundo advento. Essa é a interpretação escatológica do versículo, interpretação essa que, apesar de legítima, não é a única possível.

«...Eis...» Essa palavra assinala o que há de admirável na situação: Cristo, o Senhor da Igreja, está do lado de fora da mesma. O mesmo Senhor, em paciência e amor, pede admissão e promete comunhão vital com aqueles que lhe derem ouvidos. «Filho meu, dá-me o teu coração».

«O contraste entre a severa reprimenda e a mão estendida e amorosa da amizade, é realmente impressionante. E chega como um clímax no quadro do Senhor de tudo, de pé do lado de fora da vida humana, solicitando admissão. O pecador orgulhoso e teimoso continua podendo ser hospedeiro de Deus.

«...à porta...» Esse é um símbolo de entrada e admissão. É preciso que seja dada permissão àquele que busca entrar. No tocante ao que é espiritual, essa porta aberta indica o exercício da vontade humana, permitindo que o Espírito Santo nos conceda a presença transformadora de Cristo razer-lhe glória eterna, mediante uma vida digna de ser vivida. Eventualmente ele será «tudo para todos» (ver Ef 1:23).

Os crentes de Laodicéia viviam atarefados com seu comércio, com seus banquetes, com suas riquezas materiais. Orgulhavam-se de sua própria espiritualidade, não percebendo sua condição espiritual empobrecida. Nem sabiam que Cristo estava do lado de fora da porta, a bater, de modo que não podiam atendê-lo e dar-lhe admissão.

Esse «bater» diz-nos que nos devemos esvaziar a nós mesmos do próprio «eu», se quisermos desfrutar de comunhão com Cristo, visando à nossa restauração e infinita transformação.

Essa é a voz do Bom Pastor, que conduzirá as ovelhas às pastagens de sua comunhão transformadora. (Ver o décimo capítulo do evangelho de João).

Cristo tanto bate à porta como fala. «Com grande frequência, a voz interpreta e torna inteligível o propósito do bater». Ele nos diz: «Filho meu, dá-me teu coração».

«...abrir a porta... » Em outras palavras, se alguém ceder à insistência da voz e do «bater» de Cristo à porta, permitindo que o poder transformador de Cristo opere sobre a alma, o que conduz ao arrependimento e à santificação, e, finalmente, à glória, na medida em que o crente for sendo transformado segundo a imagem do Filho de Deus. Esse é o exercício da vontade humana, recebendo os benefícios que se derivam de Cristo na vida.


«...cearei com ele e ele comigo...» No Oriente, a participação em uma refeição comum era prova de confiança e afeto. Os leitores originais do livro teriam entendido bem o simbolismo dessa linguagem. A igreja, morna e apóstata, é restaurada à confiança e ao afeto, passando a comungar com o Cristo—bênçãos essas que perdera, por causa de suas lealdades anticristãs.

Outras ideias sobre o vigésimo versículo:

1. A referência escatológica é óbvia em todo este versículo. Cristo está à porta, e sua vinda se dará em breve. (Ver Mc 13:29 — certos sinais antecederão à sua vinda, indicando que sua volta está próxima, às portas).

2. O apelo de Cristo, exibido no vigésimo versículo, faz contraste com as suas severas advertências de juízo. O julgamento divino é uma medida de amor, é o dedo da mão amorosa de Deus. Vem da parte daquele que é manso e humilde de coração; daquele que possui bondade ilimitada, apesar de seu poder ilimitado. Trata-se do apelo feito pelo amor anelante, pela preocupação mais profunda.

«...e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar. Leva-me à sala do banquete, e o seu estandarte sobre mim é o amor. (Cantares de Salomão 2:3,4).

3. Mediante a moderação, a paciência e o entravamento dos apetites carnais, algum dia o homem será participante do banquete divino. Assim também diz Epicteto, Enchri. xv.l «...mas se não tocares em nenhum dos pratos postos à tua frente, e realmente os abominares, não somente beberás juntamente com os deuses, mas também serás um governante junto com eles». Os crentes da igreja de Laodicéia, se chegassem a rejeitar as riquezas terrenas corruptoras, bem como às razões que os prendiam a tais riquezas, poderiam sentar-se no banquete, juntamente com Deus, em seu reino.

4. «O fato de Cristo estar em pé, diante dessa porta, expressa três coisas: a. Cristo não se acha no coração dos crentes mortos; b. Cristo reconhece o direito que a pessoa morna tem de deixá-lo do lado de fora; c. Cristo faz um assalto positivo contra a prisão que faz parte inerente do abuso de liberdade». (Lange, in loc.).



5. «Ordinariamente, o convidado ceia com quem o admite em casa; mas aqui o Convidado divino torna-se também o hospedeiro, pois ele é o Pão da vida, aquele que oferece a festa de casamento. Aqui, uma vez mais, ele alude a Cantares 2:3 e 4:16, onde a Noiva o convida a comer frutos agradáveis', tal como a princípio ele é que preparara um banquete para ela». (Fausset, in loc).

6. Este versículo ensina claramente a realidade do livre-arbítrio humano. O Convidado celeste pode ser rejeitado, sendo-lhe negada a admissão.

7. Há declarações do Senhor Jesus que ilustram a verdade da reciprocidade. Este versículo pode ser confrontado com trechos como Jo 6:56; 10:38; 14:20; 15:4,5 e 17:21,26.

8. A Porta do arrependimento. No Talmude Shir Hashrim Rabba, fol. 25,1, encontramos as seguintes palavras: «Deus disse aos israelitas: Meus filhos, abri para mim a única porta do arrependimento, tanto quanto o fundo de uma agulha, e abrirei para vós portas mediante as quais reses e gado de chifre poderão passar». Em Sohar Levit., fol. 8, col. 32, temos: «Se um homem ocultar o seu pecado, não o abrindo diante do Rei santo, embora peça misericórdia, a porta do arrependimento não lhe será aberta. Mas, se abri-la diante do Deus santo e bendito, Deus o poupará, e a misericórdia prevalecerá sobre a ira; e quando ele lamentar-se, embora todas as portas lhe estivessem fechadas, contudo ser-lhe-ão abertas, e a sua oração será ouvida».

3:21    Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono.

A promessa feita à igreja de Tiatira (ver Ap 2:26) é essencialmente idêntica, embora sem a elaboração que o trono do Pai será compartilhado pelo Filho e pelos filhos de Deus. (Ver também Ap 20:4). Os «mártires» reinarão com Cristo, durante o milênio. Mas essa promessa é tão ampla que significa que todos os crentes fiéis participarão dela em alguma medida, e que também «reinarão na eternidade», pois receberão posições de autoridade muito superiores às dos mais elevados arcanjos, dentro da economia eterna de Deus. Os remidos serão exaltados e transformados em seres muito mais elevados que os arcanjos. O nosso destino é muito mais elevado que o dos anjos, e não apenas igual ao deles, pois tudo quanto Cristo é e tem nos será dado. Essa questão de «reinarmos com ele» é um dos aspectos de nossa glória futura, quer no milênio, quer no estado eterno. O «reino» também será sobre todo o mal, sendo instaurado o bem-estar espiritual, porquanto será o reinado da alma, em harmonia com Deus, livre de toda a hostilidade, e não meramente uma possessão literal e uso de poder. Trata-se de poder no ser, na expressão, sobre tudo quanto é mau e prejudicial.



«...vencedor...» Essa é uma palavra comum em todas as cartas do Apocalipse. Aquele que vencer é aquele que der ouvidos às advertências e promessas dessas cartas, exercendo o poder de sua percepção espiritual (ouvidos que ouvem), agindo de acordo com o que ali é dito. Portanto, na presente carta a Laodicéia, o «vencedor» é aquele que mostrar-se zeloso, arrepender-se e abandonar sua mornidão espiritual, que admitir o Cristo transformador em sua vida, abrindo-lhe a «porta» (ver o versículo anterior).

«...dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono...» O livro de I Enoque conta com certo número de referências similares a esta. O Eleito, o Messias, assentar-se-á em seu trono de glória (ver I Enoque 45:3; 51:3 e 55:4). Isso também pode ser comparado aos trechos de Cl 3:1; Hb 1:8 e Fp 2:9-11 (Cristo está agora entronizado). E nas passagens de Mt 19:28; 25:31 e Lc 22:29 vê-se que Cristo será entronizado por ocasião de sua «parousia» ou segunda vinda. Os crentes reinarão juntamente com Cristo (ver Ap 2:10,26; 3:21 e 20:4). A «coroa» que os crentes esperam é uma «coroa real», e não meramente a do vencedor de uma competição esportiva. No livro Ascensão de Isaias, os santos aparecem recompensados com coroas e tronos. Em I Enoque 108:12, vemos os santos entronizados. Assim é que os doze apóstolos se assentarão em doze tronos, a fim de julgar às doze tribos de Israel. Conforme podemos ver, o conceito é perfeitamente comum. Deve ser aceito literalmente, pelo menos em parte, porquanto os crentes obterão posições reais de autoridade e governo. Mas, acima de tudo, a questão é essencialmente mística. Reinarão em seu próprio ser, tão grande será o seu poder e a sua glória. Tornar-se-ão seres dotados de poder que desafia a imaginação, muito superiores aos anjos; por assim dizer, serão todos reis. Serão reis-sacerdotes. Cristo também é um Rei-Sacerdote (ver Hb 7:1-3). Nós, por compartilharmos de seu destino, também teremos essa característica.

«...com meu Pai no seu trono...» O autor sagrado tem o cuidado de mostrar que todo o poder e toda a autoridade regia repousa, em última análise, em Deus Pai, em quem também se originam. Sim, lembremo-nos que está em foco Deus Pai. Portanto, encontramos aqui o ensino que a autoridade real de Cristo é por ele possuída como Filho, e que a nossa será possuída na qualidade de filhos de Deus. O primeiro capítulo da epístola aos Efésios, mais que qualquer outro capítulo isolado do N.T., demonstra que as bênçãos eternas que são dadas aos homens, procedem da parte de Deus como Pai. Todas as bênçãos celestiais que poderiam ser enumeradas foram dadas pelo Pai ao Filho, e, por intermédio deste, aos filhos. Essa é a relação que tudo permeia, e que sustentamos com Deus.

Aplicações locais e futuras: Os laodicences históricos participaram do culto imperial. Desta maneira, perderam o direito de reinar com Cristo. Aquele que for sábio e forte o bastante espiritualmente, fará oposição ao culto do anticristo. Este reinará com Cristo.

Os laodicences antigos davam seu poder ao trono do imperador, mas não podiam dele compartilhar. Os laodicences futuros darão seu poder ao trono do anticristo, mas não compartilharão do seu trono. Para os que sobrepujarem, um lugar ao lado de Deus em seu trono é prometido. Eis a escolha! a escolha é sempre nossa. Compartilhar do trono de Deus: Esta é a glória eterna. Nenhuma imaginação ou descrição humana pode tocá-lo.

«A promessa de que partilharemos do trono é o clímax de uma série ascendente de gloriosas promessas, que fazem subir o pensamento desde o jardim do Éden (ver Ap 2:7), através do deserto (ver Ap 2:17), do templo (ver Ap 3:12) e daí até o trono. A promessa se reveste de notável semelhança com a linguagem do apóstolo Paulo aos crentes de Éfeso (ver Ef 2:6). Essa promessa coroadora foi feita à mais repelente das igrejas do Apocalipse. Mas é apropriado que o desânimo, que com frequência se verifica após o súbito colapso das imaginações auto satisfeitas, pudesse ser agraciado com tão brilhante possibilidade. Apesar da religiosidade deles ter sido exibida como uma coisa oca, transparece uma esperança que bem pode espantar o desespero. O lugar mais elevado está ao alcance do mais baixo; a mais débil fagulha da graça pode ser transformada na mais poderosa chama do amor divino». (Carpenter, in loc).

Outras ideias sobre o vigésimo primeiro versículo:

1. «À assembleia que, bem há pouco, fora por Cristo ameaçada de ser cuspida de sua boca, agora recebe a promessa de um assento juntamente com ele, em seu trono». (Fausset, in loc).

2. «Na qualidade de Vitorioso é que ele chama a ti e a mim. É também quando um santo compartilha da vitória de Cristo, mediante a fé, que pode tornar-se um vitorioso! É conforme Cristo advertiu no cenáculo: ,No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo' (Jo 3:16). Ele também triunfou sobre Satanás e todas as suas hostes, no Calvário, tendo-nos oferecido o benefício dai derivado (ver Cl 2:14,15; Hb 2:14,15). '...e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé' (I Jo 5:4)» (Newell, in loc.).

3. Essas cartas do Apocalipse exibem muitas ameaças; mas agora tudo culmina na grandiosa promessa da glória futura e do poder espiritual. É para lá que o Espirito Santo deseja guiar a igreja; e é para ai que ela irá, eventualmente. O senhorio de Deus nos garante isso. Se os crentes de Laodicéia podem obter tal vitória, certamente todos poderão obtê-la.

4. Os laodicenses, em sua abundância material, exerciam poder. Mas isso nada significa, realmente, e os poderes celestiais zombam de tal coisa.

5. Os tronos, nos países orientais, eram largos bastante para neles se assentarem mais de uma pessoa. O trono aqui mencionado, entretanto, apesar de ser um só, será ocupado pelo Pai, pelo Filho e pelos filhos de Deus, uma promessa de significação prodigiosa.

6. «Essa é a pior das sete igrejas; no entanto, as mais notáveis promessas são feitas a ela, mostrando que os piores podem arrepender-se e, finalmente, podem tornar-se vitoriosos, atingindo aos mais elevados estados da glória». (Adam Clarke, in loc).



7. «Ficamos perplexos ante a magnificência da proposta» (Seiss, in loc).

8. O texto subentende a «ocupação» que teremos na eternidade: muito haverá para ser feito, muito para ser tentado e realizado; e isso só poderá ser feito por seres de estatura imensa, a saber, aqueles que compartilharão do próprio tipo de natureza e vida de Cristo.

9. Cristo é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, e a sua glória deve operar em mim e manifestar-se por meu intermédio. 3:22    Quem tem ouvidos, ouça o que o Espirito diz às igrejas.

Essa declaração figura em todas as sete cartas do Apocalipse. Os «ouvidos» são a sensibilidade espiritual que dá acolhida às instruções divinas e aplica as mesmas à vida diária.

«...igrejas...» Notemos aqui o plural. Todas as advertências, instruções e promessas, dadas a todas as igrejas, nas sete cartas, também se aplicam às igrejas locais de qualquer século.

Essas declarações:

 1. Visam a todos os membros de igreja.

 2. Mas só podem ser postas em prática pelos que possuem discernimento espiritual, por aqueles que buscam o mesmo, de tal modo que ponham em prática o que é ali recomendado.



3. Procedem elas do «Espírito», porquanto foi ele quem as proferiu; por conseguinte, só podem ser discernidas espiritualmente, por serem imperativos divinos.

4. O significado dessas declarações transcendem ao que é terreno e presente: fornecem-nos um vislumbre da glória futura, quando já estivermos em nossos corpos imortais; e oferecem-nos a participação nas mais tremendas realidades espirituais.

5. Essas mensagens foram dirigidas à «comunidade religiosa», coletivamente; porém, também se aplicam a cada indivíduo.

6. Essas mensagens são de natureza profética; mas cada período da história eclesiástica, ali retratado, repete-se de certo modo em cada século da era cristã.

7. Essas cartas fazem parte do N.T., o maior documento que já foi escrito, mediante a operação, pelo homem e para o homem. Como tais, merecem a nossa atenção.


«Caros amigos, que se passa conosco? Até que ponto essas sagradas cartas de nosso Senhor nos têm servido de 'doutrina, repreensão, correção e instrução na justiça'? Já nos temos demorado demais em anuir a essas solenes comunicações de Jesus às suas igrejas. Temos dado a eles um ouvido reverente e um coração atento? Muitíssimas verdades preciosas, como pérolas descidas dos céus, nos têm encontrado no caminho. Temo-nos valido delas, conforme chegam a nós, apropriando-nos delas, para o enriquecimento de nossas almas         Pr . Magel 

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