IGREJA
A PROVA DE FOGO
IGREJA BATISTA
NOVOS TEMPOS
IGREJA A PROVA DE FOGO É AQUELA QUE RESISTE AS MUDANÇAS QUE A DESTRÓI
A LUTA CONTRA OS
EXCESSOS E A MODA EXTRAVAGANTE
"Todas
as coisas me são lícitas, mas nem todas convém. Todas as coisas me são lícitas,
mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas". 1 Co 6.12
1 Tm
2.9 Da mesma sorte, que as mulheres em
traje decoroso, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada,
e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso,
1 Tm
2.10 Porém, com boas obras (como é
próprio às mulheres que professam ser piedosas).
1 Pe
3.3 Não seja o adorno da esposa o que
é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário;
1 Pe
3.4 Seja, porém, o homem interior do
coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é
de grande valor diante de Deus.
Comentário
dos Textos de Referência I Tm 2.9,10 e I Pe 3.3,4
A passagem
de I Tm 2.9,10 e tirada do contexto, A Adoração Pública e as Mulheres (2.8-15).
A adoração
pública deve incluir a oração, conforme I Tm 2:1 e ss., onde há alguns itens
pelos quais nos convém orar. Na sinagoga, as orações faziam parte importante da
liturgia, mas às mulheres não era permitido nem falar e nem orar em voz alta,
durante a adoração pública. Silêncio absoluto era esperado da parte delas. Um
escravo, ou até mesmo um menino, podia ler as Escrituras na sinagoga; mas isso
era vedado às mulheres, mesmo que uma delas fosse a esposa do principal rabino.
Devemos compreender que esse costume é o pano de fundo da seção que temos à
nossa frente e que procura regulamentar o papel das mulheres nos cultos
públicos das igrejas cristãs. Uma vez que se saiba o pano de fundo judaico sobre
a questão, o décimo primeiro versículo deste capítulo só pode significar o que
ali se lê claramente: nenhuma mulher crente podia ter participação verbal no
culto de adoração da igreja (se algum irmão ou irmã quiser o comentário do vs
11, me mande um e-mail ebdareiabranca). Não lhe era permitido ensinar, e nem ao
menos falar em voz alta. Antes, cumpria-lhe guardar silêncio. (Ver o décimo
segundo versículo). Tudo isso está de acordo com a prática nas sinagogas
judaicas, e dizer que esta seção indica menos do que isso é interpretar a
passagem incorretamente.
Vários
intérpretes cristãos têm procurado distorcer a correta interpretação deste
texto, a fim de fazer as Escrituras se adaptarem às práticas deste ou daquele
grupo, mas isso fazem aqueles eruditos ignorando o pano de fundo histórico do
N.T. Disse um famoso rabino: «É melhor queimar a lei do que ensiná-la a uma
mulher». (Esta passagem pode ser comparada com os trechos de I Co 11:2-16 e
14:34). Esta última referência impõe silêncio às mulheres crentes, tal como se
dá no caso do presente texto; mas a primeira dessas duas referências parece
permitir que a mulher participe verbalmente do culto, se estiver usando um véu.
Porém, se isso realmente fosse permitido, então o texto presente, a passagem de
I Co 14:34 e a tradição judaica estariam sendo contraditas frontalmente.
Portanto, é melhor compreendermos que o suposto «falar das mulheres», no décimo
primeiro capítulo da primeira epístola aos Coríntios, é apenas um
reconhecimento do que vinha ocorrendo naquela comunidade cristã, sem que Paulo
tivesse feito ali qualquer censura, já que preferiu deixar essa censura para
mais adiante. A leitura corrente, do décimo primeiro capítulo ao décimo quarto
capítulo dessa epístola, demoraria entre cinco e dez minutos; por conseguinte,
essa censura faz parte do texto. Mas, na presente passagem, fica suposto que
havia mulheres que «abusavam» no culto de adoração, participando oralmente do
mesmo, o que era algo contrário à tradição judaica, transferida para o
cristianismo, e o que agora Paulo passava a censurar. Somente essa
interpretação é honesta, e o demais é apenas tentativa de fazer as Escrituras
se adaptarem à prática nas igrejas locais, e não o contrário, como deveria ser.
O problema do presente texto não envolve
tanto o que o mesmo significa, porquanto isso é perfeitamente claro. O problema
consiste de: «Aplica-se essa proibição à igreja moderna?» A resposta deste
comentário é que isso não deve ser aplicado com toda a severidade, pois tais
injunções contra as mulheres se alicerçam sobre preconceitos judaicos, sendo
uma degradação para as mulheres crentes. O leitor deveria consultar Jo 4:27,29,
para ver as ideias tão rebaixadas que os judeus tinham acerca das mulheres.
Alguns rabinos chegavam a duvidar que as mulheres tivessem alma, e muitos deles
diziam vulgaridades acerca delas. Na sociedade judaica, as mulheres eram
vendidas e compradas como se fossem propriedades, e somente de uma prostituta
se esperaria que ela falasse com um homem, em público. Eis por que os
discípulos ficaram surpreendidos por encontrar a Jesus falando com uma mulher
em um lugar público, conforme o registro do quarto capítulo do evangelho de
João, onde é dada a historia da mulher samaritana.
Naturalmente,
é verdade que o novo pacto elevou enormemente a posição das mulheres.
Espiritualmente, uma mulher não é inferior a um homem, e o destino espiritual
das mulheres crentes é igual ao destino dos homens crentes. (Ver Gl 3:28). O
trecho de Cl 3:11 encerra declaração similar. É deveras lamentável que esse
discernimento não foi mais perfeitamente compreendido e posto em prática. O
texto à nossa frente, sobre as mulheres, reflete uma mentalidade que não
concorda totalmente com aquela revelação superior, pois continua alicerçada
sobre o judaísmo. O autor deste comentário não pode interpretar honestamente a
questão de qualquer outra maneira. Antes de tudo, deve-se interpretar um texto
qualquer segundo aquilo que ele diz, sem nos importarmos se estamos de acordo
com isso ou não. Não devemos perverter seu significado a fim de fazê-lo
adaptar-se às nossas práticas pessoais ou coletivas. Em seguida cumpre-nos ver
se uma passagem tem aplicação a nós, ou se tem elementos que pertencem a outra
época, mas que não podem e nem devem ser aplicados para nossa própria época.
Isso não
significa, por outro lado, que aquilo que temos à nossa frente, na presente
seção, não é bom. Pois a verdade é que tem seu devido valor. Porém, no que se
aplica ao papel das mulheres, no culto de adoração, simplesmente não podemos
aceitá-lo. A igreja em geral tem ignorado convenientemente versículos como I Co
14:34 e I Tm 2:11, em seu pano de fundo histórico e em seu claro significado; e
assim tais passagens são pervertidas para se adaptarem à prática corrente. Isso
é lamentável, porque é uma desonestidade. Portanto, estes versículos ordenam às
mulheres que nada digam, durante o culto de adoração. Assim sucedia nas
sinagogas dos judeus. Porém, temos um caminho melhor, uma revelação superior,
refletidos em passagens como Gl 3:28; Cl 3:11 e At 2:18, onde vemos que
mulheres são declaradas até mesmo «profetisas», longe de não poderem elas falar
na igreja.
Esse ponto
de vista mais elevado sobre as mulheres é que devemos seguir, ao mesmo tempo
que cumpre serem evitados os abusos decorrentes de uma
liberdade
excessiva, conforme tem acontecido em tantas igrejas evangélicas modernas, onde
as mulheres encabeçam praticamente tudo. Além disso, muito temos a aprender
acerca da conduta das mulheres crentes; e esse aspecto não deve ser
negligenciado por nós.
2:9 Quero, do mesmo modo, que as mulheres se
ataviem com traje decoroso, com modéstia e sobriedade, não com trancas, ou com
ouro, ou pérolas, ou vestidos custosos,
«...da mesma
sorte...» É contrário ao pano de fundo religioso judaico, que transparece na
presente seção, supor que às mulheres é aqui permitido orarem e participarem
oralmente dos cultos, em qualquer sentido, contanto que ao menos observem
certos costumes corretos sobre vestuário e comportamento. Tal interpretação é
contrária ao texto (ver o décimo primeiro versículo) e também contra a cultura
judaica de onde surgiu a igreja cristã primitiva. Conforme diz Gealy (in loc.)
«O escritor dá a entender como ponto pacífico que as mulheres devem fazer-se
presentes à adoração pública e às orações. Porém, visto que a declaração
explícita do oitavo versículo é que (somente) os varões devem orar, isto é, ler
as orações públicas, e posto que este parágrafo insiste que as mulheres devem
permanecer em silêncio na igreja, dificilmente é possível supor que o autor
sagrado queria dizer: 'Desejo também que as mulheres orem com vestuário
modesto', etc... O presente texto deveria ser antes compreendido como: 'Também
desejo que as mulheres que fizerem parte das orações públicas se vestissem com
modéstia', etc».
«Poucas
passagens existem, em toda a Bíblia, que tenham provocado tão acaloradas
discussões como estes versículos. Consideradas literalmente como uma ordem
autoritativa, estas palavras excluiriam completamente as mulheres de toda a
liderança na igreja. Mas é óbvio que tal interpretação não se ajusta à prática
universal das igrejas neotestamentárias. As epístolas de Paulo contêm os nomes
de muitas mulheres que se destacavam no trabalho da igreja em vários sentidos:
Lídia, Dorcas, Priscila, Trifena e Trifosa, Pérside, Júlia, Evódia, Síntique, e
outras. Esta epístola mostra-se explícita, entretanto, na proibição às mulheres
de falarem nas igrejas, subordinando-as à autoridade dos homens. Não há que
duvidar que a posição delas sofreu a influência dos costumes da época, à luz do
que as mulheres crentes teriam ficado sujeitas a críticas, por se mostrarem
conspícuas em público... Na prática real, apesar da igreja ter quase sempre
evitado consagrar mulheres como ministros (da Palavra), os grandes pendores das
mulheres têm sido usados como mestras, missionárias e uma multidão de outras
atividades.
O movimento
que tende por reconhecer completa igualdade entre homens e mulheres, no
trabalho da igreja, cresce a cada ano que passa; e a utilidade da igreja
aumenta à proporção em que maior número de posições é dado às mulheres
crentes... É óbvio que a disposição desta epístola é limitar o serviço das
mulheres na igreja, mas não em completo acordo com a atitude de Jesus, que era
de completo respeito e cavalheirismo para com as mulheres».
Talvez seja
difícil, para alguns crentes, perceberem que a presente passagem realmente
impõe completo silêncio às mulheres, não lhes permitindo qualquer posição de
liderança na igreja. Porém, este é o claro ensinamento do texto, refletindo as
estruturas sociais da sociedade daquele tempo, cujas características eram ainda
mais exageradas na sinagoga. A igreja cristã se tem mostrado correta em não
praticar literalmente a ordem aqui baixada; mas tem havido intérpretes
desonestos que procuram fazer esta passagem concordar com a prática da igreja,
quando, na realidade, esta passagem concorda com a prática da sinagoga, o que é
algo bem diferente.
«...ataviem...»
No grego é «kosmeo», que significa «pôr em ordem», «adornar», «decorar»,
«tornar atrativo». Faz parte da natureza feminina apreciar o belo, como também
procurar tornar-se atrativa, com adornos apropriados. O autor sagrado, porém,
limita essa atividade, para que as mulheres crentes fossem diferentes das
mulheres mundanas. O verdadeiro adorno, diz-nos o autor sagrado, são as «boas
obras». A piedade torna bela qualquer mulher; e isso de maneira importante e
duradoura, e não de modo sem importância e passageiro. Cumpre-nos notar que o termo
grego «kosmos» vem desse verbo. «Kosmos» significa o mundo organizado, a «ordem
de coisas» criada por Deus, o seu «adorno», a bela obra de suas mãos. Mas desse
termo grego também vem nossa palavra moderna «cosmético».
«...traje
decente...» No grego é «katastole», que pode significar ou «vestes», como uma
roupa para encobrir o corpo, ou «comportamento», como se a conduta fosse o
«vestuário das ações e das maneiras». Alguns intérpretes aceitam uma dessas
ideias, e outros aceitam a outra. Na verdade, há um vestuário «externo» e outro
«interno». Esse termo é usado exclusivamente aqui, em todo o N.T., sendo uma
daquelas cento e setenta e cinco palavras peculiares às «epístolas pastorais».
O mais
provável é que estejam aqui em foco as «vestes externas», as roupas femininas,
porquanto isso se coaduna melhor com a descrição do versículo, que enumera as
coisas que uma mulher deve vestir. O termo «...decente...», neste caso, é
tradução do adjetivo grego «kosmios» (que vem da mesma raiz que «ataviem»),
palavra que significa «respeitável», «honroso», «modesto», o contrário de
provocante, desrespeitoso, desonroso, isto é, vestes contrárias ao espírito de
adoração, o que poderia sugerir antes uma mulher da rua, uma prostituta, vestes
tipicamente mundanas, que quase sempre visam focalizar a atenção no aspecto
sexual da mulher. Mas esse mandamento vem sendo completamente desrespeitado
pela moderna igreja cristã, mostrando-nos a que nível baixo tem descido a
espiritualidade das nossas igrejas.
«...modéstia...»
No grego é «aidos», que quer dizer «reverência», «respeito», «modéstia». No
grego antigo, tal palavra era virtualmente usada como sinônimo de «aischune»,
«vergonha», indicando o senso de respeitosa timidez na presença de superiores,
ou indicando um respeito penitente para com aquele contra quem tivermos feito
alguma ofensa (ver Homero, Ilíada i.23). Homero também usou essa palavra para
indicar a disciplina militar. (Ver Homero, Ilíada, v.531). Por igual modo, era
usada para indicar o «respeito» devido aos pais ou a outras pessoas. Comenta
Lock (in loc.) «Está em vista aquele pejo que evita ultrapassar os limites da
reserva e da modéstia femininas». Esta é uma das trezentas e cinco palavras
usadas nas «epístolas pastorais», mas que não se acha nas «outras» epístolas
paulinas. Esse vocábulo ordena que as mulheres se retirem da atenção pública,
assumindo um espírito quieto, uma atitude respeitosa para com os homens e para
com os líderes da igreja. Também ordena que as mulheres não tentem impor-se,
mas antes, que permitam que os homens se ocupem de todas as funções da igreja.
Isso é tudo quanto podemos compreender deste vocábulo, a julgar pelo seu pano
de fundo «judaico». Fica exigida aqui, pois, certa forma de «recolhimento», da
parte das mulheres crentes, que não consideraríamos conveniente na igreja
evangélica atual.
Não nos
devemos esquecer que, naquela época, nos países orientais, uma mulher decente
nunca era vista em lugar público, exceto em alguns feriados especiais, ocasiões
em que ela permanecia virtualmente reclusa, já que seus amigos constantes eram
escravos e crianças. Extremamente poucas mulheres frequentavam escolas ou aprendiam
ao menos a ler e escrever. Portanto, dentro dessas condições sociais quão fora
de lugar seria deixar as mulheres fazer parte dos cultos públicos oralmente.
Nas sinagogas judaicas então isso seria um escândalo.
«...bom
senso...» No grego é «sophrosune», palavra comum que indica «moderação», a
«virtude áurea» dos gregos, que evitaria os vícios de excesso ou de
deficiência. Tal palavra fala sobre «autocontrole», aquilo que evita excessos e
que conserva a mulher em seu devido lugar, não lhe permitindo usurpar a posição
e as funções dos homens na igreja. Essa palavra também era empregada com o
sentido de «bom senso», visto vir de «sos» (seguro) e «phren» (mente). Envolve
o controle das paixões e dos desejos, a disciplina da mente e da própria
personalidade. Eurípedes chamou isso de «o melhor dom dos deuses» (Med. 632).
Aristóteles fazia dessa virtude um fator normativo em toda a ação ética,
intitulando-a de «virtude áurea». «Moderação» é o principal sentido que esse
termo tinha na filosofia grega; e até hoje, na igreja grega, essa virtude é
muito enfatizada. A prática da «moderação», tanto em contraposição ao
«ascetismo» como em comparação ao «excesso», é igualmente a «virtude áurea» do
cristianismo.
«...cabeleira
frisada...» No grego, literalmente, temos «...com tranças...». O termo grego
«plegma» significa qualquer coisa «trançada» ou «entretecida». E quando diz
respeito aos cabelos, tinha o sentido de «trançado». «Pleko» é a sua forma
verbal, que significa «trançar», «entretecer». Alguns intérpretes supõem que
está em foco
o costume de
entretecer adornos de ouro, de prata e de pedras preciosas nas madeixas dos cabelos.
Essa interpretação é possível, mas parece antes que o autor condenava a prática
inteira de mulheres a tentarem embelezar seus cabelos por meios artificiais,
como as trancas. (Ver I Pe 3:3, logo abaixo, onde essa prática
também é
condenada). Não há nenhum motivo para supormos, com base neste versículo, que a
igreja era rica, o que permitia às mulheres crentes exagerarem em seus
penteados. Todavia, as palavras em seguida, «...vestuário dispendioso...»,
permitem-nos compreender que, em alguns lugares, os crentes se tinham tornado
donos de consideráveis bens materiais. Facilmente podemos imaginar que isso
ocorreu em Éfeso, que era cidade onde fluíam muitas riquezas. O autor sagrado,
pois, luta em prol da simplicidade, em que a mulher use cabeleira solta,
natural. Paulo também ordena o uso de «cabelos compridos», em I Co 11:15.
Os judeus da
antiguidade (como lemos nos escritos de Josefo) tinham «cabeleireiras
profissionais». Certas tradições informam-nos que tanto Maria Madalena, como
Maria, mãe de Jesus, trabalhavam como «cabeleireiras»; mas não sabemos dizer se
essas tradições são autênticas ou não. Modos exagerados de vestimentas e
penteados, nos tempos antigos, tal como nos modernos, caracterizavam as
prostitutas. O trecho de Ap 17:4 pinta a grande «mãe das prostitutas», como
alguém assim adornada.
«...ouro...»
Talvez entretecido nos cabelos, usado como joia, ou ambas as coisas.
«...pérolas...»
Engastadas em joias, talvez também postas nos cabelos trançados. A maioria dos
intérpretes recomenda a «moderação» nessas coisas. O autor desta seção,
entretanto, parece que não queria que as mulheres usassem qualquer joia. Queria
total simplicidade e naturalidade.
«...vestuário
dispendioso...» Nem o substantivo e nem o adjetivo é empregado nas «outras»
epístolas paulinas. No grego é «imatismos», que significa «veste», sem qualquer
ideia ou sugestão quanto à sua qualidade ou preço, «...dispendioso...», no
original grego, é «poluteles», que significa «caro», «dispendioso», e cuja raiz
nominal significa «extravagância», «luxo». Em Éfeso e outros lugares, a igreja
pode conquistar alguns elementos das classes superiores; e, entre essas
pessoas, certas mulheres talvez tivessem resolvido ir à igreja a fim de «serem
vistas», algo bastante comum entre as mulheres. A «vaidade» das mulheres,
especialmente no vestuário, é um tópico comum entre os filósofos moralistas
latinos e gregos. (Comparar com 1 Pe 3:3).
2:10 mas (como convém a mulheres que fazem
profissão de servir a Deus) com boas obras. Existe uma maneira correta,
aceitável e desejável das mulheres se adornarem, isto é, com «boas obras».
Essas boas
obras são o «sinal» de um genuíno cristianismo. (Comparar com Ef 2:10 e Hb
10:24). Quando uma mulher age com caridade e bondade, isso adorna a sua pessoa
de forma duradoura e autêntica. Não precisa uma mulher crente de qualquer outro
adorno.
«...é
próprio...» No grego é «prepo», que significa «apropriado», «conveniente». Sim,
é «próprio» em contraste com os adornos mundanos, que são impróprios. Isso se
«coaduna» com a atmosfera do culto de adoração, com a atitude de piedade, ao
passo que os adornos artificiais são destruidores da piedade e da atmosfera
própria de adoração.
«...professam
ser piedosas...» Literalmente, «...professam piedade...» O uso de «epaggellomai»,
com o sentido de «professar» (reivindicar ser), se limita a estas «epístolas
pastorais». Normalmente essa palavra significa «promessa», «oferecimento». Até
mesmo em Tito 1:2, tal vocábulo tem esse significado. (Ver também At 7:5; Rm
4:21 e Gl 3:19).
«...piedosas...»
No grego é usado o substantivo «theosebeia», que significa
«reverência
a Deus», «piedade». A forma verbal significa «adorar a Deus». A raiz dessa
palavra é «theos» (Deus) e «sebomai» (sentir respeito, ter medo, adorar).
Portanto, as mulheres que adoram a Deus ou que o respeitam haverão de
adornar-se com boas obras, com a prática da adoração, e não com artifícios
externos. Esta é a única oportunidade em que essa palavra é usada em todo o
N.T., sendo uma daquelas cento e setenta e cinco palavras usadas exclusivamente
nas «epístolas pastorais».
As matronas
judias estavam acostumadas a dizer em altas vozes às jovens recém-casadas: «Não
há necessidade de pintura, não há necessidade de antimônio, não há necessidade
de cabelos trançados; pois ela mesma é belíssima». O «antimônio», referido
nessa citação, era uma preparação aplicada às pestanas, o que emprestava aos
olhos um brilho pronunciado. As noivas de Cristo deveriam ter como adorno a
piedade, de modo a não necessitarem de qualquer ajuda artificial que vise
somente ao corpo.
«Quantos
dólares são gastos com o luxo, para cada dólar gasto na causa de Cristo!»
(Doddridge, in loc).
«Elas, tal
como Dorcas, de Jope, cujo louvor se encontra no livro da Vida, 'deveriam ser
cheias de boas obras e de esmolas' (Ver At 9:36)». (Spence, in loc).
«Que vossos
corpos sejam isentos de decorações de meretrizes. Que vossas almas sejam
adornadas com abundância de boas obras». Agora o comentário de I Pe 3.3,4
3:3 O vosso adorno não seja enfeite exterior,
como as trancas dos cabelos, o uso de joias de ouro, ou o luxo dos vestidos,
As mulheres
crentes devem ser distintas e adornadas, mas não na ornamentação externa, e,
sim, pela beleza íntima do caráter cristão. Esse é o adorno que verdadeiramente
se faz necessário. Pedro dava a entender não que as mulheres devem ser
descuidadas em seu vestuário, porque isso chamaria para elas uma atenção
negativa. Também não é provável que estivesse proibindo o uso de joias. Antes,
ele advertia contra a ostentação nos penteados, no uso das joias e no modo de
vestir. Sua advertência pode ser comparada com o que se lê em Is 3:16-24, onde
o profeta denuncia as filhas de Sião que andavam altivas, de pescoços
esticados, com olhos dissipadores, a balançar as cadeiras e suas joias a tilintar,
ao darem os seus passos medidos. Paulo, em I Tm 2:9-12, nos dá uma denúncia
muito similar a essa, acerca da tendência das mulheres de exagerarem em seus
adornos artificiais. Não é provável que Pedro ou Paulo aprovassem o exagero das
mulheres no uso moderno dos cosméticos e dos estilos arrojados de vestes.
«...adorno...»
O verdadeiro sentido, neste caso, é penteados, maquiagem, uso de joias e
vestes, como algo meramente exterior. O verdadeiro adorno das mulheres crentes
é descrito no quarto versículo—um adorno espiritual, composto das riquezas da
alma, o que embeleza a mulher em seu caráter. O termo grego aqui empregado é
«kosmos», que tem os significados de «mundo», «ordem», «enfeite». A última
dessas significações está em foco aqui. Dessa palavra é que se deriva o termo
moderno «cosmético». Pode haver alguma conexão tencional, devido ao uso dessa
palavra, com a ideia de «mundanismo»; pelo menos Pedro quis dizer que a
ornamentação externa exagerada é sinal de mundanismo. Porém, visto que essa
palavra tem um sentido geral, podendo dar a entender o que é exterior ou
interior, não há qualquer tentativa verbal consciente para designar a
ornamentação como «mundanismo», por si mesma. «...frisado de cabelos...»
Juvenal, em suas Sátiras, vi., ridiculariza a extravagância dos penteados das
matronas romanas de seus dias. «Suas auxiliares votam quanto ao penteado como
se isso fosse uma questão de reputação, ou como se a vida estivesse em perigo,
tão grande é o valor que ela dá à questão da beleza; ela levanta muitas camadas,
ela ergue muitos andares de caracóis sobre a cabeça. Tona-se tão alta como
Andrômaca na frente, mas por detrás é baixa. Pensar-se-ia que ela é outra
pessoa».
O fato que
uma mulher podia fazer um alto penteado, como se fosse uma torre, significa que
ela tinha os cabelos longos; e isso é mais do que o que pode ser dito acerca de
muitas matronas modernas. Sabemos que as mulheres não se contentavam em pentear
os cabelos em penteados mirabolantes, mas também tingiam-nos e seguravam suas
madeixas com grampos de grande valor, encrustados de ouro, com pedras
preciosas. Eram usadas perucas, até mesmo louras. Pelo menos, quanto a esse
particular, «Nada há de novo debaixo do sol!» A história antiga mostra que as
mulheres gregas, bem como as de outras culturas antigas, não eram menos
vaidosas quanto a esse particular do que as mulheres romanas. Algumas vezes,
placas finas de ouro eram misturadas com os cabelos, refletindo a luz do sol;
ou, à noite, refletindo a luz das candeias, o que fornecia uma estranha cena.
Os alfinetes
de marfim, com pontas de pérola ou com corpos incrustrados de pedras preciosas,
eram comuns entre as mulheres das classes mais abastadas.
Mulheres
solteiras com frequência encaracolavam ou frisavam seus cabelos, formando uma
massa geral, ao passo que as mulheres casadas com frequência os partiam no
alto, acima da testa. Clemente de Alexandria, em Pai. III.xi, observa como as
mulheres temiam o sono, pois teriam a necessidade de descansar a cabeça sobre
algum travesseiro, e isso lhes estragaria o penteado. Na cultura judaica havia
cabeleireiras profissionais, cuja especialidade era frisar os cabelos de suas
clientes. Maria Madalena, segundo certas tradições, teria tido essa profissão;
e os judeus dizem que Maria, mãe de Jesus, também tinha essa profissão. (Ver
Misnah Sabbat., cap. 6, seção l). Não há como confirmar ou confutar essas
tradições.
«...adereços
de ouro...» Os ornamentos de ouro eram usados nos cabelos, na forma de redes
para os cabelos, braceletes, anéis, laços e argolas de tornozelo. As antigas
mulheres judias usavam uma espécie de coroa de ouro sobre a cabeça, na forma da
cidade de Jerusalém (ver Mishnah Sabbat., cap. 6, seção 1); e isso tanto antes
como depois da destruição daquela cidade.
«...aparato
de vestuário...» Essas palavras não proíbem o uso de roupas de boa qualidade,
nem encorajam o desleixo nas vestes. Antes, proíbem a tentativa de ostentação
deliberada, através do uso de vestidos bordados em ouro ou com joias, o que,
naturalmente, dariam a impressão de fausto, além de ser sexualmente
estimulante.
«Duas coisas
devem ser levadas em conta nas vestes, a utilidade e a modéstia. Portanto, não
se pode justificar a vaidade de uma mulher que usa os cabelos encaracolados ou
penteados extravagantes. Aqueles que fazem objeção e dizem que vestir-se desse
modo é questão indiferente, porquanto todos seriam livres para fazer o que bem
queiram, podem ser facilmente desditos; pois a elegância excessiva e a exibição
supérflua, em suma, todos os excessos, se originam de uma mente corrompida.
Além disso, a ambição, o orgulho, a afetação e todas as coisas semelhantes não
são coisas indiferentes. Por conseguinte, aqueles cujas mentes foram purificadas
de todas as variedades haverão de pôr devidamente em ordem todas as coisas, não
pecando contra a moderação». (Calvino, in loc).
Xenofonte
contava uma encantadora história em que um cavalheiro ateniense exprobrava sua
esposa por sua vaidade, pois ela esperava poder atraí-lo com seus sapatos de
saltos altos, pintando o rosto de rouge e branco. A esposa de Fócio, que foi um
célebre general ateniense, recebeu a visita de uma senhora finamente
ornamentada de pedras preciosas, cujos cabelos estavam adornados de pérolas e
tinham sido frisados. A esposa de Fócio naturalmente, observou o preço da
aparência de sua visitante, mas acrescentou: «Meu ornamento é meu marido, agora
general dos atenienses já por vinte anos». Para uma mulher crente, o seu
ornamento deve ser a espiritualidade obtida da parte de Cristo, o seu Senhor.
Os
intérpretes salientam que as santas mulheres do A.T. usavam joias (ver Gn
24:53) supondo que esta objeção é contra o excesso nessas coisas, e não contra
o uso completo de joias. E é bem provável que essa posição seja correta. Cada
crente deveria estar individualmente convencido para si mesmo, acerca de onde
traçar a linha entre a modéstia e o exagero, no que diz respeito ao que é
abordado pelo presente versículo. Se uma mulher crente se mostra cuidadosa a respeito
do decoro de sua alma, também terá o bom senso de como ornamentar a sua tenda
de carne.
3:4 mas seja o do intimo do coração, no
incorruptível trajo de um espirito manso e tranquilo, que é precioso diante de
Deus.
Melhor
tradução seria «pessoa interior», porquanto mulheres estão em pauta. A
expressão equivale àquela de Paulo, «homem interior» (ver Ef 3:16), que indica
a «verdadeira pessoa», a «alma». Essa «verdadeira pessoa» pode ser embelezada
tanto quanto o quiser uma mulher crente; e esse adorno consiste de um espírito
tranquilo e manso, isto é, essas são evidências—juntamente com outras coisas—de
desenvolvimento e de maturidade espirituais. Naturalmente, isso também se
aplica a homens crentes, porquanto aquilo na direção em que nos devemos
esforçar é a beleza da alma, porquanto, sem a santificação, ninguém jamais verá
a Deus (ver Hb 12:14).
O grego diz,
literalmente, «homem oculto», porquanto Pedro queria estabelecer o contraste
entre a «pessoa externa», que pode ser decorada com joias e artifícios, e a
«alma», que não aparece aos sentidos, mas que, não obstante, é real.
«...coração...»
Apesar do termo «coração» ser frequentemente usado para indicar a porção
«emocional» do homem, a alusão à alma ou verdadeiro eu é quase sempre inerente,
e isso é óbvio aqui também. O coração é aquela porção vital sem a qual a vida
física é impossível. Portanto, torna-se símbolo apropriado da verdadeira vida
do ser, investido na alma. O coração é a fonte da verdadeira fé (ver Rm 10:10);
podendo ser cegado (ver Ef 4:18); é a fonte de alegria e cântico (ver Ef 5:19);
deve ser singelo, mas é totalmente dedicado a Deus e a questões espirituais
(ver Ef 6:5 e Cl 3:22); pode condenar as ações do indivíduo ou aprová-las, pois
é dotado da função da consciência (ver I Jo 3:20,21). E também pode ser
obscurecido e endurecido, entrando em apostasia e esquecendo Deus inteiramente
(ver Rm 1:21 e 2:5).
«...incorruptível...»A
«joia imperecível» das autênticas graças cristãs, em contraste com tudo quanto
é físico, incluindo o ouro e as joias, que finalmente serão destruídas,
juntamente com todo o mundo físico. Essa é uma maneira poética de dizer-nos que
devemos buscar o que é celestial e eterno, pois todas as coisas terrenas são
corruptíveis e perecíveis, e, portanto, temporais.
A alma,
adornada pelas graças cristãs, torna-se imortal, tal como Deus é imortal, pois
chega a participar da própria modalidade da vida de Deus. (Ver as explicações a
esse respeito em Jo 5:25,26 e 6:57). A alma, ao obter essa natureza
imperecível, torna-se uma joia eterna, apropriada para que sobre ela seja posta
a coroa de Cristo.
«...espírito
manso...» O termo «espírito» parece ter aqui o sentido de «disposição»; mas
essa disposição deve ser compreendida como expressão do espírito ou alma da
mulher crente. A graça feminina que o evangelho exige é a gentileza, e a
gentileza feminina é algo de que este mundo cruel muito precisa. O trecho de Gl
5:23 alista a «gentileza» como um dos aspectos do «fruto do Espírito», pelo que
se deriva do desenvolvimento e da maturidade espirituais, não podendo ser
qualidade limitada exclusivamente—às mulheres.
«...tranquilo...»
A mulher crente aqui idealizada não é resmungona, rixenta ou bruxa. Sua conduta
deve ser simples e digna. Ela deve mostrar-se autoconfiante e temperada, dotada
de vida santa. A vida de uma crente assim é um sermão eloquente, embora talvez
nunca abra a boca para pregar o evangelho. Ela vale mais que rubis. (Ver Pv
3:15 e ss.) «Quem entre vós é sábio e entendido? Mostre em mansidão de
sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras» (Tg 3:13).
«...mansa,
gentil, tranquila (ver Mt 21:5; I Co 13:4; Ef 4:2; Cl 3:12; Mt 11:29; Tg 1:20;
3:13; I Co 4:21; Gl 6:1 e II Tm 2:24). É o contrário do espírito voluntarioso,
orgulhoso, presumido, obstinado, endurecido, iracundo e invejoso; antes, é
calmo, tranquilo, sem excitações apaixonadas». (Lange, in loc).
«...é de
grande valor diante de Deus...», isto é, as qualidades cristãs da esposa
crente. É isso que realmente a enriquece, bem como àqueles que entram em
contato pessoal com ela. O termo grego «poluteles» significa «caríssimo», sendo
usado em I Tm 2:9 a fim de descrever roupas caras. Não pode haver dúvidas que
Pedro alude ao «grande preço» das vestes e das joias. No entanto, é como se ele
dissesse: «Esses não são verdadeiros valores; os verdadeiros valores de uma
mulher crente são as graças cristãs, que sua alma obteve mediante o
desenvolvimento espiritual».
«...diante
de Deus...» As mulheres por muitas vezes usam vestes caras e penteados
exagerados a fim de atrair a atenção de outras pessoas: primeiramente, de
outras mulheres, e então dos homens. No entanto, deveriam preocupar-se com sua
aceitação diante de Deus, e não diante de outros seres humanos. O favor divino
pode ser obtido, e este versículo mostra-nos como uma mulher crente pode
fazê-lo.
«Pois, por
que as mulheres tanto cuidado mostram por se adornarem, exceto atraírem os
olhares dos homens para elas? Mas Pedro, pelo contrário, ordena que
elas anelem
por buscarem a aprovação diante de Deus, que é de grande valor».
Ideias
adicionais:
1. Devemos
preocupar-nos com o que é interno e espiritual, e não com o que é apenas
externo e terreno. No dizer de Sêneca: «Grande é aquele que usa sua louça de
barro como se ela fosse de prata; não menor é aquele que usa sua prata como se
ela fosse louça de barro».
2. «Deus dá
grande atenção aos mansos, humildes e tranquilos; ele eleva tais almas, quando
estão abatidas; ele faz com que as boas novas lhes sejam pregadas; ele aumenta
a alegria delas no Senhor; ele alimenta essas almas até à saciedade, quando
estão famintas; ele as guia no juízo, e as ensina os seus caminhos; ele as
elevará no julgamento, reprovando-as com equidade por amor a elas; ele dá maior
graça a elas e as embeleza com a salvação, levando-as a herdar a terra»
3. «Aprende:
Uma das principais preocupações de um verdadeiro crente jaz no reto ordenar e
comandar de seu espírito; onde termina o trabalho de um hipócrita, ali começa a
obra do verdadeiro crente». Pr . Magel
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